OPINIÃO
Lipedema: quando o inchaço nas pernas não é só “retenção de líquido”
25 de Julho de 2025, 17h43

Você já ouviu falar em lipedema? Embora afete até 11% das mulheres, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), essa doença crônica ainda é pouco conhecida e frequentemente confundida com sobrepeso, celulite ou retenção de líquido. Caracterizado pelo acúmulo anormal de gordura nos braços e pernas, o lipedema provoca dor, inchaço, hematomas frequentes e afeta a qualidade de vida das pacientes.
O desconhecimento sobre a condição é um dos maiores desafios no diagnóstico. Muitas pacientes passam anos tentando emagrecer, ouvindo que precisam se esforçar mais, quando na verdade sofrem de uma disfunção metabólica e inflamatória que não será resolvida apenas com dieta e academia. Isso ocorre porque essa gordura é patologicamente resistente à dieta e ao exercício físico.
Entre os sinais de alerta mais comuns estão: acúmulo de gordura simétrica nos membros inferiores e/ou superiores, dor constante, hematomas sem causa aparente, sensação de peso nas pernas, histórico familiar da condição e dificuldade de emagrecimento localizada, mesmo com hábitos saudáveis.
O tratamento do lipedema envolve a abordagem integrativa e tem mostrado resultados significativos na melhora dos sintomas, da dor e da mobilidade. Apesar de ser reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019 e já constar na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) como um “distúrbio do tecido adiposo com predominância em membros inferiores e simetria corporal”, o lipedema ainda sofre com o subdiagnóstico. A adoção da nova classificação no Brasil, inicialmente prevista para 2025, foi adiada para 2027, o que atrasa o acesso a protocolos clínicos padronizados.
A falta de formação médica sobre o tema contribui para abordagens equivocadas. Estudos apontam que 88% das mulheres com lipedema já ouviram de profissionais que deveriam apenas emagrecer, sem que a real natureza da doença fosse investigada. Isso reforça estigmas e retarda o tratamento.
Mais do que controlar os sintomas, tratar o lipedema é reconhecer o corpo feminino com respeito, ciência e escuta. O corpo feminino, historicamente subvalorizado na medicina, precisa ser compreendido com mais profundidade, ciência e sensibilidade.