NO RIO DE JANEIRO

MPRJ denuncia Dr. Jairinho por torturar filha de ex-namorada

Suspeito pelo assassinato do menino Henry Borel, também teve sua prisão preventiva pedida pela polícia nesta sexta. Ele é investigado ainda em outro inquérito em que teria agredido um menino.

por G1

01 de Maio de 2021, 07h00

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

O Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou nesta sexta-feira (30) o médico e vereador do Rio Dr. Jairinho por tortura contra a filha de uma ex-namorada do parlamentar.

As agressões contra a criança aconteceram entre os anos de 2011 e 2012, segundo o MP.

“Tem-se que o denunciado batia com a cabeça da vítima contra diversos lugares, chutava e desferia socos contra a barriga da criança, além de afundá-la na piscina colocando seu pé sobre sua barriga, afogando-a, e de torcer seu braço”, diz a denúncia.

Em entrevista coletiva, o delegado Adriano Marcelo França, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) afirmou que a criança tinha pavor e pânico ao ver o carro de Jairinho. A prisão preventiva do investigado foi solicitada à Justiça.

"A figura do doutor Jairinho trazia lembranças das agressões. Ela ficava segurando na perna da avó para não ir ao encontro do Dr. Jairinho. Quando os familiares identificaram a ânsia de vômito e o pânico na criança, ela foi afastada do convívio de Jairinho. A criança foi praticamente criada pela avó por questões familiares", disse o responsável pela investigação.

Os investigadores conseguiram provas documentais a partir dos relatórios médicos de hospitais para onde a criança foi levada na época das agressões. Ao todo, foram quatro laudos obtidos para serem usados como provas.

As investigações começaram na 16ª DP (Barra da Tijuca), onde ainda são apuradas as circunstâncias que envolvem a morte do menino Henry Borel. No entanto, por se tratar de outro inquérito, o trabalho foi transferido à Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).

Na época da apuração do caso do menino Henry Borel, o pai da vítima, Leniel Borel recebeu uma mensagem de uma ex-namorada de Dr. Jairinho.

"Eu fui negligente por não ter feito nada quando isso aconteceu com a minha filha(...) Ela tinha a idade do seu pequeno, 4 anos, e eu me culpo todos os dias da minha vida", escreveu a mulher, que iniciou a nova investigação junto à polícia.

Provas desmentem Jairinho

Dr. Jairinho prestou depoimento à Dcav no dia 8 de abril, quando foi preso . O parlamentar negou as acusações de agressão, mas provas colhidas pelos investigadores - como fotos e laudos médicos - desmentem a versão do investigado.

"Essa criança narrou e confirmou as agressões cometidas pelo indiciado, conhecido pelo nome político de Jairinho. Toda versão apresentada por Dr. Jairinho foi derrubada pelas provas documentais e pelo depoimento", explicou o delegado Adriano Marcelo França.

"Em determinados momentos ele diz não estar com determinadas crianças e em determinados locais. Porém, fotos mostram o contrário. A mãe dessa criança não foi indiciada. O crime aqui é de tortura majorada, por ser criança e por um período de dois anos", completou Adriano.

Agressões aconteceram quando criança tinha entre 3 e 5 anos

O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), delegado Felipe Curi, também comentou a investigação.

"Essa investigação surgiu no bojo do caso Henry. A responsável legal por uma criança, que entre os anos de 2010 e 2013, sofreu agressão comprovada pela investigação. A época, essa criança tinha entre 3 e 5 anos. Essa criança sofreu uma série de violências e até tortura", disse o delegado Felipe Curi.

“Por medo, ela acabou não denunciando. Com o caso do Henry, ela criou coragem e acabou denunciando. Esse caso não tem nada a ver com o caso Henry, mas surgiu no bojo da investigação. Esse caso serve para corroborar o perfil violência do Dr. Jairinho contra menores filhos das pessoas que ele tem relacionamento amoroso. Isso ficou comprovado na investigação que foi concluída e na investigação que está em andamento”, completou o delegado Curi.

Os delegados explicaram ainda que a mãe da menina não foi indiciada na investigação. Ela é tratada como vítima de violência doméstica praticada por Dr. Jairinho.

Perfil violento de forma clandestina

Ao ser perguntado sobre o perfil do Dr. Jairinho, o delegado afirmou que as agressões foram as mesmas nas diferentes vítimas.

“São crianças da mesma faixa etária e as lesões praticadas chamam atenção. As crianças narraram agressões semelhantes. Afogamento na piscina, chutes, socos, torção no braço”, contou.

“O perfil dele com as crianças é o que foi narrado aqui sobre as agressões. Da mesma forma que era violento, ele tinha um lado carinhoso. Esse lado carinhoso era na presença das mães, em festas. O perfil violento dele era feito de forma clandestina, na clandestinidade. Eram torção no braço, chutes, pisões, tudo que já foi narrado”, explicou.

O que diz a defesa de Jairinho

Procurada, a defesa de Dr. Jairinho disse que ainda não tem condições de posicionar sobre o caso.

“Eu recebi a cópia integral do inquérito, vou analisar e dou um posicionamento ainda essa semana sobre o indiciamento”, disse Brás Santana, advogado de defesa de Dr. Jairinho.

Outro inquérito por agressão segue em andamento

Além do indiciamento por agredir à filha de uma ex-namorada, outra investigação está em curso também por agressão a um menino, igualmente filho de uma ex-namorada.

A criança tinha três anos de idade quando foi agredida e, entre as ocorrências, relatou um dia em que ele saiu para passear com Doutor Jairinho e voltou com um fêmur (osso da coxa) quebrado.

Paralelamente ao inquérito que investiga as agressões que teriam sido cometidas contras essas crianças, o trabalho de apuração da morte do menino Henry Borel continua.

Polícia investiga vazamento de nude

Além das investigações por agressão, a polícia também apura o vazamento de uma imagem em que uma mulher aparece nua, com a legenda: “Sou de Bangu e vereador Jairinho botou peito em mim”. Ela seria uma testemunha do caso que apura as agressões praticadas pelo vereador, e teria sido constrangida com a divulgação da imagem.

A investigação está em fase inicial na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), e a cargo do delegado Pablo Sartori, que confirmou ao G1 a condução do caso.

Além da imagem, a defesa de Jarinho também compartilhou vídeos em que funcionários do vereador tentavam desqualificar a mulher.

Entenda o caso

O vereador Dr. Jairinho é investigado pela morte do menino Henry Borel, pela qual já está preso preventivamente, por agressões cometidas a outras duas crianças filhas de ex-namoradas. Em um inquérito, o que apura as agressões à menina, ele foi indiciado por tortura majorada. No outro, em que a vítima é um menino, e ainda está em andamento.

Além disso, ele é investigado por constranger uma testemunha divulgando a imagem dela nua.

No caso do menino, Débora Melo Saraiva, que prestou depoimento na 16ª DP (Barra) no dia 16, contou que tanto ela quanto o filho foram agredidos pelo vereador.

“Ela (Débora) disse que foram tantas agressões que ela sequer consegue lembrar quantas vezes ela apanhou do vereador Dr. Jairinho”, afirmou o chefe do departamento de polícia da capital, Antenor Lopes, após o fim do depoimento.

Segundo ela, a criança contou que Jairinho colocou um papel e um pano na boca dele e disse que ele não poderia engolir. O menino teria afirmado, então, que Jairinho o deitou no sofá da sala, ficou em pé no sofá e apoiou todo o peso do corpo no menino com o pé.

Débora contou que o filho também narrou que, em outra ocasião, Jairinho teria colocado um saco plástico em sua cabeça e ficou dando voltas com o carro.

Débora lembrou ainda de outra agressão, também em 2015. Ela diz que Jairinho insistiu para levar a criança numa casa de festas e que depois, o vereador ligou dizendo que Enzo havia torcido o joelho. Jairinho levou então a criança, segundo o relato, para um centro médico, para fazer um raio-x e que lá foi constatado que o menino estava com o fêmur quebrado.

Outra denúncia de agressão de Jairinho a uma criança foi feita por outra ex-namorada do vereador, mãe de uma menina que hoje tem 13 anos. A menina prestou depoimento em março na Dcav.

"O Jairinho que eu conheço, que a minha filha descreve, que fez o que fez com ela, eu hoje oro a Deus pelo livramento de não ter sido ela [que morreu]. Porque ele podia ter matado a minha filha", disse a ex-namorada ao Fantástico. A mulher pediu para não ser identificada pelo programa.

A ex-namorada diz ainda que sua filha passava por situações semelhantes as que as investigações indicam que foram vividas por Henry: “Eu falava que ele estava vindo, aí ela passava mal, vomitava, me agarrava. Ou então pedia à minha mãe: 'Posso ficar com você, vó? Eu não quero ir, quero ficar aqui'.