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“A voz, o violão, a música de Vital”

Alagoano como Djavan, nosso “Zé Ramalho do Cerrado” rodou o Brasil para ser abraçado como artista rondonopolitano

por Robson Morais

15 de Junho de 2018, 14h18

“A voz, o violão, a música de Vital”
“A voz, o violão, a música de Vital”

Como Djavan, grande ídolo, Manoel Vital dos Santos, o Vital, nasceu em Alagoas, em 23 de junho de 1962. Em Mato Grosso do Sul, para onde se mudou ainda pequeno, foi criado em sítio ouvindo o pai e o irmão mais velho tirando notas em um acordeão. Não teve jeito, virou músico. Escolheu, porém, as cordas. Aos 12 anos já era artista profissional. Pelas estradas do Brasil, seguiu carreira por mais de quatro décadas até chegar a Rondonópolis. Ainda por aqui, toca na noite e pensa em retomar a função de professor de música em projetos sociais.

Foi tocando as músicas do conterrâneo, a quem é feita a devida homenagem no título desta matéria, que Vital começou a ser reconhecido. Aprendia com o também já citado irmão, hoje maestro. "Djavan divide os homens dos meninos", diz. E tem razão. "Eu tocava músicas do Djavan para os músicos, mas não essas mais comerciais, em linha reta. Eu gostava de tocar aquelas que ninguém entendia, dos anos 70", lembra. Foi assim, complicando cabeças, que sua estrada começou, ainda na adolescência.

Das viagens, também na época, se apresentou em Cuiabá. Logo em seguida se mudou para o Rio de Janeiro, levado por outro músico encantado com sua musicalidade. Retornou a Campo Grande, depois São Paulo, onde conheceu o Café dos Artistas, projeto de músicos na capital paulista. Lá, Vital conheceu empresários do ramo e tocou com o primeiro artista de peso nacional: Jair Rodrigues.

Vital era contrabaixista. Mais tarde, viria a acompanhar outros grandes nomes, como Ovelha e também a cantora Perla. Com esta última chegou a tocar no Paraguai. "Ela era mesmo diferenciada, fazia questão de esperar os músicos toda manhã para o café, dividia a mesa". Até o final da década de 1980, se mantinha neste círculo.

Ainda em 86, no Pará, tocou com artistas regionais do ritmo lambada -Pinduca, Raimundo Soldado, Solano- em regiões da garimpo. A partir de 87 tocou com bandas de baile em Paranavaí e Maringá, cidades do Paraná. Marca Registrada, Pérola Negra, Casa Branca, Sociedade Anônima foram alguns dos seus conjuntos musicais. Ficou pela região até o início dos anos 90.

Sempre com a sua música, Vital subiu o mapa. Foi para o Nordeste. Passou pela terra natal, Maceió, foi para Aracajú e tantos outros municípios. Em 93, ainda mais longe, parou em Manaus (AM), e seguiu para Porto Velho (AC) para tocar na banda Status, popular Banda do Vovô, grupo que acompanhou por um ano. Passado o período, resolveu descer para Camboriú (SC).

No caminho, chegando em Cuiabá, foi abordado em uma lanchonete por um desconhecido. O sujeito lhe deu o conselho: vá para Goiânia. E Vital foi, mudou o destino na hora de comprar a passagem. "Acabei indo para lá, onde fiquei e é um lugar que gosto muito. Como músico de MPB, me assustava quando me diziam que ali só havia espaço para música sertaneja", diz. "Mas ai eu conheci o grupo de pagode Raça Forte e acabei tocando este ritmo em alguns grupos por lá. Meu instrumento era o cavaquinho".

De Goiânia, outra cantora apareceu em sua vida. Tornou-se amiga. Com ela, Vital seguiu para Guarapari e região do Espirito Santo. De lá, passou por Porto Seguro e conheceu outro nome: João Ribeiro, dono de uma casa Brasília que o procurou e fez a sugestão de outro formato de show, somente com voz e violão. Destes tempos, um novo artista surgira.

Já no início dos anos 2000, no adiantar da linha cronológica de nosso personagem, Vital voltou a tocar em Mato Grosso, em Cuiabá e Chapada dos Guimarães. Foi então ouvido por pessoas de Rondonópolis. Pronto, mais um convite feito, desta vez para se apresentar e, quem sabe, ficar uns tempos por aqui. Entre 2005 e 2006, se apresentou no Grand Beer.

De volta a Cuiabá conheceu e atual esposa. Com ela, se mudou para o interior de Minas Gerais. Por lá, a convite de um pastor -Vital havia se convertido e sido batizado na Assembleia de Deus-, desenvolveu seu primeiro projeto social, dando aulas de música. Lecionou em escolas e chamou a atenção do poder público local. O projeto durou um ano e os alunos se apresentaram em recitais na cidade.

Também a convite, deu aulas em outras escolas de música. Já no final de 2012, com a troca de administração municipal, a escola foi fechada. Vital retornou para Campo Grande, onde ficou por um ano. Tempos depois tornou a se mudar para Rondonópolis e voltou a tocar nos bares da cidade.  

Por aqui, Vital retomou os projetos sociais, dando aulas de música gratuitas no Alfredo Castro, ainda com o Segundo Turno. "Dava aula do jeito que podia, a região é carente. A presidente do bairro abriu um espaço na varanda da casa dela para eu poder dar aula, e era o espaço que tinha. Não era o mais adequado, mas era o que tinha", conta. Em dois meses, os alunos fizeram sua primeira apresentação. As crianças mudaram o comportamento em casa, os pais e as mães elogiaram o professor.

Hoje Vital segue na noite, tocando e há quem lhe atribua novo apelido. O "Zé Ramalho do Cerrado", alcunha dada a ele pelo tom grave e imponente da voz, tem chamado a atenção nessa nova temporada de shows nos bares e restaurantes. A depender do reconhecimento do público, sua presença, música e talento tendem a serem cada vez mais frequentes.