OPINIÃO

A “doença” da criança boa

por Eluise Dorileo

15 de Abril de 2024, 14h01

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Crianças exemplares são obedientes, tem seus quartos arrumados, fazem a lição de casa no prazo certo, querem sempre ajudar seus pais, às vezes são um pouco tímidos e chegam até a  usar seus freios quando andam de bicicleta em uma descida.

São tão perfeitos, né? Por que dar-lhes atenção?

Ai que mora o perigo. Exatamente por não apresentarem muitos problemas imediatos, tendemos a assumir que tudo está bem com crianças boazinhas e, quando se tem outros filhos, tende-se ainda a dar mais atenção àquele que é peralta ou “dá trabalho”.

A “doença” da criança boa é que elas não têm a experiência comum – que quase todas as outras crianças tiveram – de serem capazes de não só tolerar, mas lidar e canalizar os seus próprios sentimentos não tão bons/exemplares.
Ou seja, perdem um privilégio vital concedido à criança saudável: O de serem capazes de exibir lados comuns à humanidade, como bagunceiros, gananciosos, invejosos, egoístas e – ainda assim – serem tolerados, amados e educados a fazerem diferente pelos seus pais. As crianças boas só agem certo e têm medo de não serem mais amadas!
A criança que sempre foi boa demais para satisfazer as roupagens que lhes foram dadas, normalmente – na vida adulta – tem problemas particulares em torno do sexo, afinal foram quando crianças, tão elogiados por serem puros e inocentes que, na vida adulta, podem considerar os êxtases da vida sexual como sentimentos perversos e emocionante nojentos. Muitos podem rejeitar seus desejos, ficarem frios e distanciados de seus próprios corpos.
O desejo de ser bom é uma das coisas mais bonitas do mundo, mas para ter uma vida verdadeiramente boa, às vezes precisamos ser (com os padrões da boa criança) mais ríspidos. Devemos saber dizer não. Devemos desagradar algumas pessoas sim, pois é impossível agradar a todos. Por melhores pessoas que sejamos, precisamos – em algum momento da vida – entrar em atrito com alguém.

Será que a criança boazinha está sendo criada para se posicionar diante das demandas do mundo?

Pense nisso.

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Eluise Dorileo é psicóloga, terapeuta familiar