HIDROTÉRMICO

Tratamento natural garante exportação de manga para mercados exigentes

Uso de produtos químicos para combater a mosca-das-frutas era obstáculo às exportações

por Redação com assessoria MAPA

06 de Fevereiro de 2019, 16h32

Tratamento natural garante exportação de manga para mercados exigentes
Tratamento natural garante exportação de manga para mercados exigentes

O tratamento hidrotérmico de frutas possibilitou a exportação de 25 toneladas de mangas brasileiras para a África do Sul, depois de cinco anos de negociações. O método consiste em mergulhá-las em água aquecida evitando, assim, o uso de químicos. A tecnologia foi desenvolvida por uma rede de pesquisa liderada pela Embrapa e permite contemplar exigências dos principais mercados importadores, que não aceitam a aplicação de produtos químicos no controle da mosca-das-frutas (Ceratitis capitata). A praga é uma das maiores ameaças à fruticultura atingindo diversas variedades de frutas.

Durante muito tempo, o Brasil só usava o controle químico para combater a praga, prática que chegou a fechar portas de mercados consumidores que adotam barreiras fitossanitárias exigentes. A técnica brasileira foi adaptada de um tratamento utilizado em países, como o México, e consiste em mergulhar frutas de até 425 gramas em água aquecida a 46ºC por 75 minutos e frutas entre 426g e 650g, por 90 minutos. O procedimento elimina ovos ou larvas do inseto.

O trabalho dos cientistas brasileiros foi desenvolver parâmetros para as condições nacionais no combate à mosca-das-frutas, já que a técnica só era utilizada para outras pragas.

Além do tratamento hidrotérmico, foi indicado o monitoramento das populações da mosca no campo, a fim de subsidiar o combate feito com métodos isentos de químicos, como a instalação de iscas no pomar e outras técnicas de manejo integrado de pragas (MIP). O sucesso levou a um novo modelo brasileiro de certificado fitossanitário, que abriu à fruticultura nacional também os mercados da Coreia do Sul, Japão, Chile, Argentina, Estados Unidos, União Europeia e, recentemente, da África do Sul.

A rede de pesquisa responsável pelo desenvolvimento da técnica é composta por especialistas da Embrapa, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB/USP) e da biofábrica Moscamed Brasil, com a supervisão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e o apoio da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport).

Vale das frutas

A região do Vale do Rio São Francisco é o principal polo frutícola do País, em especial de mangas das variedades Tommy Atkins, Kent, Palmer e Keitt. Em 2009, por suas uvas de mesa e manga de qualidade diferenciada, recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o selo de Indicação de Procedência, requerido pelo Conselho da União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco (Univale).

Segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o Vale do São Francisco é responsável por 90% da manga brasileira exportada e gera 200 mil empregos diretos. "De janeiro a setembro de 2018 as exportações totais de manga somaram US$ 93,43 milhões. Dos 93 mil hectares plantados em 2017, 35.630 hectares produzem manga", informa Eduardo Brandão, da Abrafrutas.

Os Estados Unidos são o principal consumidor individual de mangas do Brasil, com uma particularidade, ficando atrás somente da Alemanha, que serve como hub [central de distribuição] para os demais países da Europa.

"Sabemos que o mercado da África do Sul tem muito potencial, porém ainda é cedo para falarmos em volume anual de exportação. Até o momento, são quatro empresas credenciadas e a Abrafrutas trabalha para aumentar esse número. A primeira remessa foi enviada pela empresa Argofruta", conta Eduardo Brandão.