RONDONÓPOLIS

“A Santa Casa posa de coitada”, diz Zé do Pátio após nova paralisação

Em coletiva, prefeito comentou suspensão dos atendimentos da oncologia; “Danos físicos e psicológicos”, alertou secretária de Saúde

por De Rondonópolis - Robson Morais

14 de Março de 2019, 08h47

“A Santa Casa posa de coitada”, diz Zé do Pátio após nova paralisação
“A Santa Casa posa de coitada”, diz Zé do Pátio após nova paralisação

Coletiva de imprensa ocorreu ontem, na Prefeitura. Foto: Sirlei Alves/GazetaMT

 

Em coletiva de imprensa, o prefeito de Rondonópolis José Carlos do Pátio -SD comentou a suspensão de atendimentos oncológicos no Núcleo de Terapia Especializada em Cancerologia (Nutec), para pacientes de toda a região sul/sudeste, mais uma crise entre a direção da Santa Casa do município. Poderes Executivo e Legislativo seguem em impasse contra a diretoria da unidade de saúde, que seguidamente fecha as portas de suas alas.

Pátio esteve acompanhado dos vereadores Fábio Cardozo -PPS e Reginaldo Santos -PPS, ambos membros da Comissão de Saúde do Poder Legislativo. Também participaram o procurador geral do município Anderson Godoi e a secretária de Saúde de Rondonópolis, Izalba Albuquerque.

Izalba Albuquerque. Foto: Sirlei Alves/GazetaMTO Nutec é mantido com recursos federais, entre R$ 210 mil e R$ 230 por mês. Em fevereiro, o dinheiro foi repassado ao hospital e ele, por sua vez, não realizou o pagamento para a empresa que presta os serviços de oncologia na cidade. Os pacientes da oncologia são de toda a região Sul do Estado. "Há pacientes que podem perder todo o progresso do tratamento. Isso representa danos físico e psicológico enormes", alertou a secretária municipal de Saúde, Izalba Albuquerque.

Como o recurso é federal, o município de Rondonópolis não pode intervir diretamente, nem mesmo realizar o pagamento com recurso próprio, como já fizera em outras situações, explica o procurador-geral. Por meio da Procuradoria, a administração municipal irá apresentar denúncia formal no Ministério Público e no Ministério da Saúde. "Representar para que fiscalizem o que está acontecendo por aqui. São essas as ações de momento", resumiu o Anderson Godoi.

"Posa de coitada"

Pátio foi mais duro em sua crítica. Repetiu o tom já adotado em outrora. "O problema é estrutural, é uma coisa histórica. A Santa Casa posa de coitadinha e coloca até a classe política como vilã", disse. "No ano passado, o ex-governador Pedro Taques já havia dado ate um plus financeiro de mais de R$ 3 milhões e mesmo assim nada se arrumou. O problema é a gestão".

Durante a coletiva, o prefeito citou outros casos de paralisação da Santa Casa e fez o alerta. "A cardiologia também está atrasada. É uma conquista de Rondonópolis que corre o risco de no próximo mês ter as portas fechadas". Segundo Pátio, Rondonópolis adiantou recentemente quatro meses em repasses municipais para o Hospital. Recurso próprio. "Se eu dependesse da Santa Casa para os trabalhos públicos da Saúde, nossa fila de doentes estaria imensa. Isso porque a Santa Casa não tem compromisso. E ela vem maquiando toda a situação".

E no meio, o povo!

Ainda na coletiva, já posicionado para as câmeras de TV, o prefeito reafirmou a maioria das citações acima. Reportagem do GazetaMT, foi questionado sobre a troca de ataques entre administração municipal e diretoria da Santa Casa:

GMT: Prefeito, o senhor já sugeriu que a situação era caso de polícia, a Santa Casa já acusou a prefeitura de fazer lobby político segurando recurso no fundo municipal para chamar a imprensa, hoje o clima é este sem harmonia. No meio dessa situação está o cidadão, que não encontra resposta nem de um lado e nem de outro. Para além das questões jurídicas ou técnicas, o que a administração municipal tem a dizer para esta poulação? O que frazer?

Pátio: O que fazer? Exatamente o que fazemos sempre. Nossa administração já adiantou recurso, paga tudo em dia. Desta vez, novamente, eu sugeri pagar mas não posso, pois o recurso é federal e já foi pago. De coitada a Santa Casa não tem nada (...) O ex-governador Pedro Taques enviou recurso de R$3,5 milhões e o serviço não veio. Mauro Mendes a mesma coisa.

GMT: A Santa Casa é um "ralo", prefeito?

Pátio: Quanto a isso eu prefiro evitar conceitos. Isso é um pensamento seu, não meu.

Outro lado

Na tarde de ontem, enquanto acontecia a coletiva de imprensa, a Santa Casa comunicou à imprensa que emitiu uma contranotificação ao Nutec. Abaixo a íntegra do documento:

Face a comunicação feita por Vossas Senhorias quanto a paralização dos serviços de oncologia pela NUTEC - Núcleo de Terapia Especializada em Cancerologia de Rondonópolis S/S Ltda, a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis vem expor e contranotificá-la, como segue:

Os serviços prestados pela NUTEC - Núcleo de Terapia Especializada em Cancerologia de Rondonópolis S/S Ltda, a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis, são regulados pelo Contato n° 001, firmado em 30 de agosto de 2006, prorrogado até então face a existência de "interesse público", conforme previsto em sua cláusula 8.1.

Nos termos do aludido contrato de prestação de serviços a NUTEC - Núcleo de Terapia Especializada em Cancerologia de Rondonópolis S/S Ltda, vem prestando os serviços a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis ao longo de mais de 12 (doze) anos, portanto inegável o conhecimento amplo da Prestadora de Serviços quanto aos termos contratuais.

Nos termos do aludido contrato (CLÁUSULA QUINTA - DO VALOR FINANCEIRO) o pagamento dos serviços pela Santa Casa a NUTEC deve ser realizado após o repasse dos recursos financeiros pelo Ministério da Saúde, sob pena da cobrança de juros de 1% ao mês e Multa de 2% ao mês. Portanto, em caso de inadimplemento da Santa Casa a NUTEC tem os meios legais para cobrança de seu crédito, como qualquer prestador de serviços.

Por outro norte, caso não seja de interesse da NUTEC a manutenção da prestação dos serviços, a cláusula nona do contrato é clara ao dispor que o "contrato poderá ser denunciado por qualquer dos partícipes, com antecedência mínima de 30 (trinta) dias", não havendo qualquer previsão legal para suspensão dos serviços.

A fixação de prazo mínimo para rescisão do contrato dá-se por um motivo justo e perfeito, qual seja, oportunizar a Santa Casa buscar outros meios ou parceiros para a prestação dos serviços, de modo a não deixar o destinatário final dos serviços, a parte mais importante da relação, desassistida, qual seja, os pacientes oncológicos que necessitam do tratamento.

Como se pode verificar a NUTEC extrapola qualquer direito ao comunicar unilateralmente, sob qualquer pretexto que seja, a suspensão dos serviços pactuados com a Santa Casa, haja vista inexistente tal previsão contratual ou legal, o que é agravado ainda mais quando leva a público por matérias jornalísticas tal situação, apenas para desgastar a imagem da instituição.

Por outro norte, mesmo que se admitisse como manifestação de vontade da NUTEC em rescindir o ou mesmo a rescisão do Contato n° 001 de prestação de serviços oncológicos, firmado em 30 de agosto de 2006, o que se admite apenas para fins de argumentação, tal comunicação deverá ser feita com prazo mínimo de 30 (trinta) dias anteriores à interrupção dos serviços.

É fato público e notório as dificuldades financeiras experimentadas pela Santa Casa de Misericórdia e Maternidade, assim como demais hospitais filantrópicos que prestam serviços ao estado, mas a administração vem priorizando o pagamento a fornecedores e funcionários, afim de manter o atendimento a população que, importante sempre repisar, é a parte mais frágil e que precisa de assistência a saúde, razão final pela qual o hospital foi criado.

Portanto, ao fim e ao cabo, cabe a NUTEC buscar os meios legais para o recebimento de seus créditos junto a Santa Casa e manutenção de sua atividade, que sabe-se não é exclusivamente o atendimento a pacientes dos SUS, e caso queira rescindir a prestação de serviços a Santa Casa, que o faça pela forma prevista em contrato, garantindo o atendimento a população pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias.

Assim fica a NUTEC, contranotificada a retomar imediatamente o regular atendimento aos pacientes oncológicos, sob pena de serem tomada as medidas legais para o resguardo ao interesse dos pacientes, sem prejuízo das penalidades e multas previstas contratualmente.

Sendo o que cumpria para o momento, renovamos os votos de estima e consideração, aguardando a retomada dos serviços.