Cinema
‘Os mercenários 2’ aposta em mito de Chuck Norris e autoironia
Liderado por Stallone, elenco faz 'paródia' de filmes de ação dos anos 1980. Norris e Van Damme são novidades do longa
22 de Agosto de 2012, 07h19

Quem ainda é capaz de rir com as piadas acerca dos poderes sobre-humanos atribuídos a Chuck Norris terá um motivo ou outro para aproveitar "Os mercenários 2", que estreia no Brasil em 31 de agosto. São referências à "mitologia" criada em torno do homem que devem render mais empolgação aos espectadores. Mas a disposição à autoironia é um acerto maior. Mais do que seu antecessor, lançado em 2010, esta sequência expõe o quão desgastados estão seus protagonistas, vividos por astros do cinema de ação de duas décadas e meia atrás.
Nan Yu, Terry Crews, Sylvester Stallone, Randy Couture e Dolph Lundgren e cena de 'Os mercenários 2' (Foto: Divulgação)
A sátira já estava em "Os mercenários", mas agora Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Jet Li, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger - este último, sobretudo - fazem até chacota com a possibilidade de irem parar em museus. Os diálogos recorrem com frequência a frases tornadas célebres com franquias estreladas pelos atores: "O exterminador do futuro", de Schwarzenegger, é uma delas. A ideia é sempre mostrar que o riso despertado não é involuntário. E o filme consegue isso.
Mas o time fracassa, alguém morre. Porque, do contrário, o filme não teria razão de ser. E porque entra em cena Jean-Claude Van Damme, o vilão da vez, disposto a sabotar a missão. Tudo pretexto para que o diretor, Simon West ("Con air", "Assassino a preço fixo"), conduza a cota prevista de cenas de tiroteios, detonações, embates físicos etc. Aparentemente, ele teve direito a mais dinheiro que Stallone, a quem coube a direção de "Os mercenários".A continuação supera o capítulo inaugural em todos os critérios, mas "Os mercenários 2" se apresenta como um cinema simplório, do enredo às atuações. De novo, temos uma espécie de reunião de ex-anabolizados, ou não tão "ex". Sob liderança de Stallone, Lundgren e Li, mais Randy Couture, Jason Statham e Terry Crews, a equipe é convocada por Willis a resgatar o conteúdo de um cofre inviolável. Estarão acompanhados por um novato interpretado por Liam Hemsworth ("Jogos vorazes") e por uma perita em tecnologia, papel da chinesa Nan Yu.
Schwarzenegger, Stallone e Bruce Willis contracenam de 'Os mercenários 2' (Foto: Divulgação)
O sangue surge aqui em maior quantidade, corpos explodem, são decepados. O objetivo parece ser um aceno à geração que cresceu assistindo aos violentos trabalhos Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, cineastas cultores de produções antigas que compensavam o orçamento limitado com selvageria ilimitada. O diálogo com essa parcela do público é revelador da ambição de "Os mercenários 2": alcançar plateia maior que aquela nascida a tempo de ter visto no cinema "Rambo II - A missão" (1985), "Duro de matar" (1988) e "O grande dragão branco" (1988).
Também é sintomática a transformação de Chuck Norris em isca para falar a pessoas ainda mais jovens. Foi via internet, afinal, que as "façanhas" do ator acabaram popularizadas e banalizadas. Que seu nome passou a circular entre admiradores recentes, que não têm idade para saber quem foi Scott McCoy, de "Comando delta" (1986), ou o Braddock do filme homônimo, de 1984. Neste particular, no entanto, "Os mercenários 2" perde o passo: perto do desfecho, ele fica refém do "recurso" Chuck Norris. A boa piada pode até resistir à repetição. Jamais à repetição gratuita e, mais grave, involuntária.