OPINIÃO
Liderança feminina na saúde e na ciência é impacto para novas gerações
30 de Maio de 2024, 06h00
Elas ocupam cargos de liderança, desafiam estereótipos e inspiram transformações profundas. Quem protagoniza esses avanços são médicas comprometidas em abrir caminho para um futuro mais promissor na saúde. O trabalho incansável dessas profissionais não apenas fortalece a equidade de gênero, mas também impulsiona uma cultura de inclusão e excelência que traz benefícios para toda a sociedade. As conquistas são muitas e cada vez mais figuras femininas assumem posições de destaque em hospitais que são referência nacional.
O papel das mulheres na prestação de cuidados de saúde é imenso; elas estão à frente do atendimento a 5 bilhões de pessoas e contribuem com R$ 15,5 trilhões para a saúde global. No entanto, conforme o relatório da organização Women in Global Health, ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade de gênero. Embora representem 70% dos profissionais da linha de frente na saúde, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de liderança. Mas essa busca pela representatividade precisa ir além da preocupação com as estatísticas, partindo do reconhecimento da capacidade profissional de cada mulher como indivíduo.
Inspirar meninas para carreiras de gestão, transformar estereótipos associados à profissão de cientista e dar visibilidade às realizações de mulheres em cargos de chefia são alguns dos desafios quando se fala sobre gênero e medicina. Nesse contexto, há a necessidade de um novo olhar para a forma como a ciência é comunicada. É preciso ver para crer que é possível conquistar espaços de destaque. As mulheres precisam ter referências a serem seguidas. Ver uma mulher realizando um trabalho relevante e memorável é inspirador para as novas gerações.
Em alguns hospitais, o cenário é bastante otimista. Há instituições que chegam a ter 70% dos cargos de liderança ocupados por mulheres. Um cenário que tem tudo para se tornar frequente. Isso porque o número de mulheres formadas em medicina deve superar o de homens ainda em 2024, segundo projeção do estudo Demografia Médica no Brasil, feito em parceria pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O estudo aponta que, ainda este ano, o Brasil terá 50,2% de médicas. Será a primeira vez com maior presença feminina na área. Em 2022, a proporção era de 51,4% de médicos e 48,6% de médicas. Em 2009, o percentual de mulheres era de 40,5%, enquanto os homens representavam 59,5% do total de profissionais.
Iniciar uma jornada em direção à igualdade é um compromisso e também um chamado para uma revolução de possibilidades. Mulheres, médicas, cientistas e líderes iluminam o caminho, ao mesmo tempo que inspiram uma geração inteira a desafiar limites e acreditar na força inesgotável de cada indivíduo, independentemente do gênero. Porque a verdadeira transformação começa quando todos têm a chance de brilhar, mostrando ao mundo o poder de suas singularidades e contribuições únicas. É hora de reconhecer o potencial e a riqueza que as mulheres líderes podem trazer para a mesa. Ao celebrarmos e capacitarmos as mulheres em suas jornadas, estamos investindo no progresso de toda a humanidade, rumo a um amanhã mais justo e próspero.
É crucial gerar e apoiar modelos que estimulem a diversidade, que incorporem uma perspectiva de gênero com foco no engajamento, reconhecimento e liderança feminina a medicina e produção científica. Apesar da variedade de contextos sociais e culturais, muitas são as semelhanças entre as inspirações e desafios enfrentados por essas profissionais na ciência. As mulheres são pioneiras da mudança, moldando um futuro de inclusão e avanços na saúde global. Sua resiliência e determinação são testemunhos vivos de uma competência excepcional.
Desafiar a invisibilidade das mulheres é uma missão diária, especialmente em campos como a ciência, onde o reconhecimento é moldado pelas contribuições intelectuais. É fundamental questionar os estereótipos arraigados sobre liderança, forjados ao longo dos séculos e amplamente difundidos. Enquanto o líder masculino muitas vezes é associado à autenticidade e assertividade, a liderança feminina ainda é estereotipada como emotiva, amável, compassiva e benevolente. No entanto, as mulheres são muito mais do que isso. Elas são visionárias, resilientes, inovadoras e estrategistas natas, capazes de liderar com determinação, habilidade e sensibilidade, contribuindo de forma significativa para o progresso e a transformação de todas as esferas da sociedade.
Não há espaço para retrocessos nesse movimento. As mulheres precisam se posicionar, acreditar em suas capacidades e comunicar-se com firmeza, buscando igualdade e respeito no ambiente hospitalar e científico. Hoje, inúmeras profissionais da saúde se destacam com trajetórias brilhantes, inspirando outras a acreditarem, persistirem e não desistirem de trilhar caminhos igualmente bem-sucedidos. Nós precisamos e podemos sonhar alto. Temos que traçar metas, perseguir nossos objetivos e persistir. Eles podem, sim, acontecer.
* Camila Hartmann é diretora técnica do Hospital Universitário Cajuru e cardiologista do Hospital São Marcelino Champagnat. Ela é pesquisadora e está à frente de um estudo sobre o impacto do coronavírus no coração.