OPINIÃO

A força ancestral: Uma experiência transformadora na Umbanda!

por Soraya Medeiros

07 de Novembro de 2024, 06h41

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Divulgação

No último domingo (03.11), ao me entregar à Umbanda, vivi um dos momentos mais profundos da minha vida: a coroação e a firmeza do meu Anjo da Guarda. Esses rituais me proporcionaram não apenas uma nova visão sobre a espiritualidade, mas também a chance de conhecer ensinamentos valiosos que moldam a jornada de quem escolhe esse caminho de amor, fé e caridade.

Para aqueles que não estão familiarizados com a Umbanda, é importante compreender o papel fundamental da coroação e das iniciações nas linhas de trabalho dentro dessa religião. A coroação é um ritual de grande significado espiritual, no qual o médium assume um compromisso profundo com seu desenvolvimento espiritual e com as entidades que o guiarão nessa jornada. Esse ritual marca o fortalecimento do vínculo com o Anjo da Guarda, que representa a proteção e a orientação espiritual mais próxima e pessoal do médium.

Um aspecto essencial desse processo é a presença e a orientação do Pai de Santo. Como guia espiritual, o Pai de Santo desempenha o papel de conselheiro, mentor e protetor. Ele é responsável por conduzir cada etapa dos rituais, garantindo que o médium compreenda o significado de cada ato e esteja preparado para absorver os ensinamentos que serão transmitidos. Em minha própria jornada, a sabedoria e o conhecimento ancestral do meu Pai de Santo foram fundamentais. Com uma calma e amorosidade que jamais havia presenciado, ele me guiou com firmeza e paciência, sempre reforçando que o caminho da Umbanda é um caminho de simplicidade e amor.

A firmeza do Anjo da Guarda foi um dos momentos mais intensos. Permaneci deitada por sete horas em uma esteira de palha, mergulhada em meditação e oração. Durante esse tempo, o Pai de Santo colocou cuidadosamente canjica cozida e mel sobre o topo da minha cabeça, envolveu-a em seguida com um pano branco de algodão e amarrou-a com uma espada de São Jorge, símbolo de proteção e coragem. Esse ritual foi profundamente introspectivo, convidando-me a olhar para dentro e alinhar-me com minhas forças protetoras.

A canjica, símbolo de simplicidade e pureza, e o mel, que representa doçura e harmonia, trouxeram uma sensação de renovação, como se cada pensamento fosse purificado e cada emoção suavizada. Após essas horas de introspecção, o Pai de Santo realizou um gesto de purificação, lavando minha cabeça com água de laranjeira e rosas. Ele fez cada etapa com uma sensibilidade que revelava o quanto cada detalhe é significativo para o processo de conexão com o espiritual.

A água de laranjeira, conhecida por suas propriedades calmantes e purificadoras, simbolizou o fim do ritual de firmeza e a preparação para a próxima fase: as iniciações nas linhas de trabalho espiritual. Esse momento de lavagem foi como se toda a energia acumulada durante a firmeza fosse suavemente liberada, abrindo espaço para uma nova fase na jornada.

Logo após, vieram as iniciações nas diferentes linhas de trabalho, cada uma com um significado único e uma conexão específica com a espiritualidade da Umbanda. As linhas de trabalho representam forças distintas, cada uma guiada por entidades que têm sua própria sabedoria e energia de cura. Recebi iniciações nas linhas de Preto Velho, Caboclo, Baiano, entre outras.

Essas iniciações simbolizam o compromisso do médium com o serviço espiritual e seu desenvolvimento pessoal. Elas não são apenas um conjunto de ritos, mas uma jornada de aprendizado e dedicação que convida cada médium a trabalhar seus próprios aspectos interiores e a se tornar um canal de amor e cura para os outros.

Cada linha representa um aspecto específico do amparo espiritual. Os Pretos Velhos, por exemplo, simbolizam a paciência, a sabedoria e a humildade, ensinando o valor da paz e da serenidade. Os Caboclos, ligados à força da natureza e aos ancestrais indígenas, nos inspiram coragem, resistência e conexão com o mundo natural. A linha dos Baianos, por sua vez, traz uma energia vibrante e acolhedora, oferecendo ensinamentos sobre superação e resiliência, que refletem a vida simples e a capacidade de enfrentar os desafios com leveza e alegria.

Essas iniciações me mostraram que a Umbanda é, acima de tudo, um caminho de cura e autoconhecimento. Cada linha de trabalho nos desafia a trabalhar aspectos diferentes de nossa personalidade e a entender o valor da simplicidade, do amor e da humildade em nossa caminhada espiritual.

A coroação e as iniciações simbolizam não só o compromisso com a Umbanda, mas também um compromisso comigo mesma. Essa experiência me trouxe uma clareza espiritual que vai muito além dos rituais em si; ela desperta em mim o desejo de ser uma pessoa melhor e de compartilhar essa jornada com aqueles ao meu redor.

Gratidão ao Pai de Santo, cuja sabedoria ancestral me guiou a cada etapa, e a todas as entidades que, com amor e paciência, me acolheram e me ensinaram a importância da simplicidade e da entrega. Que essa experiência inspire todos os que buscam autoconhecimento e transformação, lembrando que o verdadeiro caminho espiritual é construído com humildade, fé e amor.

*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 22 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier.