ECONOMIA
Com alta na exportação, consumidores pagam mais caro na carne no Brasil
Em novembro, Índice de Preços ao Consumidor constatou alta de 6,04% no contrafilé
21 de Novembro de 2019, 14h39
O Brasil, maior exportador global de carne bovina, está faturando com a maior demanda da China, mas os consumidores brasileiros estão por tabela pagando mais pelo produto nos açougues, enquanto frigoríficos têm sido pressionados a fazer ofertas recordes por bois nas fazendas.
A fome chinesa para preencher o buraco deixado pela peste suína africana na criação de porcos já é sentida setorialmente nos índices de inflação no Brasil e ainda pressiona margens da maior parte dos frigoríficos do país, segundo especialistas.
Além da forte demanda da China após novas habilitações de indústrias de bovinos pelos chineses -- que passaram de 16 no início do ano para 40 unidades atualmente, segundo a Abrafrigo--, um dólar em máximas históricas frente ao real também favorece as exportações.
"Estamos no auge da captação desses aumentos de preços, a carne vai continuar subindo e vai impor um desafio para a dona de casa. Quando a carne bovina sobe, outras carnes também sobem, ainda que não houvesse razão para isso, elas sobem pela questão da substituição (do produto)", disse o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) André Braz, da Fundação Getulio Vargas, que acompanha índices inflacionários.
Não fossem poucos os fatores de alta, a proximidade das festas de final de ano gera uma demanda adicional por carnes, há o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro neste mês e uma oferta mais restrita de bovinos prontos para o abate.
"A gente já está assistindo sim uma alta forte, tem a ver com sazonalidade, e também com demanda chinesa. Isso gera choque de oferta", completou Braz, em entrevista à Reuters.
"Com a chegada do décimo terceiro, o consumidor compra mesmo, e este comprar é o sinal verde para aumento de preços. O dever de casa seria comprar menos, mas vai dizer para a pessoa não celebrar o final do ano?"
Pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo, da FGV, a carne bovina apareceu entre os destaques em novembro, com alta de 5,26%, dez vezes mais do que o visto em outubro.
"Dá para ver que houve um avanço significativo no preço da carne bovina, já pronta para ir para o açougue", comentou Braz, sobre a carne mais significativa para a inflação.
Em novembro, Índice de Preços ao Consumidor constatou alta de 6,04% no contrafilé, enquanto em outubro havia subido 2,69%.
"Parte da alta ao produtor é repassada sim, e dado que está subindo ao produtor, a carne vai continuar pressionando inflação em novembro e dezembro...", disse Braz.
Isso em momento em que o preço da arroba do boi gordo, acompanhado pelo indicador Esalq/B3, atingiu um recorde de 204,05 reais na terça-feira, acumulando alta de 19,54% no mês, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que também registrou nesta semana nova máxima histórica para a carcaça bovina na Grande São Paulo, de 13,90 reais/kg.
A inflação no país, no entanto, tem se mantido abaixo do piso da meta oficial para 2019, de 4,25% pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.