OPINIÃO

O tamanho do seu privilégio é o tamanho da sua responsabilidade

por Cristhiane Brandão

31 de Dezembro de 2024, 15h22

None
Divulgação

A frase “O tamanho do seu privilégio é o tamanho da sua responsabilidade” não é minha, e sim de Elie Horn, fundador da Cyrela Brazil Realty e patrocinador do movimento Bem Maior. O exemplo do bilionário, que decidiu doar 60% da sua fortuna a projetos sociais para melhorar a vida dos brasileiros, é um convite para que possamos refletir sobre a importância do “servir” – da filantropia – e o quanto as famílias empresárias brasileiras têm essa responsabilidade.

Normalmente, o Natal nos envolve coletivamente em um sentimento de amor fraterno que deveríamos cultivar o ano todo, não apenas entre familiares e amigos, mas com todos aqueles com quem convivemos, direta ou indiretamente. Há uma canção do Roupa Nova que diz assim: “Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia”.

Em um cenário em que a responsabilidade social é cada vez mais valorizada, práticas alinhadas ao ESG (Environmental, Social and Governance) fortalecem a reputação, geram confiança e contribuem para a longevidade das empresas, especialmente das empresas familiares que buscam perpetuar seus valores e legado. Desse modo, a dimensão social assume um papel fundamental na construção de uma imagem positiva e responsável que transcende a própria família empresária.

As empresas familiares precisam ter como meta o desenvolvimento e a equidade em suas comunidades, o que se traduz em práticas de inclusão social, políticas de diversidade, investimentos em educação e saúde, além de ações voltadas à preservação ambiental, que refletem os valores e a cultura familiar no próprio modelo de gestão. Adotar o princípio social nas estratégias e decisões corporativas já representa um diferencial competitivo, valorizado por consumidores e investidores.

Um exemplo dessa prática, sem dúvida, é Elie Horn, que, aos 80 anos, continua a ser copresidente do conselho de administração da companhia e concilia seu tempo com ações filantrópicas. Durante o lançamento do seu livro *Tijolos do Bem*, em julho deste ano, ele disse que gostaria que escrevessem em seu túmulo: “Este homem tentou fazer o bem”. Entre suas principais frases inspiradoras estão:

“Ter muito dinheiro é um teste para saber se essa pessoa vai cair na tentação de ser um ‘egoísta’ ou não”; “Não é sobre o quanto você gasta, mas quanto você doa”; “Não seja covarde. Quem for covarde será cobrado na eternidade”; “Contribuir é um dever”; “Aposentar da coragem, da filantropia, do meu propósito? Nunca vou me aposentar”; “O dinheiro compra passagens para qualquer lugar neste mundo. Fazer o bem compra passagem para o outro mundo”.

Warren Buffett, um dos maiores investidores do mercado financeiro global, também tem muito a nos ensinar. Em uma carta publicada recentemente pela imprensa, ele descreveu a relação de sua família com o dinheiro, criticou a criação de dinastias familiares e aconselhou os pais ricos a deixarem para seus filhos “o suficiente para que eles possam fazer o que quiserem, mas não o suficiente para que eles possam não fazer nada”.

Essa carta veio junto com o anúncio de uma doação adicional de US$ 1,2 bilhão em ações para fundações filantrópicas ligadas à família Buffett, que, desde 2006, já doou 56% da sua fortuna, mas quer chegar a 99% em vida, conforme compromisso com o Giving Pledge. Apesar da tendência mundial, no Brasil, dos 69 bilionários (ranking Forbes 2024), apenas dois deles — Elie Horn e David Vélez (CEO do Nubank) — assinaram o documento.

Infelizmente, temos muitos problemas sociais no Brasil, país que ocupa o segundo lugar no ranking de maior desigualdade entre 56 países listados pelo *Global Wealth Report 2024*. Embora ainda seja delicado abordar esse tema, é necessário e urgente desenvolvermos uma consciência social coletiva que busque diminuir as distâncias e potencializar a geração de oportunidades.

Acredito firmemente que a Governança Corporativa e Familiar é um caminho seguro e viável para transformar as nossas melhores aspirações “de um mundo melhor” em práticas diárias sustentáveis que direcionem vidas e negócios. Como Buffett disse em sua carta, o “tempo” sempre vence; então, que possamos brindar o novo tempo aceitando o convite para construir, juntos, um futuro próspero para as famílias brasileiras. Feliz 2025!

Cristhiane Brandão, Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro-Oeste do IBGC.