NEGLIGÊNCIA

Técnica de enfermagem denuncia hospital por tratamento que levou á morte de major da PM em Cuiabá

Amanda registrou a ocorrência na 1ª Delegacia da Polícia Civil depois de ser demitida e supostamente ter sofrido ameaças por parte de gestores da unidade de saúde.

por Daffiny Delgado, de Cuiabá

05 de Abril de 2021, 13h59

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

A técnica de enfermagem Amanda Delmondes Benício, de 38 anos, denunciou o Hospital São Judas Tadeu na manhã desta segunda-feira (05), por maus tratos a pacientes internados e negligências que levaram a morte do major da Policia Militar Thiago Martins de Souza, em Cuiabá.

O militar estava internado na unidade e veio a óbito no domingo (4) em decorrência da Covid-19.

Segundo a enfermeira, o hospital que fica localizado no Jardim Califórnia, falta equipamentos e medicamentos para atender os pacientes com quadro grave de covid-19.

"Falta equipamento. Respirador, não tem sedação, noradrenalina, dormonid. Eles estão colocando morfina nos pacientes. Amarra os pacientes", afirmou.

A técnica de enfermagem disse que tentou comunicar aos donos do hospital sobre a situação que os pacientes estavam passando.

Ela buscou pelas redes sociais, mas suas mensagens não teriam chegado aos proprietários. "Quando souberam me mandaram embora do hospital".

Morte do Major

Amanda procurou a 1° Delegacia da Polícia Civil nesta manhã onde registrou um boletim de ocorrência sobre os crimes que estariam sendo praticados pelo hospital.

Na oportunidade, a enfermeira contou para um grupo de jornalistas que uma das vítimas dos maus tratos aos pacientes na unidade seria o major Thiago Martins.

“O major Thiago chegou a ficar duas semanas sem tomar banho. [...] Eu falei para ele que no meu plantão ele não ia ficar jogado”.

De acordo com ela, Thiago estava saturando há duas semanas e a máscara é usada para ajudar o pulmão e a saturação.

Uma fisioterapeuta teria colocado ele ao contrário, o major ficou roxo e os pacientes que estavam no quarto pediram socorro, porque Thiago pedia socorro.

“Ele pediu socorro: ‘me tira daqui, estão me matando’. Eu chorava. Eu passando a mão na testa dele e chorava”.

O major, por seu celular, conseguiu enviar uma mensagem para uma amiga advogada para ir ao hospital, pois estavam "matando" ele.

A enfermeira contou ainda que durante a troca do plantão a equipe teria dito, na frente de Thiago, que teriam que deixar um paciente morrer para entubá-lo, e foi o que fizeram.

"Ainda os médicos chegaram a dizer na frente dele ‘Vamos ter que deixar um morrer ou deixar ele morrer'", disse a enfermeira.

Outro lado

Por meio de nota, a direção do Hospital São Judas negou as acusações feitas pela técnica de enfermagem e acrescentou que irá acionar a profissional judicialmente.

Veja a nota na íntegra

O Hospital São Judas Tadeu vem, nesta oportunidade, negar veementemente todas as notícias veiculadas na data de hoje, 5 de abril de 2021, que envolvem condutas supostamente promovidas em desfavor da saúde dos pacientes.

As acusações espúrias foram proferidas por uma funcionária que trabalhou 50 dias na Instituição, e foi demitida na semana passada justamente por práticas dissonantes com as exigidas pelo Hospital e, por isso, utiliza-se dessa pauta com cunho de promover retaliação e vingança.

É evidente que as afirmações são desprovidas de qualquer fundamento e principalmente provas. Diante da gravidade, o Hospital está empenhado na adoação das medidas cíveis e criminais cabíveis em face da profissional e isso será a maior resposta que poderemos dar a população.

De qualquer forma, reforçamos que o Hospital São Judas Tadeu é uma Instituição séria e respeitada, com histórico de excelência em serviços prestados à população cuiabana há mais de 35 anos.

Sempre atuamos com profissionais sérios e comprometidos com a ética e o bem estar dos pacientes e assim permaneceremos nossa caminhada.

Coren-MT

O presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren), Antônio César Ribeiro, se manifestou sobre a denúncia. Ele informou que a profissional ainda não buscou o Coren para registrar a denúncia.

“Se está sendo imposto a ela ou a qualquer outro membro de equipe assumir condutas que contrariam os princípios éticos, que deixe em questão a segurança do paciente, ela tem o direito de denunciar ao conselho”.