OPINIÃO
Integração da Inteligência Artificial no Ensino Superior: Desafios e Oportunidades
11 de Abril de 2025, 06h27

O Ensino a Distância (EAD), antes visto como uma alternativa complementar, agora se firma como uma modalidade protagonista na formação acadêmica, atraindo um número cada vez maior de estudantes. Esse crescimento acelerado reflete não apenas mudanças estruturais no setor educacional, mas também a evolução das metodologias de ensino, fortemente impactadas pela Inteligência Artificial (IA) e outras inovações digitais. Diante desse cenário, é essencial compreender os fatores que impulsionam essa mudança e como a tecnologia pode potencializar a qualidade da aprendizagem no ambiente virtual.
Projeções do MEC sugerem que o número de estudantes em EAD em breve superará o do ensino presencial, marcando a consolidação de novos formatos educacionais flexíveis e escaláveis. O Censo da Educação Superior de 2023 revela que, dos 9,9 milhões de universitários no Brasil, 4,9 milhões optaram pelo EAD, quase igualando os 5,06 milhões do ensino presencial. Essa paridade demonstra uma mudança significativa no ensino superior, influenciada por custo-benefício, acessibilidade e inovação tecnológica.
A oferta de cursos a distância apresentou uma expansão de 700% nos últimos dez anos, evidenciando não apenas uma tendência de crescimento, mas a necessidade emergente de desenvolver metodologias e conteúdos didáticos que sejam condizentes com as expectativas e desafios da nova geração de universitários. A integração entre EAD e Inteligência Artificial possibilita uma educação cada vez mais adaptativa, automatizando processos avaliativos, personalizando trilhas de aprendizagem e ampliando a eficiência dos docentes na gestão do conhecimento.
Com a globalização e a digitalização do ensino, de norte a sul do país, tanto as pessoas que moram em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, quanto aos que vivem no interior do Brasil, podem agora ter acesso aos mesmos conteúdos. A adoção da IA representa uma oportunidade única para superar desafios históricos e transformar um setor ainda profundamente enraizado em práticas tradicionais.
Além da democratização do ensino, a capacidade de IA de analisar grandes volumes de dados, identificar padrões e personalizar experiências oferece um potencial imenso para revolucionar a forma como ensinamos e aprendemos. Essas ferramentas podem analisar o desempenho dos alunos e oferecer recomendações individuais para melhorar o aprendizado, adaptando-se ao estilo de cada estudante, ajudando na inclusão e, ao mesmo tempo, na redução das taxas de evasão.
Porém, esse cenário traz desafios. O primeiro deles é mapear a diversidade dos perfis de alunos, que é enorme. O segundo deles é sobre o papel do professor na era da IA, que pode gerar uma resistência a mudanças, principalmente em instituições de ensino que não nasceram em um contexto digital. A diferença na adoção de tecnologia entre setores como o financeiro, a comunicação e o varejo, em comparação com a educação, pode ser explicada por fatores como a natureza específica de cada setor, os incentivos econômicos, a cultura organizacional e a infraestrutura disponível.
Enquanto os primeiros (financeiro, comunicação e varejo) são altamente competitivos e orientados para o lucro, a educação enfrenta desafios estruturais e culturais que retardam a inovação e enfrenta menos pressão competitiva. Ademais, os incentivos econômicos para a adoção de tecnologias são menos claros, já que os benefícios muitas vezes são de longo prazo e difíceis de quantificar. Em muitos casos, os investimentos em tecnologia são vistos como custos adicionais, em vez de oportunidades de melhoria.
Apesar das dificuldades, aos poucos os profissionais e o setor educacional começam a entender que a tecnologia veio para ficar e ser uma grande aliada, e jamais substituta, da troca genuína de conhecimentos entre alunos e professores. Nesse contexto, é preciso que todos invistam em capacitação contínua para acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas.
Diante disso, é essencial que o setor educacional invista em tecnologia robusta e conteúdo pedagógico de alta qualidade, assegurando excelência na expansão do EAD. A convergência entre educação e IA é crucial para atender às novas dinâmicas de ensino e às demandas de um mercado de trabalho digitalizado.
*Isabella Stulp, é CEO da Realize, edtech focada na produção de conteúdo EAD e oferece uma solução completa para as Instituições de Ensino produzirem seus conteúdos EAD em escala. Designer há mais de uma década, com especialização em user experience design e atuando no mercado de educação à distância há 8 anos. A executiva tem como objetivo aplicar conceitos de Design Thinking e Experiência do Usuário no desenvolvimento de ferramentas que otimizem os processos de produção de recursos de aprendizagem em escala.