FRANCILEIDE FONTINELLE

Empreendedorismo feminino

por FRANCILEIDE FONTINELLE

12 de Novembro de 2020, 08h20

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Empreender é desafiador – e, em especial no começo, envolve acumular diferentes funções e estar disponível o tempo todo. Quando se trata das mulheres, a tendência é que a jornada seja (no mínimo) dupla.

Afinal, muitas ainda acumulam funções dos seus lares e não recebem o mesmo estímulo que os homens para ter o seu próprio negócio. Mas ainda bem que, a cada ano que passa, as mulheres conquistam novos papéis na sociedade e caminham rumo ao protagonismo em diversos mercados de atuação.

No empreendedorismo não é diferente. Hoje, o Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras. O dado é de um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado com 49 nações.

Ao todo, são mais de 24 milhões de brasileiras tocando negócios próprios, gerando empregos e movimentando a economia. Mas infelizmente o Mato Grosso não acompanha essa boa performance nacional. As mulheres representam 31% da classe empresarial do Estado, o que nos coloca em 21º lugar no ranking, a frente apenas do Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Amapá e Rondônia.

Há algumas barreiras que atravancam o progresso das mulheres de negócios: falta de financiamentos e investimentos; restrições regulatórias e ineficiências institucionais; falta de espírito empreendedor e crença em si mesmas; medo do fracasso; restrições socioculturais; e falta de educação e treinamento.

Segundo dados do Sebrae, as mulheres têm um nível de inadimplência ligeiramente mais baixo do que os homens. Apesar disso, tendem a ter mais dificuldade de acessar crédito para os seus negócios.

Em média, também pagam taxas anuais de juros 3,5% maiores do que os homens.

De forma geral, dois fatores influenciam nesse cenário. Um deles é a postura de muitos agentes bancários diante de negócios comandados por mulheres. Para muitos, elas não são a figura que deveria estar à frente da empresa ou não são capacitadas para conduzir determinadas iniciativas. Em muitos casos, também falta experiência ou segurança na hora de negociar empréstimos.

Toda mulher já enfrentou, em menor ou maior grau, um desses empecilhos na vida. Infelizmente para as que residem em nosso estado os entraves são ainda maiores a superar. E muito pela omissão do sistema político que insiste em fazer vista grossa para essa importante bandeira social.

Até mesmo a insegurança feminina em optar por uma carreira empreendedora está ligada à total ausência de políticas públicas eficazes voltadas para fomentar o setor.

Uma pesquisa realizada no final do ano passado pelo Senai-MT apontou que 66,6% das mulheres mato-grossenses desconhecem por completo os programas de financiamento voltados para elas; 50% não se sente representada na política e 55% julgaram o preconceito como uma das principais barreiras para o crescimento das empresas lideradas por mulheres. Elas associam ainda que falta capacitação de temas jurídicos e legais para formalizar os negócios, assim como uma melhor utilização do acesso às novas tecnologias.

É claro que o fator financeiro tem sido um dos maiores gatilhos para que o número de empresárias no país aumente a cada ano, arrastadas pelo fantasma do desemprego. Mas o empreendedorismo também tem proporcionado a essas mulheres muito mais do que dinheiro.

Estar à frente de uma empresa, fazer o que ama, ter qualidade de vida e ainda conseguir acompanhar a família e ter tempo para si mesma gera um sucesso e autoestima que elas, provavelmente, não tinham atuando como funcionárias. Essa, certamente, é uma importante realização na vida dessas empreendedoras.

Libertar ainda mais esse potencial irá requerer um esforço coordenado, foco e estímulo em diversos níveis: motivação pessoal; suporte familiar e social; oportunidades econômicas e políticas; treinamento, financiamento e políticas públicas e privadas; e a formação de relações comerciais e networking empreendedor e executivo.

O caminho não é fácil. Mas é mais do que necessário. Não há melhor forma de empoderar as mulheres do que dar a elas liberdade para fazer o que bem quiserem da vida.

Francileide Fontinelle é professora e candidata a primeira suplente ao Senado do candidato Euclides Ribeiro.