OPINIÃO

É preciso nutrição esportiva para quem quer 'comer a bola'

por Thamires Roberta Felix Bastos

17 de Outubro de 2024, 06h00

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Divulgação

Logo que chegou ao Japão, em 1991, para iniciar os treinamentos dos times de futebol japoneses, o professor de educação física e técnico, Arthur Antunes Coimbra, percebeu que seu desafio não estava apenas na tática e técnica dentro das quatro linhas do campo. Mais conhecido quando jogava pelo Flamengo e seleção brasileira, como Zico, ele foi obrigado a fazer uma mudança radical na alimentação dos jogadores japoneses.

Sabia que o cidadão nipônico comum tem uma alimentação trivial saudável, mas mesmo não sendo um nutricionista esportivo, tinha ciência que era preciso mudar o hábito alimentar da equipe para alcançar melhores resultados e desempenho. Saiu então do cardápio o peixe cru e o arroz, a base da dieta alimentar de então, substituídos pela massa e principalmente o ‘craque’ feijão que iria melhorar a ‘base energética’ dos atletas.

O treinador era fã do feijão, porque continha nutrientes essenciais como carboidratos, fibras, proteínas, ferro, cálcio, e diversas vitaminas (principalmente do complexo B). Mais um golaço do Zico!!! Mas quando começou sua carreira no Brasil, por sinal, o ‘Galinho de Quintino’ era um atleta franzino e por isso também teve que fazer uma dieta especial para ajudar a ganhar musculatura, além de tomar suplementos vitamínicos.

Hoje em dia a nutrição esportiva é um fator crucial para o êxito no futebol. A alimentação adequada fornece energia para os treinos, auxilia na recuperação muscular e otimiza o desempenho em campo. Com o investimento num nutricionista especializado, os clubes podem reunir as condições ideais que seus jogadores necessitam para alcançar seus objetivos esportivos. Alguém já disse que a nutrição esportiva no futebol brasileiro se tornou o “combustível para a vitória”.

Ficou claro atualmente, que só uma dieta equilibrada fornece proteínas, gorduras e carboidratos necessários para gerar energia tanto para treinos como para jogos. E não se trata apenas de alimentos a fim de alcançar bons resultados. A reposição de água é indispensável para se evitar a

desidratação, que pode prejudicar o desempenho e aumentar o risco de lesões.

Uma alimentação balanceada também fortalece o sistema imunológico do jogador. A dieta correta previne doenças e permite que se treine com mais frequência e maior intensidade. Outra contribuição da nutrição esportiva é que auxilia a manter o peso ideal dos atletas, o que é muito importante para o desempenho, especialmente em certas posições em campo, que exigem atletas com arranque e velocidade, como é o caso dos atacantes, laterais e meias de ligação.

No futebol brasileiro a tendência é que a nutrição esportiva tenha cada vez mais relevância e reconhecimento entre dirigentes, treinadores e jogadores. E com a chegada de mais novidades científicas e tecnológicas, entrarão em campo novos conhecimentos e planejamentos alimentares que vão melhorar mais ainda o desempenho dos jogadores.

Hoje a alimentação é mais bem entendida no âmbito esportivo, mas foi preciso muito trabalho e estudos para ela se fortalecer. O médico cirurgião belga, velejador olímpico e ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia escrito no Handbook of Sports Medicine and Science Sports Nutrition, em 2002, ou seja, 22 anos atrás, que a área científica da nutrição esportiva havia experimentado uma expansão fenomenal de conhecimento durante os 30 anos anteriores à publicação daquele manual de medicina esportiva e nutrição em ciência do esporte.

De acordo com Rogge, antes os treinadores e os profissionais de saúde que trabalhavam com os atletas não tinham informações básicas sobre as possíveis relações entre ingestão de alimentos, estado nutricional, programas de condicionamento e desempenho competitivo.

Segundo o dirigente esportivo, na fase de pesquisa de laboratório e de campo (entre 1972 e 2002), uma ampla base científica foi produzida na literatura científica e uma nova área da ciência chamada ‘nutrição esportiva’ foi solidamente estabelecida. Ela serviu como base para o planejamento cuidadoso dos padrões alimentares e ingestão de alimentos para atletas durante períodos de treinamento e diretamente relacionados à competição.

Hoje a nutrição esportiva é um universo complexo e as necessidades individuais podem variar muito. Ela atua basicamente em áreas como, por exemplo, planejamento alimentar, educação nutricional, hidratação e suplementação (que pode ser utilizada para complementar a dieta). Em virtude da combinação dessa multiplicidade de conhecimentos científicos dos alimentos e do corpo humano, é fundamental para os atletas de alto rendimento o apoio de um nutricionista esportivo.

*Thamires Roberta Felix Bastos é nutricionista e pós-graduanda em nutrição esportiva e estética.