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Baixa no número de consultas a CPF e CNPJ e alta dos negativados preocupam comércio local
Dados do Painel de Eficiência da CDL mostram redução na procura e oferta de crédito impactados por forte aumento da inadimplência no comércio local
20 de Novembro de 2024, 08h45
De 2022 a 2024, o comércio varejista de Rondonópolis enfrenta baixa procura e oferta de crédito e, em contrapartida, aumento significativo nos números da inadimplência em nível local. É o que mostra o Painel de Eficiência, levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Rondonópolis (CDL), com base nos registros de consultas e negativações no sistema oficial do SPC Brasil.
Baixa procura e oferta de crédito, na prática, podem representar menos movimentação de consumidores no comércio varejista local e, claro, menos negócios formalizados. As consultas aos dados dos clientes são parte das tratativas de negociação, em especial no que diz respeito a parcelamento, compras no cartão e condições especiais, por exemplo. Somados aos dados da inadimplência crescente nos últimos três anos (22, 23 e 24), os números apontam para um cenário de crise menos ou mais acentuada, de acordo com cada período do ano.
Do número de consultas, o Painel de Eficiência da CDL mostra que em 2024, todos os meses registraram índices menores que os correspondentes em meses em 2023. Em outubro deste ano, dado mais recente, foram registradas 43.132 consultas a CPF ou CNPJ, 21% a menos do que havia sido registrado em outubro do ano anterior (54.266 consultas). As variações negativas, ou seja, as quedas, vão de –9% a –25%. O índice mais baixo na comparação 23/24 foi registrado em março.
No comparativo mais antigo, entre 22/23, a variação foi menos sentida, conforme os dados do levantamento. Ainda assim, apenas nos três primeiros meses de 23 o número de consultas foi positivo, indicando maior busca por crédito no comércio local. Em agosto de 23, a queda chegou a –20% na comparação do período.
Para o presidente da CDL de Rondonópolis, dr. Leonardo Santos de Resende, o levantamento confirma a sensação de parte do comércio varejista local. “Os números têm confirmado que nós temos escutado do comércio local, que as vendas têm caído ultimamente. Isso preocupa porque os lojistas precisam constantemente buscar formas alternativas para atrair cada vez mais o seu cliente e muitas coisas influenciam nisso, nessa diminuição das vendas. O e-commerce, a diminuição do poder de compra do consumidor e, agora por último, a situação das bets (apostas esportivas e cassinos online). Enfim, são muitos desafios”, diz. “Junta-se a isso, também, o poder de compra reduzido da população. Isso causa grande preocupação”, completa.
O presidente pontua, ainda, a recuperação lenta do comércio varejista no chamado pós Covid. “No Covid o comércio foi muito penalizado, com diminuição clara de consumo, o que dificultou muito para o comércio local. Comércio, processadores de serviço em geral... tudo impactou e isso torna cada vez mais difícil quando se fala em fechar as contas no final do mês. O faturamento cai e, consequentemente, a capacidade de pagamento para os colaboradores também cai, podendo gerar até diminuição dos empregos”, ressalta. “Como sempre os lojistas, os empreendedores tem que buscar formas alternativas de resolver o problema. Os problemas estão aí, não adianta esconder, mas é preocupante”, afirma.
Inadimplência
Em outro recorte do Painel de Eficiência da CDL, os números de negativados mostram variações de até 134% na comparação 22/23. O índice foi registrado no mês de junho. Neste período de comparação, apenas em julho e agosto houve queda.
A negativação no sistema do SPC Brasil é feita por cada lojista credor, que passa a considerar o consumidor como inadimplente, em média, após 90 sem a regularização da parcela do produto adquirido. Uma vez incluídos, os dados são contabilizados na plataforma. “É importante destacar que o aumento do número dessas negativações reflete claramente a diminuição de capacidade das pessoas para compra. E é aquela compra do boleto, aquela compra que acaba sendo a última que o cliente paga”, argumenta Resende. “Quando se compra no cartão de crédito, isso não vem para nós, não tem implicação para o comércio local. Já essas compras a prazo, parceladas, é que acabam gerando problema. E isso vai dificultando cada vez mais. A pessoa está endividada, está negativada, vai comprar, não consegue comprar. Se ela não consegue comprar prazo seu poder de compra diminui, e se o poder de compra diminui as lojas não conseguem vender. É uma bola de neve. E aí se mantém a esperança do lojista, que é sempre receber em curto prazo, mas não é fácil”, analisa o presidente.