ROSANA LEITE

Coronavírus e mulheres

por ROSANA LEITE

25 de Março de 2020, 11h40

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

O mundo vive situação extrema de cuidado e solidariedade. O nervosismo com a excepcionalidade é realidade. É vivida a quarentena mundial, onde as pessoas devem ficar retidas obrigatoriamente em seus lares, para evitar a proliferação da doença. Em que isso afeta a violência contra as mulheres?

Simone de Beauvoir, nas décadas de 40 e 50, porém, com ideias atuais, foi clara: “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”. É incrível o quanto a vigilância deve ser constante. Em nenhum momento da vida é possível o “descuido” quanto aos direitos humanos das mulheres. Sem contar os fatos a serem enfrentados cotidianamente por elas, e que surgem sempre que algo possa não estar correndo nos trâmites do esperado.

Pois bem. Dentro de todo esse cuidado extremo, com o gênero feminino não poderia ser diferente. Além da preocupação com a pandemia, com a família, com o afastamento do trabalho fora de casa etc., as mulheres ainda devem se preocupar e atentar com outra situação: a violência doméstica e familiar.

A proximidade dos casais, estando diuturnamente dentro dos lares para cumprir com os protocolos para a não proliferação do COVID-19 tem ocasionados problemas de desentendimento nos lares. O que deveria ser motivo de união dos parceiros e parceiras, vem se tornando motivo de lavratura de boletins de ocorrência em larga escala.

Na China, país onde eclodiu primeiramente o vírus, segundo ONGs que atuam na proteção e defesa dos direitos das mulheres, constatou-se aumento de três vezes mais violência doméstica e familiar. Por lá, mulheres noticiaram, até por redes sociais, as violências sofridas em período de reclusão para conter a propagação da infecção.

No Brasil, tendo em vista o desenvolvimento pelo gênero feminino das duplas e triplas jornadas, a falta de álcool gel ou mantimentos em casa já tem mostrado certo “descontentamento” dos companheiros para com as suas amadas. Começarão elas a serem culpadas também, caso filhos ou filhas venham a adquirir a doença? Não duvido.

Muitas mulheres são culpadas quando os seus rebentos caem, se machucam, ou contraem qualquer enfermidade. Isso já é comum. Afinal de contas, se querem elas desenvolver trabalhos fora de casa, que consigam cuidar também, das coisas do lar. Sempre foi assim...

Há muito tempo não é possível aceitar que homens são nervosos por “natureza”, e que mulheres devem se “conformar” com essa máxima. Homens e mulheres devem respeito mútuo, em qualquer situação. Aliás, primordialmente em situações de crise, tal qual a vivida no momento.  

O gênero feminino deve saber e se conscientizar que a violência contra as mulheres nunca tirou férias. Assim como as Delegacias de Defesa da Mulher, os Núcleos de Defesa da Mulher da Defensoria Pública – NUDEM -, os Ministérios Públicos que atuam no enfrentamento à violência contra as mulheres, bem como, o Poder Judiciário.

A hashtag #AntiDomesticViolenceDuringEpidemic, ou seja, #ContraViolênciaDomésticaDuranteEpidemia, foi usada mais de 3 mil vezes na rede social chinesa com relatos de violências doméstica durante a epidemia.

A pandemia não pode e nem deve ser motivo para esquecimento ou enfraquecimento do combate. Muito pelo contrário, o cuidado deve ser ainda maior, já que os casais estão unidos obrigatoriamente em casa, pela quarentena.

Todavia, existem algumas exceções para a saída de casa, usando luvas e álcool gel... Farmácia, mercado, e, ainda, Delegacias de Defesa da Mulher em caso de violência   

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.