O discurso inicial da ministra Damares Alves, em Rondonópolis, foi marcado pela conotação a ‘La Bolsonaro’. Referindo-se aos povos indígenas, a chefe da Pasta da Mulher, Família e Direito Humanos, a “mamãe” da Funai -como ela mesmo se disse durante o discurso- definiu este como sendo o “governo que ama índio”.

Na fala da ministra: “Pode ter alguém passando e vendo esta festa se perguntando o motivo de tantas autoridades juntas aqui, se é uma obra em inauguração, que evento grandioso seria esse que reúne deputados, senadores, ministra imprensa e dizer ‘‘peraí (sic), mas é índio?! Estão reunindo tanta autoridade assim por causa de índio?!”, disse. Em seguida, completou: “Este é o maior evento do Governo Bolsonaro: cuidar de vidas”.  O tom da fala ao utilizar o termo “peraí(sic), mas é índio?!?...” provocou certa polêmica.  Damares seguiu o pensamento em defesa das políticas do atual governo. Se referiu, ainda, a participação cancelada da primeira-dama, Michele Bolsonaro. “A primeira-dama não veio porque descobriram. Ela queria vir no anonimato e entregar cesta básica pra índio. Por que este é um governo que ama índio”.

O discurso também rebateu manifestações nacionais e internacionais que acusam Bolsonaro e seus ministros de descaso com a proteção preservação dos povos. Um dos movimentos de maior repercussão é encabeçado pelo fotógrafo Sebastião Salgado. “Fotógrafo que está milionário, que ficou rico vendendo foto de índio lá fora. Quanto desse dinheiro, que ele conseguiu, ele mandou pra aldeias de Mato Grosso ou pros povos indígenas? Quanto foi pra Funai? Ele está milionário e mora lá fora. Quem ama o índio de verdade está aqui. Depois vem falar que Bolsonaro é genocida, que está matando índio. Se está tão preocupado vem cuidar do brasileiro aqui, do índio aqui. Quem ama o Brasil está aqui”.

A campanha encabeçada por Salgado ganhou adeptos mundo afora. Tem apoio de artistas de diversas nacionalidades, contando com nomes como os cantores Chico Buarque, Caetano Veloso, Paul MacCartney, Madona e Sting; os atores Richard Gere e Meryl Streep; o escritor Mário Vargas Llosa, os cineastas Pedro Almodóvar e Fernando Meireles, entre outros. "Este governo é anti-­indígena, anti-Amazônia, anticultura. Nunca, na história, os índios estiveram tão ameaçados. Eles estão lutando pela sobrevivência. No momento, há mais de 20 000 garimpeiros incentivados pelo presidente no território ianomâmi. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem processo ambiental contra ele. Moralmente, nem deveria ser ministro. É um violador permanente do meio ambiente", disse o fotógrafo em recente entrevista à Veja.

Quem também discursou a pedido de Damares foi a secretária nacional da igualdade racial, ligada ao Ministério. “Outros governos sempre fizeram politicagem com índio para depois os deixarem na miséria. O índio aqui era pra gringo ver e tirar foto. No nosso governo, o índio ocupa o primeira escalão, isso nunca se viu antes no Brasil. Não viemos fazer politicagem com o índio, viemos alimentar”, finalizou a ministra.