CONTRA JANOT

Nova estratégia de Temer é atacar direta e pessoalmente seu principal acusador

por GazetaMT

28 de Junho de 2017, 10h36

Nova estratégia de Temer é atacar direta e pessoalmente seu principal acusador
Nova estratégia de Temer é atacar direta e pessoalmente seu principal acusador

Que o presidente Michel Temer usaria de todas as ferramentas imagináveis ante denúncias de corrupção e comprovação de seus conluios políticos com a mais alta bandalheira do país era de conhecimento geral da nação. A nova estratégia, usada ontem, 27, pronunciamento, porém, é de se admirar. Chega a surpreender o ataque direto do chefe maior da República ao Procurador Geral Rodrigo Janot, seu atual e mais implacável algoz.

Ao vivo de Brasília, Temer, após horas de discussão junto aos aliados, empunhou as armas. Cercado de ministros e parlamentares de sua base governista, foi pra cima do procurador e o criticou pela mais recente denúncia levada ao Supremo Tribunal Federal. Mais que isso, atacou no campo pessoal, logo após reforçar que sua preocupação com as denúncias é "mínima".

Temer desqualificou as provas apresentadas, entre elas as gravações entregues à polícia por Joesley Batista, empresário recebido pelo presidente na calada da noite no Palácio do Jaburu. "Criaram uma trama de novela. A denúncia é uma ficção", disse de forma geral.

Contra Janot, Temer insinuou que o procurador pode ter se beneficiado com a delação premiada da JBS, afirmando que "um assessor muito próximo" e "homem de estrita confiança" da PGR seria suspeito por ter deixado a procuradoria para trabalhar "em uma empresa que faz delação premiada" (Temer se referiu a Marcelo Miller, assessor e ex-procurador da República). Para Temer, o procurador-geral da República criou uma nova categoria de denúncia. "Percebo que reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação. Se alguém que conheço cometeu um crime, ou se tiro uma foto ao lado de alguém, a nova ilação é que sou criminoso", disse o presidente.

Janot respondeu em nota. "Ninguém está acima da lei", destacou. Pelo tom, garantiu que se manterá no encalço do presidente até que o mesmo seja retirado do cargo. "A denúncia é pública e baseada em fartos elementos de prova, tais como laudos da Polícia Federal, relatórios circunstanciados, registro de voos, contratos, depoimentos, gravações ambientais, imagens, vídeos, certidões, entre outros documentos, que não deixam dúvida quanto à materialidade e a autoria do crime de corrupção passiva. A peça foi submetida à análise do Supremo Tribunal Federal e seguirá o trâmite previsto na Constituição Federal", disse.

Sobre as declarações de Temer a respeito do ex-procurador da República Marcello Miller, Janot informou que ele não atuou enquanto procurador no acordo de delação premiada que gerou a investigação contra o presidente.

Antes a estratégia adotada por Temer era a de se manter o mais possível discreto ante as denúncias, minimizando, ao menos publicamente seus impactos. O jogo, desde ontem, mudou. O presidente, enfim, tirou o pano e mostrou os dentes.

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A linha entre a coragem e o desespero total é tênue. Janot deverá saber fazer bem o jogo do presidente.