Apelo aos amigos da ‘Esquerda’

por * Por Eduardo Ramos

10 de Fevereiro de 2016, 16h33

Apelo aos amigos da ‘Esquerda’
Apelo aos amigos da ‘Esquerda’

Sempre me defini uma pessoa de esquerda. O termo parece ter perdido sentido nos últimos tempos, abalado pelo bombardeio constante da 'Direita' e pelo desastre ético das administrações petistas - partido historicamente identificado ao que conhecíamos como Esquerda. Mas, a despeito disso tudo, continuo com aquele sentimento e considero que a divisão entre 'Esquerda' e 'Direita' é ainda uma forma eficiente para entender e reagir ao mundo que nos cerca.

Não vou ocupar o seu tempo descrevendo a evolução da terminologia, das assembleias francesas do século 18 até os dias atuais. Mas, para clarear a conversa, acho importante desenhar o perfil do que considero uma pessoa de Esquerda: É alguém que prefere Karl Marx à Adam Smith; que valoriza a produção em detrimento da especulação; que considera que o mundo pertence a todos os que o habitam. A pessoa de esquerda pode até aceitar que uns tenham mais que outros, mas exigirá que os privilegiados contribuam mais para o bem-estar dos que menos tem. E lutará sempre para que a diferença entre uns e outros seja a menor possível.

Quem é de esquerda desconfia de banqueiros, não se alia a corruptos e não teme avanços. Acha sempre que o trabalhador merece ser justamente recompensado, que o Trabalho deve prevalecer sobre o Capital e que a opinião do povo é sempre o melhor caminho para dirimir dúvidas.

Se você se identificou com pelo menos três características desse breve perfil, peço sua atenção especial. Você também é de esquerda e temos pela frente um desafio urgente e crucial para o futuro do Brasil. Tudo o que a Esquerda (assim mesmo, com 'E' maiúsculo) construiu está correndo o risco de cair por terra. É preciso reagir.

Em primeiro lugar precisamos nos libertar da ilusão que o atual Governo nos representa. Lula até ensaiou algo nesse sentido, Dilma nem isso. Ambos fizeram, nas respectivas gestões, uma clara opção pelos ideais e práticas historicamente associados à Direita. Inclusive no que diz respeito às promíscuas relações entre Estado e elites, visando se apropriar das riquezas e espoliar trabalhadores.

Os Governos Petistas são idênticos aos antecessores até na escolha dos métodos e parceiros nos escândalos de corrupção. No mensalão usaram um esquema de desvio de dinheiro inventado nas gestões tucanas de Minas Gerais. Nos demais escândalos os 'sócios' foram as mesmas empreiteiras, empresários e políticos que tungam o País desde antes da Ditadura Militar.

Lamento dizer que do ponto de vista ético os danos já são irreparáveis. A aura de honestidade antes atribuída às pessoas de esquerda esvaiu-se. Porém, mais grave que isso, é o risco de vermos destruído o próprio ideário da Esquerda - o que pode adiar por décadas a possibilidade de termos um Governo realmente popular e um País melhor para todos.

Esse risco pode ser observado no discurso que começa a ser adotado pela grande mídia (dominada pela Direita) para explicar a crise econômica. Sabemos que essa crise é fruto direto da submissão da Política Econômica ao corolário liberal e da corrupção generalizada. As investigações e condenações judiciais não deixam dúvidas que os petistas roubaram e deixaram roubar em praticamente todas as áreas. Bilhões foram e continuam sendo subtraídos dos cofres públicos; mas a Mídia, e os analistas econômicos escolhidos a dedo, preferem colocar a culpa nos poucos avanços sociais obtidos nos últimos anos.

Para eles o mal do Brasil não são os políticos e empresários bandidos, mas sim os recursos gastos com os pobres do Bolsa Família e os jovens do Prouni. Os 'vilões', dizem eles, são os trabalhadores, os desempregados, as viúvas desamparadas e os idosos que chegaram à aposentadoria. Eles defendem que, ao invés de promover o desenvolvimento das pessoas, devemos engordar especuladores e nos curvar ao insaciável e invisível 'Deus Mercado'. Usam a crise, que é real, para distorcer a realidade. Querem invalidar nossas bandeiras para legitimar a opressão.

Por tudo isso faço um apelo aos companheiros e camaradas da Esquerda: Uni-vos.

Fomos traídos, ok. Mas não podemos ficar paralisados por medo de admitir o erro. Uma luta árdua nos aguarda e, junto aos nossos conceitos e bandeiras, está em jogo o sonho de tornar nosso País e o mundo mais justos, iguais e solidários. Está na hora de nos levantarmos e ir à luta para desmontar a farsa.