OPINIÃO

O custo invisível da sobrevivência

por Bruno Borgonovo

12 de Julho de 2025, 06h10

None
Divulgação

Pense na rotina de um empreendedor brasileiro comum. Seu dia começa cedo e termina tarde, preenchido por decisões constantes, múltiplas demandas e um ambiente de negócios que exige equilíbrio entre visão estratégica e agilidade operacional. Essa realidade é vivida por milhares de micro e pequenos empresários no país — líderes que conduzem seus negócios com coragem, criatividade e um senso admirável de responsabilidade. No entanto, essa dedicação intensa, quando não acompanhada de espaço para reflexão e renovação, pode comprometer um elemento vital à competitividade: a capacidade de inovar.

Muito se fala sobre o “Custo Brasil” em termos de impostos, burocracia e infraestrutura. Mas há um custo ainda mais cruel, invisível aos olhos das planilhas: a mentalidade de sobrevivência crônica. Empreender por aqui se tornou sinônimo de apagar incêndios. O problema é que ninguém inova com um balde na mão. Falta tempo e espaço para experimentar, testar e criar. Afinal, como construir o novo se estamos sempre reagindo ao urgente?

Segundo dados do Sebrae e do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), mais de 75% dos empreendedores no Brasil iniciam seus negócios por necessidade, e não por vocação empreendedora ou identificação de oportunidade. Isso significa que o impulso inicial já é defensivo. Soma-se a isso um ambiente de negócios hostil, e temos a fórmula perfeita para o imediatismo: foco exclusivo no curto prazo, aversão ao risco e, ironicamente, pouca margem para a criatividade.

Chris Zook, no livro A Mentalidade do Fundador, alerta para um fenômeno comum em empresas que crescem sem uma cultura forte: perdem sua “alma”. Deixam de ouvir a linha de frente, abandonam a insurgência e mergulham na complexidade paralisante. O pequeno empreendedor brasileiro vive isso desde o primeiro dia. Ele não tem tempo para mapear processos, testar hipóteses ou escutar o cliente com profundidade. Está ocupado demais "dando conta do dia".

Mas como lembrar que a empresa existe para resolver um problema real e gerar valor — não apenas para sobreviver? Como construir diferenciação, propósito e cultura nesse cenário? 

Mas como mudar essa lógica? Como lembrar que a verdadeira razão de existir de uma empresa é resolver um problema real e gerar valor — e não apenas sobreviver? Como construir diferenciação, propósito e cultura nesse cenário? O resultado é visível: negócios que vivem de preço, não de valor. Que crescem sem estratégia, que operam como faziam há 10 anos e não conseguem aproveitar o digital, o marketing de experiência ou as tecnologias de automação.

São inúmeros os exemplos de negócios estagnados que replicam modelos sem validação real, desconhecem a jornada do cliente ou ainda dependem de processos manuais. São organizações operando no escuro, carentes não de ferramentas, mas de tempo e estrutura para repensar seus caminhos.

Não é preciso ter orçamento milionário para inovar. Eric Ries, em A Startup Enxuta, propõe ciclos rápidos de aprendizado, com testes simples e interação direta com o cliente. Carlos Domingos, em Oportunidades Disfarçadas, mostra como a escassez pode ser mãe da criatividade.

Portanto, o que falta aos nossos empreendedores não é talento nem desejo de mudança. Falta-lhes condições para uma reflexão mais profunda. E isso exige políticas públicas mais eficazes, redes de apoio que atenuem a solidão empreendedora e uma mudança cultural que valorize o planejamento com o mesmo vigor com que exaltamos o sacrifício.

Resistência é um valor admirável. Mas quando se torna um modo de vida, ela impede o próximo passo. O empreendedor brasileiro precisa mais do que sobreviver: ele precisa respirar, criar, experimentar. Só assim transformaremos nosso ecossistema de negócios em um motor real de desenvolvimento econômico, social e humano — e não em uma linha de montagem de sobreviventes exaustos.

*Bruno Borgonovo é empresário, fundador e CEO da BRW Suprimentos.