OPINIÃO

Pagamento internacional sem fronteiras – Por que as stablecoins viraram pauta de negócios no Brasil?

por Da redação

17 de Dezembro de 2025, 06h00

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Divulgação

O futuro dos pagamentos internacionais já não é tese: é operação do dia a dia. Stablecoins – criptoativos lastreados em moedas como dólar ou real – movimentaram mais US$ 13 trilhões no mundo em 2024 e, em algumas estimativas, já se aproximam do volume processado por grandes bandeiras globais de cartão. O que começou como nicho de cripto entusiastas virou um novo trilho de liquidação para empresas que precisam pagar e receber fora do país, com liquidação quase instantânea e disponibilidade 24/7.

No Brasil, a Receita Federal monitora o segmento desde 2019 e já identificou um crescimento “vertiginoso” na movimentação de stablecoins, com um ativo em particular negociando mais de R$ 270 bilhões no período – quase o dobro do volume de Bitcoin declarado no mesmo intervalo. Relatórios de mercado mostram que essas moedas estáveis já respondem pela maior parte das transações com cripto no país, usadas tanto para alocação em “cripto-dólar” quanto para pagamentos e remessas internacionais.

Enquanto o uso explode, a infraestrutura tradicional de pagamentos cross‑border continua lenta, cara e limitada por janelas bancárias. Nesse vácuo, stablecoins oferecem liquidação rápida, taxas mais baixas e previsibilidade de caixa – especialmente relevante para empresas que importam software, infraestrutura de nuvem, mídia e serviços profissionais em moeda forte. A pergunta deixa de ser “se” e passa a ser “como” incorporar esse trilho ao dia a dia financeiro das companhias.

É justamente aqui que a agenda regulatória do Banco Central ganha protagonismo. Em 2025, o BC publicou um conjunto de normas que disciplinam a prestação de serviços com ativos virtuais, definindo quem pode operar, quais requisitos de capital e governança serão exigidos e como será a supervisão contínua dessas empresas. As regras entram em vigor em 2026 e se somam ao marco legal dos criptoativos e a consultas públicas sobre câmbio, aproximando o universo das stablecoins do ambiente regulado de bancos, fintechs e instituições de pagamento.

Esse movimento é, ao mesmo tempo, ameaça e oportunidade. Para parte dos pequenos players de cripto e BaaS (Banking As a Service) que cresceram apoiados em estruturas frágeis de compliance, a conta da regulação pode simplesmente não fechar. A elevação do sarrafo em capital, controles internos e reporte tende a expulsar do jogo operações improvisadas ou pouco transparentes, acelerando a consolidação do setor.

Por outro lado, abre‑se uma janela relevante para empresas não financeiras com marca forte, base de clientes e maturidade tecnológica – indústrias exportadoras, marketplaces, plataformas SaaS (Software como Serviço), operadores de comércio exterior e grandes varejistas B2B (Business to Business). Conectadas a provedores regulados, essas empresas podem embutir pagamentos internacionais com stablecoins nas suas jornadas, usando o conhecimento de cliente, a capilaridade comercial e a infraestrutura de dados como vantagens competitivas frente a instituições financeiras tradicionais.

Em um país que já virou laboratório global com o Pix, a discussão que líderes deveriam ter agora é simples: qual o papel da sua empresa nesse novo trilho de pagamentos? A regulação do BC reduz a névoa jurídica e transforma stablecoins em tema de estratégia, não apenas de inovação – e quem se mover primeiro de maneira estratégica tende a capturar a melhor parte dessa fronteira.