ESTUDOS

Cientistas conseguem 'provocar' autismo em macacos para estudar novos tratamentos

por G1

14 de Junho de 2019, 08h21

Cientistas conseguem 'provocar' autismo em macacos para estudar novos tratamentos
Cientistas conseguem 'provocar' autismo em macacos para estudar novos tratamentos

Cientistas da China e dos Estados Unidos usaram uma técnica de edição de genoma para que macacos tivessem uma mutação ligada ao autismo. Após a intervenção, os animais passaram a demonstrar um comportamento semelhante ao dos humanos com o transtorno - acordaram diversas vezes durante a noite, tiveram dificuldade em se relacionar com outros macacos e desenvolveram atos repetitivos.

Com o experimento, publicado nesta segunda-feira (12) na revista científica Nature, poderão ser descobertos novos tratamentos para pacientes com autismo.

Como a pesquisa funciona

Segundo os pesquisadores, muitos genes podem ter associação com o transtorno: um dos principais é o Shank3. A proteína codificada por ele é encontrada nas sinapses (ligações entre os neurônios), especialmente na parte do cérebro relacionada à coordenação motora, à motivação e ao comportamento.

Usando a técnica chamada de CRISPR, cientistas de centros de estudo chineses e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conseguiram localizar a sequência do DNA que deveria ser modificada, para editá-la. Assim, puderam provocar uma mutação no Shank3 e fazer com que os macacos tivessem a carga genética associada ao autismo.

Os animais pesquisados manifestaram comportamentos típicos do transtorno, como a dificuldade de socialização e a estereotipia (repetição de atos, como ficar se balançando). Exames mostraram também uma atividade menor no thalamus, região do cérebro relacionada a questões sensoriais e motoras.

Ratos x macacos

Essa mesma técnica já havia sido usada em ratos - mas sem surtir o efeito esperado. Os roedores não têm o córtex pré-frontal tão desenvolvido, e essa é uma região importante para os primatas, relacionada à concentração e à interpretação de sinais sociais.

"Os testes em ratos continuam sendo importantes, mas acreditamos que os modelos genéticos em macacos vão nos ajudar a desenvolver remédios melhores e talvez até terapias genéticas para alguns tipos mais severos do transtorno”, explica Robert Desimone, um dos autores da pesquisa.

Esperança para novos tratamentos

A técnica aplicada em macacos pode ajudar a criar melhores opções de tratamento para o autismo. Ainda não há, no entanto, a garantia de que esse estudo vá levar a medicamentos seguros e eficazes.

Segundo Guoping Feng, membro do MIT e de Harvard, no próximo ano, saberemos se as descobertas do laboratório serão usadas nas clínicas.

Quais as características do autismo?

A nomenclatura mais moderna, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, é mesmo a sigla “TEA”. É um "guarda-chuva" que inclui pessoas em diferentes condições.

No chamado “autismo clássico”, que costuma ser diagnosticado por volta dos 3 anos de idade, os sinais mais comuns são:

ter dificuldade em interação social, como não olhar para o interlocutor ou manter uma distância grande dele;

não compartilhar interesses e experiências com os outros;

não reagir a emoções, como por exemplo a criança que vê que a mãe se machucou, mas não faz carícias ou dá beijo para consolá-la;

fazer movimentos repetitivos;

não desenvolver a linguagem oral ou apenas repetir frases ouvidas;

necessitar de uma rotina muito inflexível, sem mudanças em caminhos para a escola ou ordem de compromissos na semana.

No outro extremo, chamado Síndrome de Asperger, o desenvolvimento da linguagem pode até ser equivalente ao da média das crianças. Mas há sinais como:

desinteresse em compartilhar gostos;

dificuldade em socialização;

falta de empatia ou de ter reações em grupo;

interesse por assuntos muito específicos;

comportamento repetitivo;

sensibilidade alta ou baixa nos 5 sentidos (como irritação em ambientes barulhentos).