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Orgânicos despertam apetite de investidores

Todo mês, o presidente da Organis recebe pelo menos quatro consultas de fundos de private equity interessados em investir no setor

por Redação com Jornal Estado de Minas

08 de Dezembro de 2017, 08h40

Orgânicos despertam apetite de investidores
Orgânicos despertam apetite de investidores

Eles buscam empresas inovadoras que tenham faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões. A missão não é fácil, já que boa parte dos negócios estão nas mãos de companhias de pequeno porte. Por isso, Liu tenta convencê-los a buscar empreendimentos menores, mas que tenham grande potencial para crescer.

Um dos negócios recentes que confirmam o interesse de grandes grupos nos orgânicos brasileiros foi a venda da Mãe Terra para a Unilever. Fundada em 1979, a Mãe Terra atua no segmento de produtos orgânicos e naturais e tem uma receita anual da ordem de R$ 100 milhões. O acerto levou um ano para ser fechado e foi anunciado em outubro sem revelar valores. Na ocasião, o presidente da Unilever, Fernando Fernandez, informou que o plano da multinacional é acelerar a expansão da Mãe Terra, que já vinha crescendo à taxa média de 30% nos últimos anos. Isso deve ocorrer com o aproveitamento das sinergias entre as duas empresas. Segundo a Unilever, o objetivo é dobrar a distribuição da marca em um curto período de tempo. Alexandre Borges, fundador da Mãe Terra, vai continuar à frente do negócio.

O potencial é mesmo gigantesco. Estima-se que os orgânicos movimentem por ano entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões no Brasil. Nos Estados Unidos, o valor passa de R$ 60 bilhões. Uma pesquisa recente mostrou que 15% dos brasileiros das principais capitais consome esses produtos regularmente - o maior mercado é a região Sul, que registra o dobro da média nacional.

Em 2014, a marca paranaense Jasmine, especializada na produção de alimentos funcionais, foi vendida para a farmacêutica japonesa Otsuka, que passou a exercer o controle sobre a empresa por meio da subsidiária francesa Nutrition&Santé. No ano passado, seu faturamento foi de R$ 135 milhões e neste ano foram investidos R$ 10 milhões na produção de pães sem glúten, uma das apostas da companhia no exterior e no Brasil.

Outra multinacional que busca aproveitar o crescimento consistente dos orgânicos é a Nestlé. Há pouco mais de um ano, a multinacional suíça passou a incentivar a produção de leite orgânico e começou a desenvolver um projeto com agricultores da região de Araraquara (SP). O gado leiteiro não pode consumir alimentos que tenham utilizado adubo químico ou agrotóxico e deve ser medicado com homeopatia ou fitoterápicos.

Quando o projeto foi apresentado, 50 produtores de leite se interessaram em aderir, mas apenas 11 entraram na fase inicial porque nem todos tinham condições de adequar a propriedade às exigências para obter a certificação orgânica. Agora, já são 27 fazendas contratadas, que produzem 21,5 mil litros por dia. O projeto faz parte da iniciativa da empresa, em parceria com a Embrapa Sudeste e o Instituto Mokiti Okada, de incentivar a produção de leite orgânico em larga escala no Brasil e influenciar toda a cadeia do produto. O plano é alcançar 30 mil litros por dia no primeiro semestre de 2019, quando passará a comercializar o leite orgânico.

Fiel e engajado "Grupos como Coca-Cola, Mondelez, Danone, Kellog's, Pepsi e Nestlé têm se movimentado nessa direção no exterior, por isso é de se esperar que haja uma procura por negócios no Brasil ligados à linhas naturais", diz Ming Liu. O foco dos investidores, segundo ele, são empresas inovadoras em suas áreas de atuação. O problema, diz, é o tamanho que esses negócios devem ter para se encaixar nos planos dos investidores. "Isso restringe as buscas a poucas empresas. Hoje temos marcas como a Native, do Grupo Balbo, que é a maior produtora de açúcar orgânico do mundo, e a biO2, que atua no segmento de cereais", diz.

A Native foi pioneira no lançamento do açúcar orgânico, há duas décadas. Na época, a mudança na forma de produção da cana-de-açúcar incomodou outros usineiros, que seguiam o método tradicional e consideravam o empresário Leontino Balbo um louco por reflorestar as áreas desmatadas e fazer o controle de pragas de forma natural. Hoje em dia, a empresa tem uma família de produtos, que vai do café ao achocolato.

Em parte, o aumento da oferta de produtos orgânicos no país tem a ver com a demanda do varejo, explica Susy Yoshimura, gerente de sustentabilidade do Pão de Açúcar. A empresa começou a comercializar esse tipo de produto há duas décadas e hoje, segundo a executiva, as lojas oferecem alternativas orgânicas na maioria das categorias - desde itens como palmito, azeite, sucos, biscoitos e massas, até os mais inusitados, como água de coco, energético, macarrão integral e vinho. São cerca de 1 mil itens cadastrados em toda a rede, vindos de aproximadamente 100 fornecedores, e desde 2011 há gôndolas exclusivas para expor essas mercadorias.

Apesar dos efeitos do aumento do desemprego no país, Susy diz que as vendas de orgânicos - que custam mais que os produtos tradicionais - não estão expostas às condições da economia. "Os compradores de orgânicos são fiéis e já consolidaram a categoria em sua cesta frequente de compras, dificilmente fazendo substituições. Trata-se de um consumidor engajado, que valoriza os orgânicos e os consideram essenciais para a saúde e o bem-estar."