REDUÇÃO

Safra de grãos pode sofrer queda de 9% em 2018 no país

Pacote de problemas deve derrubar a safra de grãos, frustrando as expectativas de um novo recorde na produção

por Folha de S. Paulo

16 de Novembro de 2017, 10h28

Safra de grãos pode sofrer queda de 9% em 2018 no país
Safra de grãos pode sofrer queda de 9% em 2018 no país

Após ter alcançado 241,6 milhões de toneladas na safra 2017, a primeira estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano que vem, referente a outubro, indica que a próxima safra atingirá 220,2 milhões de toneladas, ou 8,9% a menos. Milho é a cultura mais atingida e produtores estimam que 30% da segunda safra será plantada fora da janela ideal, ampliando a chance de problemas.

De acordo com o IBGE, a queda é atribuída à falta de chuvas e também à má distribuição delas, diferentemente do que ocorreu na safra 2017. "O clima neste ano não está igual ao do ano anterior. O plantio está atrasado em algumas regiões e estimamos que as condições climáticas em 2018 não sejam tão boas como as deste ano", disse Carlos Alfredo Guedes, gerente de agricultura do IBGE.

Além da questão climática, no fim do ano passado -quando foi plantada a safra deste ano- os preços do milho estavam bons, e a área destinada à produção da primeira safra cresceu, ao contrário do que ocorre neste ano, com preços baixos e consequente redução de área.

Com a falta de chuvas, o plantio foi atrasado, o que retardará também o milho de segunda safra, que será plantado num período menos propício e com mais chances de enfrentar problemas climáticos e de produtividade.

A queda na primeira safra de milho pode ser de 16,2% e, na segunda, de 13,6%, o que representa cerca de 9,5 milhões de toneladas.

"No ano passado, tivemos a maior produtividade em todos os tempos em todos os lugares. O clima colaborou muito para soja e milho, mas agora está diferente. Tivemos atraso generalizado por causa da seca", disse Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), do principal Estado produtor de soja.

Segundo ele, o clima ainda pode colaborar para uma boa safra, mas provavelmente não atingirá a do ano passado. A projeção é que sejam colhidos 30,6 milhões de toneladas de soja, ante os 31,2 milhões da safra 2016/17.

Com a seca, produtores ainda estão plantando, o que tradicionalmente ocorre em setembro e meados de outubro. A janela ideal de plantio termina na próxima semana.

O atraso vai ocasionar efeito-cascata, retardando o plantio de milho de segunda safra. A estimativa é que 30% sejam plantados fora da janela ideal, ampliando a chance de problemas.

Para produtores, existe ainda a possibilidade real que em 2018 ocorra o La Niña, fenômeno que pode causar seca no Sul e chuva acima da média no Centro-Oeste.

Redução

No Paraná, a expectativa é que a safra de soja apresente redução de 1% no próximo ano em relação à deste ano.

Se for confirmada, produzirá 19,5 milhões de toneladas, ante as 19,8 milhões da safra anterior, segundo o economista Marcelo Garrido, do Deral (Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná). "Vai ser difícil repetir uma safra como a do ano passado", disse.

Já a primeira safra de milho paranaense teve redução de 34% na área e 38% na produção. Apesar do índice, Garrido disse que a queda no milho não preocupa, pois produtores estão deslocando a produção para a segunda safra -que só começará a ser plantada em dezembro.

Apesar da queda na produção, ainda não é possível calcular o impacto que haverá nos preços, o que dependerá de fatores como exportações e cotações internacionais, segundo Guedes. "Os estoques estão cheios. Tem muita gente estocando, esperando o preço melhorar. Mesmo tendo uma safra menor, pode ser que o preço não reaja."

O total previsto na estimativa inicial, embora a perspectiva seja de redução em relação à safra de 2017, é superior ao aferido no primeiro levantamento: 220,2 milhões de toneladas para 2018, ante 209,3 milhões em 2017.