CASO MAURÍCIO SANTOS

IPM aponta crime militar e Ledur deve responder a novo processo por tortura na Justiça

O ex-aluno bombeiro desistiu do curso de formação por medo de ser morto pela instrutora.

por Daffiny Delgado, de Cuiabá

15 de Setembro de 2020, 09h43

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

O Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pelo Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, que investigou uma nova denúncia de tortura supostamente praticada pela tenente Izadora Ledur, contra o ex-aluno Maurício Santos, concluiu que houve sim a prática do crime militar.

O crime aconteceu durante o 15º curso de Formação do Corpo de Bombeiros, em 2015. O documento de conclusão do inquérito foi homologado pela corporação na última sexta-feira (11).

"Verifica-se pelas provas documentais apresentadas, que resultaram indícios da prática de crime de natureza militar perpetrada pela 1° tenente BM Izadora Ledur", diz trecho de documento.

De acordo com a denúncia, o ex-aluno afirmou ter sido torturado e sofrido abusos por parte da tenente. Na época, ele acabou desistindo no final do curso, por medo de ser morto.

“A mesma coisa que aconteceu com o Rodrigo Claro aconteceu comigo, a única diferença é que as sessões de afogamento do Rodrigo ela fez enquanto ele fazia a travessia da Lagoa Trevisan, e comigo ela fez parado, no meio da lagoa. No dia desta instrução, que eu me vi obrigado a desistir do curso, porque se eu não fizesse isso, hoje eu posso dizer mais firme do que nunca, que eu não teria saído vivo”, declarou.

Em entrevista ao GazetaMT, na manhã desta terça-feira (15),  Maurício questionou quais medidas serão tomadas pela corporação diante da comprovação do crime.

"Mais um caso ficou esclarecido e mostrando que houve sim, mais um crime cometido por parte da tenente e isso não pode ficar impune. Se o próprio IPM diz isso, agora o que será feito? Quais medidas serão tomadas por parte do Corpo de Bombeiros? Até quando vão ficar escondendo as atitudes dela?", questionou.

"Eu só busco por Justiça, que ela pague pelas atrocidades que cometeu e que seja resolvido o mais rápido possível porque ninguém aguenta mais", finalizou Mauricio.

Com a conclusão e homologação do IPM, o caso deverá ser encaminhado para a 13° Promotoria de Justiça Criminal de Crimes Militares.

O caso

O curso que Maurício participou começou em julho de 2015. Ele contou que em janeiro de 2016 foram iniciadas as atividades práticas, com aulas de salvamento aquático, salvamento em altura e terrestre, entre outras disciplinas. No entanto, no início as aulas não eram ministradas por Ledur.

“No começo eram com outros oficiais. Eu tinha dificuldade com água, então me preparava antes, em horários de folga, fazia treinamentos, e consegui melhorar um pouco. Eu tinha dificuldade sim, às vezes não conseguia chegar ao final, porém em nenhum destes momentos eu passei o que eu vim a passar depois nas mãos dela”, explicou Mauricio.

Foi no início do mês de fevereiro que a tenente Ledur começou a ser responsável pela disciplina aquática, e as aulas eram ministradas na lagoa Trevisan em Cuiabá.

“Na dos outros oficiais eu passei, no relatório mostra que fui aprovado. Aí começou as instruções com ela na lagoa Trevisan. E foi ali que ela destruiu meu sonho, acabou comigo, até hoje a gente sofre as consequências”, contou.

Tortura e morte

A tenente já responde na 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, pela morte do ex-aluno Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos.

O rapaz morreu no dia 16 de novembro após ser submetido às práticas de torturas e afogamento, realizados na Lagoa Trevisan, em Cuiabá.

O Ministério Público Estadual Mato Grosso denunciou a tenente ledur por crime de tortura com resultado morte do aluno. Além dela, outros cinco militares também foram denunciados pelo mesmo crime.

De acordo com a denúncia, o MPE destacou que apesar de apresentar excelente condicionamento físico, o aluno demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre, entre outros exercícios.

Embora o problema tenha chamado a atenção de todos, os responsáveis pelo treinamento não só ignoraram a situação como utilizaram-se de métodos totalmente reprováveis, tanto pela corporação militar, quanto pela sociedade civil, para “castigar” os alunos do curso que estavam sob sua guarda.