OPINIÃO
Mercado: os efeitos do Acordo SEMEAR–RSA
04 de Outubro de 2025, 06h00
O primeiro ano do acordo entre o Banco SEMEAR e a RSA Capital sinaliza uma movimentação importante no sistema financeiro nacional, sobretudo nos segmentos do agronegócio e do mercado imobiliário. Esses dois setores, fundamentais para estados como Minas Gerais e Mato Grosso, têm buscado acesso a alternativas de crédito além do financiamento bancário tradicional, em um cenário de crescente sofisticação das operações de mercado de capitais.
A fusão permitiu que o SEMEAR, antes concentrado em operações comerciais, passasse a atuar como banco de investimento, após autorização do Banco Central concedida em prazo considerado reduzido. Com o nascimento do Semear Banco de Investimento (SBI) ampliou-se a capacidade de oferecer instrumentos como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e debêntures. Tais mecanismos, antes restritos a grandes corporações, passaram a estar disponíveis para empresas de médio porte, com faturamento anual entre R$ 100 milhões e R$ 800 milhões.
Nos primeiros 12 meses após o acordo entre as duas empresas, as emissões somaram cerca de R$ 295 milhões, com destaque para operações no setor imobiliário. O planejamento para os próximos anos é ambicioso: alcançar R$ 500 milhões em títulos de crédito no curto prazo e, no longo prazo, estruturar até R$ 5 bilhões em operações. Esses números evidenciam a aposta das instituições no potencial de expansão da economia real por meio do mercado de capitais, ainda que fatores como o nível de juros e a confiança do investidor representem desafios a serem enfrentados.
No agronegócio, a expectativa é que o Semear Banco de Investimento (SBI) se consolide como parceiro de empresas e produtores em busca de crédito estruturado para expansão, modernização e diversificação. Já no mercado imobiliário, as emissões recentes refletem a tendência de complementar o crédito bancário tradicional com soluções de mercado de capitais, ampliando a capacidade de financiamento para incorporadoras e construtoras.
A experiência também se estendeu a setores menos usuais, como o esporte. A estruturação da debênture do Cuiabá Esporte Clube foi considerada uma iniciativa inédita no país, ao aplicar instrumentos financeiros típicos do mercado corporativo para captar recursos destinados a um clube de futebol. O movimento sinaliza abertura para inovações que ultrapassam as fronteiras setoriais mais tradicionais.
A meta anunciada de dobrar os ativos em cinco anos demonstra confiança na robustez do modelo, mas depende de variáveis que não estão apenas sob o controle das instituições. A conjuntura macroeconômica, a evolução regulatória e a capacidade de atração de investidores institucionais serão determinantes para que as metas se concretizem.
O acordo entre SEMEAR e RSA, portanto, vai além da soma de portfólios. Ela se insere em uma tendência de diversificação das fontes de financiamento no Brasil, em que bancos médios e consultorias especializadas procuram abrir espaço para empresas que, até pouco tempo atrás, tinham dificuldade de acessar instrumentos de mercado de capitais. O resultado é um cenário de maior pluralidade de soluções, que pode beneficiar setores estratégicos da economia brasileira e contribuir para o crescimento sustentado de regiões que dependem fortemente do agro e da construção civil.
*Rodrigo Santos é diretor da RSA Capital