OPINIÃO

Resistência e Resiliência: o que você não vê por trás da conta do restaurante

por Daniel Teixeira

29 de Julho de 2024, 13h20

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Divulgação
Bares e restaurantes enfrentam uma crise de mão de obra que vai além das fronteiras locais. Em um fenômeno global, a escassez de trabalhadores tem se tornado uma questão crítica, afetando não apenas o Brasil, mas o setor de alimentação em todo o mundo.
A pandemia trouxe à tona um descontentamento crescente com os empregos tradicionais. Segundo pesquisa da McKinsey & Company, muitos jovens rejeitam as formas convencionais de trabalho em favor de maior flexibilidade e autonomia. Essa mudança de perspectiva está diretamente ligada ao aumento das demissões voluntárias e à busca por alternativas mais alinhadas com seus valores e estilo de vida. A geração Z, em particular, prioriza a independência e flexibilidade, o que tem levado a uma crescente dificuldade em encontrar funcionários para trabalhar em horários tradicionais e finais de semana.
Esse fenômeno tem impacto direto nos custos operacionais dos estabelecimentos. A escassez de mão de obra não só aumenta os salários e benefícios necessários para atrair e reter funcionários, como também força os empresários a lidar com custos adicionais, como transporte e segurança, que frequentemente não são compreendidos pelos consumidores. Além disso, o aumento dos preços de alimentos e insumos é um reflexo direto desses custos elevados. Quando os clientes veem o preço mais alto na conta, muitas vezes não compreendem que esse valor é resultado de uma complexa teia de desafios enfrentados pelos donos de restaurantes.
A concorrência com o setor informal, que não arca com impostos e custos regulatórios, exacerba ainda mais a situação. Esses negócios informais, que ocupam espaços públicos sem pagar as devidas taxas e contribuições, desviam clientela dos estabelecimentos legais e regulamentados. Esse desequilíbrio prejudica diretamente aqueles que seguem as regras, impactando negativamente a sustentabilidade e a competitividade do setor formal.
O apelo é claro: todos somos usuários de restaurantes. Eles não são apenas locais de lazer e alimentação, mas fazem parte de nossa cultura e comunidade. É preciso reconhecer que os empresários do setor são, na verdade, heróis da resistência. Eles lutam diariamente para gerar empregos, sustentar famílias e enfrentar uma carga tributária e regulatória opressiva.
A compreensão e o apoio dos consumidores e do governo são fundamentais. Precisamos que os consumidores valorizem o esforço e os desafios enfrentados pelos donos de restaurantes e reconheçam que o preço que pagam reflete não apenas o custo dos ingredientes, mas também a complexidade de operar um negócio em um ambiente adverso. O governo deve adotar uma abordagem mais justa, reduzindo a carga tributária e apoiando políticas que incentivem a formalização e o crescimento do setor.
Os prestadores de serviços também têm um papel crucial a desempenhar. A colaboração e o entendimento mútuo entre todos os envolvidos podem ajudar a aliviar as pressões enfrentadas pelos empresários e criar um ambiente mais sustentável e justo para todos.
Em resumo, o setor de bares e restaurantes está em uma encruzilhada. A luta por mão de obra e a necessidade de compreensão e apoio são desafios que todos devemos enfrentar juntos. Valorize o trabalho árduo dos empresários e reconheça o impacto profundo que eles têm em nossa vida cotidiana. O futuro do setor depende da nossa capacidade de colaborar, entender e apoiar aqueles que trabalham para oferecer não apenas uma refeição, mas uma parte essencial da nossa cultura e convivência.
Daniel Teixeira é advogado, empresário e conselheiro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Cuiabá).