“ADOÇÃO NA PASSARELA”

OAB-MT se manifesta após polêmica de desfile em shopping de Cuiabá

Entidade diz que ação foi mal interpretada. “Crianças expostas como mercadoria” embasou críticas

por De Rondonópolis - Robson Morais

23 de Maio de 2019, 10h07

OAB-MT se manifesta após polêmica de desfile em shopping de Cuiabá
OAB-MT se manifesta após polêmica de desfile em shopping de Cuiabá

A repercussão negativa da ação "Adoção na Passarela" fez com que a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Mato Grosso e a Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) se pronunciassem. Em nota a alguns dos principais veículos de imprensa do país, as entidades se dizem mal interpretadas.

Na terça-feira 21, no Pantanal Shopping, em Cuiabá, crianças e adolescentes de 4 a 17 anos participaram do evento que, segundo os organizadores, tinha a intenção de "dar visibilidade" aos menores e chamar a atenção para a falta de interessados na "adoção tardia", isto é, as de crianças acima dos três anos de idade. Mesmo assim, o evento foi criticado nas redes sociais.

A nota

 "Em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes" e que eles não foram obrigados a participar da iniciativa. "Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse", diz o comunicado enviado.

Segundo os organizadores, a ação representa uma oportunidade para as crianças integrarem "uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária" e que o desfile foi apenas uma das ações da "Semana da Adoção", que é composta por "palestras, seminários e recreação para as crianças".

As instituições também esclarecem que as crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus "padrinhos" ou com seus "pais adotivos". "A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário", acrescenta a nota.

Em outro trecho do documento, CIJ e Ampara afirmam que na primeira edição do desfile, realizado em 2016, "dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão".

O shopping

A assessoria do Pantanal Shopping informou que "repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto".

Repúdio

Na tarde desta quarta-feira, 22, a Defensoria Pública do estado do Mato Grosso repudiou "veementemente" o evento. Na opinião do órgão, a iniciativa expõe as crianças e os adolescentes ainda mais à situação de extrema vulnerabilidade social.

"Corre-se o risco de que a maioria dessas crianças e adolescentes não seja adotada, o que pode gerar sérios sentimentos de frustração, prejuízos à autoestima e indeléveis impactos psicológicos", diz a nota. "O sonho de ser mãe ou pai deve ser tratado como um ato de amor e não como uma mercadoria a ser buscada numa vitrine", acrescentam os defensores públicos Márcio Bruno Teixeira Xavier de Lima e Cleide Regina Ribeiro Nascimento.

Repercussão

O desfile foi destaque nos principais veículos de imprensa do Brasil, como Veja, Estadão, Globo, e Época. Membro da Academia Mato-grossense de Letras (AML), o advogado Eduardo Mahon criticou o desfile e classificou o evento como ação equivocada.

"Um desfile de crianças a serem adotadas, me pareceu análogo a uma antiga feira de escravos. Evidentemente que guardadas as proporções, porque não é justo que haja essa comparação, eu reconheço. Mas não me pareceu eticamente o melhor caminho", afirmou em entrevista ao site G1.