problemas climáticos
Abastecimento de milho ainda preocupa setor produtivo, diz Cesário Ramalho
De acordo com previsões, na safra 2016/17, a produção brasileira de milho deverá ficar perto de 100 milhões de toneladas
16 de Setembro de 2016, 09h45
O Brasil continua enfrentando uma crise de abastecimento de milho causada, principalmente, por problemas climáticos. Soma-se a isto o fato de o Brasil produzir uma tonelada do cereal para cada uma e meia tonelada de soja.
"Essa relação nos preocupa bastante, porque o consumo de proteína animal cresce assustadoramente, com destaque para a Ásia, demandando 70% de milho e 30% de soja para produzir a ração destes animais", analisa Cesário Ramalho, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e presidente do Conselho do Global Agribusiness Forum (GAF).
Ele comenta que o País tornou-se um grande exportador mundial de milho, e de carnes bovina, suína e de frango, além de soja: "Precisamos produzir mais milho, sem reduzir a produção de soja, afinal, temos muitas áreas a serem exploradas, de pecuária, principalmente, no Brasil inteiro".
Segundo Ramalho, o Brasil deve conquistar novas terras e plantar mais milho, "pois não temos produção suficiente para atender à demanda mundial e acompanhar o crescimento demográfico da população, em especial o aumento da classe média".
Para o vice-presidente da Abramilho, de uma previsão inicial de 82 milhões de toneladas, na safra 2015/16, o País deverá produzir 78 milhões de toneladas, sendo que mais de 30 milhões serão exportadas.
ABERTOS PARA EXPORTAR
"Precisamos estar abertos para exportar, afinal de contas, temos clientes. Isto porque o milho brasileiro está valorizado e, sob o ponto de vista técnico, da qualidade, é muito melhor que o milho norte-americano. O nosso é mais consistente, mais duro, tem maior rendimento e melhor retorno", pontua Ramalho, salientando ainda que o Brasil abriu mais espaço no mercado de frango, devido à gripe aviária nos Estados Unidos.
"De acordo com previsões, na safra 2016/17, a produção brasileira de milho deverá ficar perto de 100 milhões de toneladas, o que é um grande incremento, mas tudo depende dos fatores climáticos", pondera.
Apesar do otimismo, ele diz que, "por enquanto, estamos passando por uma crise; os preços do frango e do milho ficaram mais caros". E acrescenta: para atender à demanda ascendente, a solução é produzir mais, "para diminuir este estresse".
ALERTA PARA AGROINDÚSTRIAS
No entendimento de Ramalho, por ora, o milho continuará caro, pois há muita demanda e pouca oferta, e também "porque o mercado brasileiro e as grandes empresas como BRFoods, JBS, entre outras, ainda não se conscientizaram que têm de comprar o milho, no primeiro semestre, para assegurar o abastecimento para o segundo".
"Antes, isto não ocorria, porque o governo subsidiava, ou seja, era como se desse de presente para eles (agroindústrias), mas quem guardava o milho, na verdade, éramos nós, os produtores rurais. E isto está errado", critica.
Para reforçar esta relação entre agroindústrias e produtores rurais, Ramalho conta que, em uma reunião recente no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o ministro Blairo Maggi deu o seguinte recado: "Olha, tratem de se virar para guardar o milho de vocês, porque o produtor não vai mais guardar".
De acordo com o vice-presidente da Abramilho, a JBS, por exemplo, é a maior produtora de frango do mundo e a BrFoods compra 10% do milho brasileiro: "Então, como é que agroindústrias de grande porte, como elas, não tinham uma avaliação de que ia faltar milho, já que todo mundo sabia?", questiona.
"Estamos todos trabalhando, o Paolinelli (ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho e membro da Academia Nacional de Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura) 'está em cima' para não liberar o imposto na importação e também para não criar o imposto sobre a exportação", adianta.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Ramalho revela que a Abramilho fechou uma parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (MG) e a Fundação Dom Cabral (de Belo Horizonte) para realizar uma análise do mercado de milho, englobando as demandas atual e futura, produtividade, produção, regiões onde as variedades estão mais adaptadas, entre outros aspectos. Mas segundo ele, o governo federal rejeitou o estudo.
"Agora, estamos felizes, pois o ministro Blairo Maggi encaminhou o estudo para a assessoria dele, que vai trabalhar em conjunto com a Abramilho, desenvolvendo um plano para o aumento da produção de milho, por meio da iniciativa privada e não do governo", informa. "Queremos apenas um apoio, um suporte do governo para a criação de uma política pública de preço mínimo."