OPINIÃO
Educação 5.0 vai da tecnologia ao afeto
06 de Dezembro de 2025, 06h10
A mensagem do Papa Leão XIV durante o Jubileu do Mundo Educativo reacende um debate essencial: qual o verdadeiro sentido da Educação em tempos de inteligência artificial? Ele nos lembra que “a Educação une as pessoas em comunidades vivas e organiza as ideias em constelações de sentido”. É disso que trata a Educação 5.0: integrar tecnologia e humanidade, sem perder de vista a formação integral do ser.
Hoje, o conhecimento é instantâneo. Mas formar apenas mentes para o mercado é insuficiente. É preciso formar também corações capazes de empatia, solidariedade e transcendência. Educação é mais do que conteúdo: é cuidado, propósito, presença. Educar é um ato radical de esperança.
Leão XIV também afirma: “vocês não são apenas destinatários da Educação, mas seus protagonistas”. Esse é o cerne da Educação 5.0: o estudante como autor do próprio processo, em diálogo com o mundo. Protagonismo, porém, não é solidão. Exige educadores como mentores, comunidades de acolhimento e escuta, e um ambiente emocionalmente seguro.
Outro pilar é o uso ético da tecnologia. “Sirvam-se dela com sabedoria e não permitam que a tecnologia se sirva de vocês”, alerta o pontífice. Em um mundo de telas onipresentes, a Educação precisa garantir que o humano permaneça no centro. A tecnologia deve ampliar vínculos, não substituí-los.
A Educação 5.0 busca exatamente essa síntese: preparar para um mundo em rede, mas enraizado em valores. Cientistas conscientes, líderes compassivos, empreendedores éticos e cidadãos planetários. Um modelo que ensina não só a programar máquinas, mas também futuros justos.
Exemplos concretos já existem. O Colégio Donaduzzi, no Paraná, alia personalização a resolução de problemas reais. Mentorias, laboratórios, iniciação científica precoce e atividades no contraturno ampliam o sentido do aprender. Como resume Ana Clara, 17 anos: “Aqui me sinto acolhida. Venho porque quero”. Outras iniciativas reforçam essa visão: a Steve Jobs School, na Holanda; a Ritaharju School, na Finlândia; La Cecilia, na Argentina; entre outras. São experiências que apostam na autonomia, na natureza, no trabalho em equipe e na conexão com a vida.
Mas não se deve romantizar. A UNESCO alerta que metade dos estudantes no mundo não tem acesso adequado a ferramentas digitais. O pesquisador Neil Selwyn vê a tecnologia como campo de poder, controle e desigualdade. No Brasil, Martins (2019) denuncia a superficialidade do ensino remoto sem reflexão pedagógica. A tecnologia, sem mediação humana, não transforma: reproduz.
Por isso, menos fascínio tecnodigital e mais consciência crítica. O link não pode substituir o vínculo. A tela não pode apagar o encontro. Leão XIV fala de uma Educação “desarmante e desarmada”, baseada no diálogo, no respeito e na escuta. Educação que acolhe o diferente e reconhece nele a possibilidade de transformação. Uma pedagogia da paz.
Educar, enfim, é confiar no poder transformador de cada pessoa. Em tempos de crise, a Educação deve ser farol e esperança. Como disse o Papa, “a Educação nos ensina a olhar para o alto”. E olhar para o alto é lembrar que aprender também é transcender.
Educação 5.0 não é só um modelo pedagógico. É um pacto civilizatório. Um compromisso para que escolas e comunidades sejam espaços de encontro, justiça e criatividade. Onde o saber técnico se alie à sabedoria do coração. E onde a esperança continue sendo o motor do aprender.
*Paulo R. C. Rocha é gestor, pesquisador em políticas educacionais e vice-presidente do Biopark.