NA MIRA

Seguem em tramitação denúncias contra prefeita de Pedra Preta

Promotoria instaurou inquéritos por supostos esquemas na Educação em concurso e PCCS

por Robson Morais

30 de Agosto de 2016, 09h00

Seguem em tramitação denúncias contra prefeita de Pedra Preta
Seguem em tramitação denúncias contra prefeita de Pedra Preta

Mariledi Araújo Coelho Philippi, prefeita de Pedra Preta Foto: Luan Dourado/GazetaMT

Desde janeiro de 2016, tramitam na Promotoria de Justiça da Comarca de Pedra Preta dois inquéritos civis contra o Executivo daquele município, a 29km de Rondonópolis. As ações tem como alvos a atual prefeita e candidata à reeleição Mariledi Araújo Coelho Philippi (PSDB), além de Arlete Silva dos Santos, secretária de Educação, sob as acusações de irregularidades nos vencimentos dos professores municipais e fraude em contratações de profissionais da rede municipal de Ensino.

Os inquéritos são assinados pela Promotora de Justiça da Comarca Nathália Moreno Pereira. Sobre o inquérito que apura o vencimento dos professores, outra representação fora feita em janeiro deste ano contra a prefeita e a secretária de Educação, desta vez no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Por decisão do órgão, ambas foram consideradas revéis por recusarem-se a apresentar defesa no prazo determinado pela Justiça. A representação/denuncia, na época, foi feita pela vereadora do PSL Sra. Maria da Cruz Martins de Arruda. Logo após a decisão, Mariledi e Arlete conseguiram abertura no Tribunal de Contas para apresentar as defesas.

Em outra peça, datada de novembro de 2015, Mariledi e Arlete são investigadas num suposto esquema no processo seletivo realizado por meio da recontratação de estagiários, em detrimento aos profissionais aprovados no referido concurso.  A representação inicial partiu da Controladoria Geral do Município (CGM).

A reportagem teve acesso aos dois inquéritos civis, bem como a informações encaminhados pela CGM via ofício.  A seguir, mais detalhes dos inquéritos em trâmite na Promotoria de Justiça de Pedra Preta.

Inquérito 1 - Irregularidade nos vencimentos dos professores

Via ofício, a pedido da reportagem, a CGM de Pedra Preta encaminhou detalhes das peças. O inquérito nº 02/2016 "Apura suposta distinção indevida nos vencimentos dos professores municipais".

Explica a CGM que a denúncia consiste na ausência de isonomia entre a remuneração dos três cargos de professores existentes no município, sendo eles: professores/25 horas semanais, professor/30 horas semanas e professor/38 horas semanais.

"[...] Anteriormente à aprovação do Novo Plano de Carreira dos Servidores do Magistério Municipal, conhecido como PCCS da Educação [...], os três cargos de professores tinham, proporcionalmente a sua jornada de trabalho, remuneração idêntica", inicia o parecer assinado pelo Controlador Geral do Município, Cristiano dos Santos Viana.  "Entretanto, o novo PCCS aprovado em junho de 2015 criou uma distinção equivocada, irregular, e de certa forma bisonha (sic) [...] Ocorre que servidores com o mesmo tempo de serviço e com o mesmo nível de instrução recebem valores diferentes".

A título de exemplo, consta no parecer da CGM um quadro explicativo sobre a remuneração/carga-hora dos professores da rede municipal. Fora utilizado no mesmo o divisor de horas mensal 171 horas (38 semanais), 135 horas (30 horas semanais) e 112,50 horas (25 horas semanais) respectivamente:

 

Na época da aprovação do PCCS a CGM estabeleceu um prazo até novembro de 2015 para o reenquadramento por parte da Secretaria de Educação. "As alegações apresentadas pela Administração Municipal são, no mínimo, incoerentes", diz o órgão. "Informo, ainda, que este mesmo posicionamento da CGM é o apresentado ao Ministério Público Estadual".

Sobre este inquérito, a CGM aguarda o resultado da denúncia impetrada pela vereadora Maria da Cruz no Tribunal de Contas do Estado. Segundo informado pelo chefe da Secretaria de Atos de Pessoal, Francis Bortoluzzi, a denúncia segue em fase de elaboração da defesa a ser feita pela prefeita Mariledi. A previsão de conclusão é no dia seis de setembro próximo.

Inquérito 2 - Recontratação de estagiários

Neste inquérito, o MP quer apurar irregularidades relacionadas ao processo seletivo realizado pela Prefeitura de Pedra Preta no ano de 2015 para professores e monitores da rede municipal. O concurso fora realizado em fevereiro daquele ano, sob o critério de contagem de pontos.

"Mesmo notificada pela CGM, a Administração Municipal homologou o certame público e contratou os servidores de forma irregular", inicia o segundo esclarecimento do documento assinado pelo controlador Cristiano Viana. "Através de um pedido expedido pela CGM, o Legislativo Municipal cancelou o resultado do processo seletivo".

Logo após o cancelamento, a Prefeitura contratou uma empresa para realizar um novo processo de contratação temporária. Em seu andamento, a CGM recebeu denúncias de candidatos que já estariam com suas vagas garantidas no processo seletivo. "Após a realização do certame público, a CGM não constatou fraude no seletivo simplificado, mas sim uma BURLA do processo de seleção simplificada".

A "burla" consistia na contratação de estagiários para ocupar cargos após o encerramento dos contratos temporários, findado em setembro de 2015. "Alguns candidatos 'apadrinhados' foram indevidamente contratados como estagiários, o que configurava, claramente, a intenção de manter os monitores com contratos vencidos, em detrimento a convocação dos aprovados no processo seletivo", segue o ofício.

Os servidores irregulares permaneceram no cargo até o final de 2015. "O MP vem apurando as irregularidades, e sendo comprovada a improbidade/ilegalidade administrativa importará a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo de ação penal cabível, conforma art. 37 da Constituição Federal", encerra o documento enviado ao GazetaMT.

Defesa

Por telefone, a reportagem ouviu a versão da prefeita Mariledi e seu corpo jurídico. A chefe do Executivo disse considerar "improcedente" o parecer contido no inquérito que apura a recontratação dos estagiários. Informou, ainda, que de acordo com a necessidade do município, profissionais aprovados em concurso seguem sendo chamados ao trabalho.

Quanto a suposta distinção dos vencimentos, Mariledi explicou que parte dos profissionais da Educação seguem alterando as cargas horárias de trabalho em 30 horas/aula tanto para os que atuam durante 38 horas semanais quanto os de 25 horas semanais. A medida, conclui a prefeita, deve partir do profissional atuante e ocasiona o reajuste da tabela salarial.

Segundo a Procuradoria Jurídica de Pedra Preta, "todos os inquérito civis em tramitação na Promotoria de Justiça do município estão sendo respondidos e devidamente justificados". "Os atos desta gestão foram todos tomados com vistas à moralidade e estamos trabalhando juntos ao MP para esclarecer, pois tanto o PCCS quanto a realização do concurso foram Leis idealizadas e propostas por esta gestão".