CORONAVÍRUS

Rede Pública de Saúde dispõe de número limitado de respiradores em Rondonópolis

Em caso de surto, quantidade atual de equipamentos não atenderia nem 0,5% da população

por Robson Morais - De Rondonópolis

03 de Abril de 2020, 13h27

UPA de Rondonópolis / Foto: Prefeitura
UPA de Rondonópolis / Foto: Prefeitura

Rondonópolis ganhou um reforço recente na quantidade de respiradores disponíveis na Rede Pública de Saúde. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA), por exemplo, contava, até poucos dias, com apenas 5 equipamentos. Nesta semana ganhou outro sete. Agora são 12 disponíveis, até o momento da publicação desta reportagem. “A Secretaria de Saúde informa que já fez o empenho solicitando a entrega de mais três respiradores (estes já foram comprados) e está negociando a compra de mais 30”, anunciou à reportagem a Secretaria Municipal de Saúde. Entretanto, enquanto estes novos não chegam, o que há no município pode ser pouco. Pode inclusive, mesmo após a chegada, continuar sendo.

Além da UPA, a Rede Pública de Rondonópolis conta com o Hospital Regional e Santa Casa, que atende ao Sistema único de Saúde (SUS). No Regional são 25 respiradores para atendimentos de demandas de trauma, urgência e emergência. “A SES-MT está providenciando a aquisição de novos aparelhos para serem distribuídos entre as suas unidades hospitalares. A compra é realizada em caráter emergencial, conforme autoriza o Decreto governamental nº 407/2020”, informou à reportagem a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT). Na Santa Casa, o número exato de respiradores não foi informado. Ao GazetaMT, uma fonte do hospital ressaltou que “há o suficiente para o atendimento da demanda interna”. O hospital filantrópico possui 64 leitos de UTI, não todos direcionados a pacientes de Coronavirus. Recentemente, uma ação de empresários possibilitou a compra de sete respiradores de grande porte e outros sete portáteis. “Nós ainda temos alguns equipamentos que estão em manutenção”, completa a fonte.

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Atualização (às 13h53)

Logo após a publicação desta reportagem, a Santa Casa informou a organização de 10 leitos extras de enfermaria e 10 leitos de UTI para os atendimentos dos pacientes com coronavírus, aguardando contratualização. Também de 2 leitos de UTI e 3 leitos de enfermaria pediátricas, para atender as crianças acometidas pela doença. Todos os leitos com respiradores. 

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Ambas as unidades de Saúde, Hospital Regional e Santa Casa, porém, não são de uso exclusivo da população de Rondonópolis. Atendem a 19 municípios da região Sul/Sudeste do Estado. Todos os pacientes que necessitam de cuidados especializados, como UTI e equipamentos específicos, são -e serão- encaminhados para cá.

Em uma cidade como Rondonópolis, com aproximadamente 230 mil habitantes, se um percentual de 5% contrair a forma mais grave do Covid-19 e precisar de respiradores, serão, ao todo, 11.500 pacientes na fila. Baixando o número para apenas 1% de toda a população, Rondonópolis se encontraria com 2.300 pessoas precisando de respiradores. Se fossem somente 0,5 %, o número seria de 1.500 pacientes.

Boletim

Segundo o Boletim de Saúde mais recente divulgado pelo Município de Rondonópolis, às 13h desta sexta-feira (3), a cidade se mantém com cinco casos confirmados de Coronavírus. O número de casos suspeitos saltou para 61. Dez a mais que ontem (2).

Até ontem (2), os números da Secretaria Municipal de Saúde de Rondonópolis sobre o Coronavírus já informavam os cinco casos confirmados, todos deste município, e 51 suspeitos. Em relação ao boletim divulgado pela Pasta um dia antes, na quarta-feira (1), houve aumento de seis casos enquadrados como suspeitos. A crescente nos números de casos suspeitos é uma tendência e talvez a maior preocupação por parte do Comitê de Gestão de Crise criado pelo Município. A cada novo boletim, o saldo deverá ser maior e, por isso, também as medidas de prevenção.

Perigo Eminente

A pedido do site GazetaMT, a Saúde Municipal fez avaliações pontuais da atual situação de Rondonópolis ante o Coronavírus. “Rondonópolis está em situação de perigo eminente de contaminação pelo coronavírus, já que conta com casos confirmados. O Comitê de Gestão de Crise está se reunindo periodicamente para avaliar a situação e definir medidas de prevenção a serem adotadas sempre que necessário. Outras restrições passam a ser avaliadas quando o município passa a ter transmissão comunitária do vírus, o que ainda não foi confirmado em Rondonópolis”.

A Pasta explica que, até este momento, Rondonópolis registrou a apenas a transmissão local do Covid-19, ou seja, quando é possível identificar a origem da contaminação. Pacientes que vieram de fora ou tiveram contato com quem viajou recentemente. A transmissão comunitária se dá quando o paciente infectado não teve contato com ninguém de chegou de viagem e nem saiu da cidade.

Hospital Regional / Foto: Arquivo

Demora na confirmação

A cada novo paciente confirmado pelo Município, tanto a Secretaria Estadual de Saúde (SESMT) quanto, posteriormente, o Ministério da Saúde são informados. Junto a confirmação enviada pela unidade de Saúde do Município, a avaliação da equipe médica responsável, resultados de exames e procedimentos para o reconhecimento. Até que isso ocorra nenhuma estatística se altera. Problema é que o processo, quando sai do município, pode demorar dias ou talvez semanas para se concluir.

Todo paciente atendido de com caso confirmado na rede particular, por exemplo, tem seu diagnóstico submetido a novos exames. Em Mato Grosso, tudo passa pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Mato Grosso -Lacen. Sem este processo não há caso contabilizado.

A exemplo, dois casos confirmados em Rondonópolis foram publicamente negados pelo secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo, há pouco mais de uma semana. As pacientes haviam sido atendidas na rede particular. Após o pronunciamento público, o Estado confirmou positivo para o Covid-19 em ambas. Resultado: secretário vindo publicamente se retratar, com direito a duras críticas pela condução do caso.  

Ainda sobre Rondonópolis, a Saúde Municipal antecipa: “o sexto caso confirmado, divulgado na tarde de quarta-feira (1) pela rede privada de saúde, não foi contabilizado pelo Município e pela Secretaria de Estado de Saúde, porque o exame da paciente apresentou resultado “indeterminado”. Uma contraprova do exame será realizada”.

Sem o resultado rápido, não se sabe quem está ou não infectado em tempo hábil. Por isso, a preocupação se volta aos casos suspeitos. Também pela demora, há quem trabalhe com base na matemática simples: a cada caso confirmado e notificado multiplica-se por três, o que supre a lacuna dos não confirmados e mostra um número mais compreensível em uma situação real.

Para tentar acelerar o diagnóstico, a SESMT busca comprar testes rápidos para Covid-19.

Santa Casa de Rondonópolis / Foto: A Tribuna

Subnotificação

Para especialistas na área da Saúde, uma consequência da demora na confirmação de casos é a subnotificação. Pelo Brasil, equipes de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo já suspeitam de que os números apresentados pelos Governos não reflitam no real tamanho da ameaça. Há casos de óbitos suspeitos de coronavírus que ainda não tiveram o exame de confirmação liberado.

Como reforçou em reportagem publicada ontem o jornal Folha de São Paulo. “Isso vem acontecendo mesmo depois de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ter solicitado, em 20 de março, que todos os casos suspeitos, independentemente da gravidade, fossem notificados por estados e municípios.

Há, ainda, casos cujos sintomas são idênticos, mas não são notificados como Covid-19. Síndrome Respiratória Aguda Grave e Síndrome Gripal são nomes que aparecem, EM âmbito nacional, em alguns dos boletins médicos divulgados e repassados aos estados e Ministério.