OPINIÃO

O que a pandemia nos ensinou que podemos usar no enfrentamento à dengue?

por Jarbas da Silva Motta Junior

13 de Maio de 2024, 14h39

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Divulgação

A maior emergência em saúde da atualidade ainda está na memória de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e todos que integram equipes de saúde em hospitais e espaços de pronto atendimento. É, também, lembrança corriqueira para muitas pessoas, especialmente aquelas que perderam familiares e amigos próximos para o coronavírus. A palavra pandemia sempre nos transporta a lembranças de dias difíceis. Para alguns, é tocar na ferida do vazio, da perda, do luto que é revivido com sua pronúncia.

Para além das dores, a pandemia deixou aprendizados. Há quem consiga recordar de ensinamentos e lições pessoais, como a valorização da possibilidade de socializar, a necessidade de manter hábitos saudáveis e de higienização. São percepções por vezes abstratas de quem mudou de rota e passou a dar valor à normalidade da vida. Para além disso, há aprendizados concretos e importantes que são vistos dentro da rotina hospitalar.

Com a covid, aprendemos a lidar com situações extremas e desafiadoras. Entendemos o quanto a comunicação transparente e ponderada pode contribuir com a confiança nos colegas de trabalho e nos processos estabelecidos. Protocolos bem estruturados de atendimento nos mostraram o quanto o fluxo de entrada de pacientes deve ser facilitado e servem como uma ponte para melhor experiência dos que necessitam de suporte especializado. 

Quatro anos após o início da pandemia, os hospitais se deparam com mais uma situação delicada, embora em proporções mais estáveis e conhecidas. No Brasil, os casos prováveis de dengue ultrapassam a marca de 4 milhões, segundo boletim divulgado no final de abril. O Brasil registra o recorde de 1.937 óbitos em 2024. Em quatro meses, já é o maior indicador do século em um único ano. Outras 2.345 mortes estão em investigação. Dez estados brasileiros publicaram decreto de emergência: Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, além do Distrito Federal.

Desde o início do ano, os hospitais estão com grande procura de pacientes com suspeita da doença ou mesmo confirmação da dengue. Logo que identificamos esse aumento de demanda, estabelecemos fluxos para toda a equipe de saúde com o objetivo de cumprir o protocolo do MInistério da Saúde, que fala sobre atendimento e acompanhamento dos pacientes. O ambiente de triagem foi estruturado para identificação precoce de pacientes com maior gravidade e que necessitam de intervenção mais imediata.

Para além das paredes dos hospitais, outro aprendizado que a covid trouxe é o melhor entendimento da população sobre a importância de estar bem informada e confiar nas equipes e autoridades de saúde. As pessoas hoje buscam estar mais atentas e estão mais conscientes do que são sintomas graves, da importância de buscar atendimento precoce, de como prevenir doenças. As gestões governamentais de saúde também estão mais presentes, com ações voltadas à boa informação e a imprensa ajuda em todo esse processo. São aprendizados vindos da maior emergência em saúde da atualidade e que devem nos auxiliar para quaisquer outros momentos delicados e de alerta na área da saúde.

*Jarbas da Silva Motta Junior é gerente médico do Hospital São Marcelino Champagnat e atuou como chefe das UTIs covid durante a pandemia