OPINIÃO
Podem as geomembranas potencializarem o desenvolvimento da agricultura irrigada?
03 de Setembro de 2024, 06h43
As geomembranas ganham a cada ano mais destaque na agricultura, viabilizando estratégias importantes no projeto de sistemas de irrigação. Principalmente impulsionado pela adoção da impermeabilização de canais de condução da água em grandes projetos e, também de reservatórios que trazem a segurança hídrica e econômica à classe produtora. Ainda assim, observa-se o desconhecimento deste potencial e de cuidados necessários, através de desenvolvimento de projetos em base técnica, escolha adequada da geomembrana e da segurança na sua instalação.
É importante levar em conta que o crescimento e desenvolvimento de uma agricultura irrigada exigem tecnologias que possam dar suporte às implantações sustentáveis em condições de pequenos e grandes produtores. Por outro lado, é importante que estas tecnologias sejam acessíveis àqueles que precisam de segurança técnica e operacional.
Os produtos geossintéticos, onde se inserem as geomembranas, tiveram seu grande desenvolvimento a partir da segunda metade da década de 1940, ao final da segunda guerra mundial, devido ao grande avanço na indústria petroquímica. A partir de 1980 tiveram início as aplicações mais importantes no Brasil, na impermeabilização de canais em obras públicas e que cresceram com grande viabilidade nos últimos 15 anos, com grande desenvolvimento da agricultura irrigada. Assim, o uso das geomembranas popularizou-se como um elemento fundamental para dar suporte ao desenvolvimento desses projetos, com eficiência na condução e preservação de água.
A presença de reservatórios permite maior segurança da área irrigada, possibilitando superar problemas ocasionados por manutenções corretivas e preventivas no sistema de captação de água (superficial ou subterrâneo), sem risco de afetar a qualidade da operação. Também possibilita irrigar em condições de baixa disponibilidade hídrica, armazenando parte da água necessária nas épocas mais importantes do desenvolvimento das culturas, normalmente de alto valor agregado (hortifruti) em áreas de pequeno e médio porte.
Uma outra ação associada aos reservatórios é o ajuste do potencial de irrigação de projetos com lâmina deficitária em relação à demanda real, fato esse comum em algumas culturas e regiões em função de erros ou limitação orçamentária no momento da implantação. Eles também permitem uma economia na conta de energia, pela possibilidade de otimização do uso energético nas adutoras (grande extensão e/ou com grande diferença de nível) através da utilização nos horários de menor custo da energia.
Destaca-se em regiões de grande crescimento da agricultura irrigada, a ampliação efetiva da área irrigada através de dimensionamento da lâmina a ser retirada do corpo d’água abaixo da real necessidade da cultura, com complementação daquela armazenada para os períodos de maior demanda. Assim, dizemos que de forma planejada o volume de água a ser armazenado é conseguido nos períodos de menor demanda hídrica da cultura e/ou maior disponibilidade de recursos hídricos (período das chuvas).
Se insere no caso anterior, também, o uso de água subterrânea, cujo custo elevado de investimento (perfuração, acabamento e sistema de bombeamento) é viabilizado através desta ampliação da área a ser irrigada. Além também da diminuição dos riscos de perda de produtividade em caso de problema em um dos poços, já que é possível o reservatório receber a água de vários outros poços e redistribuí-la para os sistemas de irrigação.
É importante, também, não deixar de destacar alguns outros usos dos reservatórios impermeabilizados pelas geomembranas. Como exemplo, viabilizar o uso da energia solar na captação de cursos d’água nas horas de disponibilidade de luz solar, possibilitar ainda o tratamento da água com problemas de qualidade química e/ou física em condições de irrigação localizada e tantas outras possibilidades.
Assim, analisando a importância dos reservatórios no processo de segurança da produção irrigada, percebemos a necessidade de que eles tenham características construtivas adequadas do ponto de vista técnico, sem simplificações e economia que possam comprometer o objetivo da instalação, seja pela má qualidade da geomembrana e/ou da instalação. Não se pode correr o risco de fugas de água por infiltração que comprometam o volume necessário e que possam causar instabilidade dos taludes de terra. Gerando assim, um grande risco de rompimento de todo reservatório. Exatamente nesta importante questão, o uso profissional e adequado das geomembranas vieram viabilizar a segurança dos reservatórios e, assim, a manutenção dos benefícios citados.
Neste sentido, é básico que o uso de geomembrana exige cuidado e profissionalismo, que devem ter em mente os produtores, consultores, técnicos, projetistas, instaladores e demais interessados no tema. Do ponto de vista específico dela, destaca-se a garantia da fabricação com insumos de alta qualidade e uso de máquinas que possam assegurar a uniformidade da espessura e sua qualidade final. De outro lado, temos a escolha da espessura adequada da membrana que é uma decisão essencialmente técnica, definindo-a em função das características da aplicação, seja em canais ou em reservatórios.
Complementando a segurança e a qualidade da instalação, temos a solda dos painéis, que é uma etapa minuciosa e que exige empresas de qualidade e experiência, garantindo um processo de alto nível, tanto na implantação quanto nos testes de avaliação. Neste sentido, as prestadoras de serviço estão cada vez mais se capacitando com o auxílio das empresas fabricantes, que promovem cursos e treinamentos, acompanhando as obras e procurando trabalhar em parceria com marcas idôneas.
Interferem também na segurança, características construtivas do reservatório, relacionadas à inclinação ideal dos taludes e à compactação adequada do solo, que variam com o tipo dele e altura do reservatório. Por último, é importante avaliar o risco de rompimento associado à instabilidade do terreno ou presença de cavernas no subsolo da região de instalação.
Assim, do mesmo modo que buscamos nos projetos de irrigação, soluções que proporcionem uma agricultura irrigada com segurança técnica, econômica e operacional, o uso estratégico dos reservatórios e canais revestidos com as geomembranas tem algumas exigências. Além de uma análise técnica e econômica de todo processo, é importante uma visão estratégica compatível com os objetivos de diminuição dos riscos da produção e potencialização da rentabilidade.
* Everardo Mantovani -Professor, diretor da Irriplus, consultor na IMAFIR-MT, especialista em temas de agricultura irrigada sustentável e consultor no Grupo Nortène.