OPINIÃO

Ativos estressados: Entenda o que é o conceito de leveraged buyout

por João Chebante

20 de Outubro de 2025, 06h10

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Divulgação

Você sabe o que são ativos estressados? Basicamente, são os produtos de investimentos que sofrem dificuldade em honrar compromissos financeiros. Infelizmente, no atual cenário do mercado brasileiro, cada vez mais as empresas se deparam com desafios que vão além das oscilações financeiras.

Porém, nem todo ativo estressado necessariamente é fruto de questões econômicas: uma sucessão de negócios mal planejada, fatores técnicos ou comerciais desatualizados e até mesmo revisão da reputação de mercado podem colocar as organizações em posição de vulnerabilidade. É justamente nesse contexto que o conceito de Levarage Buyout (LBO), ou aquisição alavancada, em tradução livre, é uma ferramenta estratégica que tem ganhado destaque.

O processo de LBO é quando uma empresa adquire outra financiando a maior parte da compra com recursos emprestados, normalmente por meio da emissão de títulos ou da garantia de empréstimos. Diferentemente de uma aquisição tradicional, esse modelo é relacionado a processos de turnaround, ou seja, à reestruturação completa da gestão da empresa para gerar valor, especialmente quando a venda para um player estratégico se mostra difícil ou pouco atrativa. 

Acredito que o momento em que o país se encontra reforça o potencial dessa estratégia, porque um cenário macroeconômico desafiador, combinado à demanda reprimida de negócios e investimentos, tem levado a recordes de pedidos de recuperação judicial (RJs). Para se ter uma ideia, de acordo com o último levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), mais de 7,2 milhões das empresas no país não conseguem pagar as dívidas, correspondendo a fatia de 31% dos negócios ativos no país. 

Já o número de pedidos de recuperação judicial cresceu 61,8% em 2024, alcançando 2.273 solicitações, sendo o maior volume da série histórica em 2006. Além disso, a transformação digital é outro fator que não pode ser ignorado. As tecnologias emergentes, os novos modelos de operação e as mudanças no comportamento do consumidor em um mercado cada vez mais competitivo têm acelerado o processo de obsolescência das empresas. 

Ou seja, as organizações que não acompanharem esse ritmo podem rapidamente se tornar ativos estressados, mesmo que sejam financeiramente estáveis. Os profissionais e investidores que compreendem o conceito de LBO e aplicam práticas de turnaround têm a oportunidade de resgatar valor e reposicionar negócios no mercado. 

Portanto, a meu ver, entender esses ativos estressados e a dinâmica de LBO é essencial para qualquer investidor ou gestor que queira transformar desafios em oportunidades reais. Para pegar dois exemplos notórios, A AmBev é formada a partir de uma aquisição de ativo estressado (a Brahma, por parte dos sócios do Banco Garantia), bem como a Somos Educação é um caso de LBO + turnaround de uma série de ativos educacionais, liderados pela Kroton à época.

O Brasil, embora tenha um cenário desafiador, tem um grande potencial, e demonstra que ativos estressados não são sinônimo de fracasso, mas, de oportunidade para inovação e gestão estratégica de alto impacto. E você, está preparado para a nova era?

*João Chebante é CEO da Sinergis, empresa brasileira especializada em revenda de software e consultoria estratégica para a transformação digital.