OPINIÃO
Deep Techs e Sustentabilidade: a importância das ações no presente que impactam o futuro
19 de Junho de 2024, 08h00
Junho é considerado o mês do meio ambiente, período que nos convida a refletir sobre os desafios que estamos enfrentando e também aqueles que virão. Sabemos da importância da preservação ambiental para a garantia de um futuro de qualidade, porém, pouco tem sido feito e cada vez mais observamos uma série de problemas, como mudanças climáticas, escassez de água, poluição e outros que necessitam de medidas inovadoras imediatas. Diante disso, as deep techs surgem com potencial para oferecer soluções às adversidades atuais e futuras.
As deep techs são tecnologias avançadas que atuam na criação de soluções inovadoras para desafios complexos em diversos âmbitos, como a causa ambiental. Hoje, já podemos ver exemplos concretos do impacto delas no tratamento de resíduos, na produção de energia limpa e renovável, na agricultura sustentável, no apoio à economia circular e até mesmo na redução da pegada de carbono das indústrias, sendo essencial para combater as mudanças climáticas. Para termos uma ideia de seu potencial, de acordo com o relatório "Deep Tech: The Great Wave of Innovation" da Hello Tomorrow, 97% das deep techs contribuem com pelo menos um dos ODS da ONU.
Naturalmente, os investimentos em startups que utilizam tecnologias complexas são mais complicados se comparados a outras startups, devido à elevada percepção de risco para estes negócios e também à sua natureza de retorno a longo prazo. Para desenvolver essas inovações, costuma-se levar um certo tempo, o que acaba afastando alguns investidores. E quando falamos de deep techs com foco específico em sustentabilidade e meio ambiente, o caminho parece ser ainda mais difícil.
Apesar da relevância dessas startups e de seu potencial para abordar problemas socioambientais, os investimentos em empreendimentos com esse enfoque não refletem a urgência atual. As questões socioambientais não têm sido um critério que efetivamente impacta a decisão do investidor. Em um estudo com deep techs brasileiras, que realizei junto a outros pesquisadores da FEA/USP, vimos que a sustentabilidade não demonstra exercer uma influência notável na atração de investimentos em deep techs, sejam estes investimentos de mercado ou governamentais.
A falta de investimentos nas soluções com foco sustentável reflete uma priorização inadequada de recursos e uma visão de curto prazo que ignora as necessidades urgentes do planeta e das gerações futuras, limitando o desenvolvimento de inovações importantes. É preciso que os investidores, sejam eles do setor público ou privado, reavaliem suas prioridades e aloquem recursos significativos para negócios que buscam resolver essas questões através da ciência e tecnologia. É essencial um maior reconhecimento dos elementos de sustentabilidade do ponto de vista dos investidores e a capitalização do impacto socioambiental que os empreendimentos deep tech podem ter.
Enfim, a meu ver, fica claro o quanto as deep techs, especialmente aquelas com foco em causas sustentáveis, são necessárias para enfrentar os desafios socioambientais, que já estão causando prejuízos em todo o mundo. Os investimentos e a colaboração entre os múltiplos atores devem ser urgentes, é preciso que os players comecem a entender essa necessidade e vejam a sustentabilidade como critério importante na hora de investir. Quem sabe assim, conseguimos desenvolver cada vez mais soluções para impactar o futuro.
*Ana Calçado é CEO e presidente da Wylinka, organização sem fins lucrativos que transforma o conhecimento científico em soluções e negócios que melhoram o dia a dia das pessoas e fomentam o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil. Pós graduada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, com estudos de pós graduação em Inovação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT – professional education), mestre em Ciências de Alimentos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em Bioquímica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana também é doutoranda pela USP em Administração e pesquisadora em Inovação e Gestão Tecnológica.