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Cafezinho mais caro: pó de café sobe mais de 60% nos últimos 12 meses

Conheça os investimentos que mais se beneficiaram da alta da commodity, que chegou a subir mais do que a gasolina

por Da redação

23 de Maio de 2022, 16h26

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Divulgação

O cafezinho cotidiano está ficando cada vez mais caro: de acordo com dados do IBRE-FGV, nos últimos doze meses, o pó de café subiu 62,36% no Brasil. E se esse número parece alto, um levantamento realizado pela Stake, plataforma de investimentos no exterior, mostra que no mercado internacional a alta foi ainda maior: os contratos futuros de café arábica negociados na ICE (uma das principais bolsas de valores dos Estados Unidos) sobem 71,12% em dólares. Em reais a alta seria ainda maior, uma vez que a moeda americana sobe mais de 10% no ano.

“Problemas de logística na cadeia global e seca na região sudeste do Brasil, um dos principais produtores do mundo, foram os catalisadores dessa alta vigorosa”, explica Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake. Os motivos para que o aumento no país não acompanhasse a alta internacional são um pouco mais complexos: “As companhias costumam utilizar os contratos futuros como ‘hedge’, travando uma cotação para garantir estabilidade de preços em períodos futuros e evitar repassar grandes flutuações de preço para os consumidores”, justifica o analista. “Mas se a alta continuar, inevitavelmente isso vai chegar no consumidor final. Eventualmente os hedges vencem e você precisa fazer a rolagem dos contratos”, complementa.

Apesar de elevar os custos do dia a dia, a alta do café foi fonte de oportunidade para alguns investidores: o JO, ETF que investe nos contratos futuros da commodity, sobe 65,6% nos últimos doze meses. “Os custos envolvidos na rolagem dos contratos futuros acaba fazendo com que o ETF não acompanhe 100% o preço do café, mas ele é a forma mais simples de se expôr à commodity”, explica o especialista.

A alta do café também não beneficiou a todos no setor igualmente. A Coffee Holding Company (JVA), cai -29% no mesmo período. “Isso ocorre porque ela foca na produção de cafés orgânicos e especiais, onde as margens já são elevadas e, portanto, não conseguem repassar grandes aumentos de preços”, diz Lima. 

Já o Starbucks, principal rede de cafeterias dos Estados Unidos e com milhares de lojas no mundo todo, cai -15,5%. “Ainda que o Starbucks seja conhecido no Brasil por praticar preços elevados considerando o mercado local, ele encontra dificuldades para subir preços em um cenário em que o consumo global já se encontra deprimido devido à pandemia da Covid-19. Provavelmente a companhia realiza operações de hedge, porém caso a alta persista e as economias globais não mostrem sinais de recuperação, a empresa pode enfrentar sérias dificuldades”, comenta o especialista.

A expectativa dos principais analistas de mercado é que a recuperação do setor de logística mundial contribua para que não apenas o café como todas as outras commodities possam retornar a preços mais palatáveis. No entanto, se a logística e as chuvas não contribuírem, é possível que a expressão “ouro negro” seja não mais utilizada para se referir ao petróleo, mas sim ao cafezinho de todos os dias.