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Justiça Federal pede novo Lockdown em Rondonópolis

Na semana passada, vitória no STF sobre decisão do MPE possibilitou reabertura de atividades não essenciais no município

por Robson Morais - De Rondonópolis

09 de Julho de 2020, 13h15

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Divulgação

Uma nova decisão, desta vez da Justiça Federal, voltou a exigir que Rondonópolis estreite as medidas de segurança e saúde ante a pandemia do novo coronavírus, adotando, de imediato, o chamado lockdown. A determinação surge uma semana depois da vitória municipal no STF, sobre decisão do Tribunal de Justiça do Estado após pedido do MPE.

O pedido foi feito pelo desembargador do MPF Souza Prudente. Sob pena de multa de R$ 10 mil por cada dia de descumprimento, o Município deve proibir o funcionamento das atividades consideradas não essenciais durante toda a semana, entre elas o comércio de bens e serviços. As demais atividades, essenciais, seriam permitidas com funcionamento restrito.

Mais detalhes, bem como o acordo por parte do Município em cumprir a determinação federal, devem ser oficializados em um novo Decreto Municipal. Até este momento, a Prefeitura de Rondonópolis não editou o documento.

Na semana retrasada, cumprindo a decisão judicial do Tribunal de Justiça do Estado, proferida pelo desembargador, Mario Kono de Oliveira, um decreto municipal fora editado, impondo o lockdown no município. Sete dais depois, o STF deu causa ganha a Rondonópolis e derrubou a determinação, tornando a vigorar no município o decreto municipal 9.480/2020.

ATUALIZAÇÃO (ÀS 15H)

O Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF1), atendendo a pedido do Ministério Público Federal (MPF), determinou, nesta quinta-feira (9), a suspensão de atividades não essenciais em Rondonópolis (MT), até que sejam apresentadas justificativas técnicas fundamentadas em evidências científicas e em análises sobre informações estratégicas em saúde pública. O município apresenta alta incidência no número de casos do novo coronavírus e está sujeito à multa de R$ 10 mil por dia de atraso no cumprimento da decisão judicial.

A determinação do desembargador federal Souza Prudente, em caráter liminar,  atende recurso do MPF interposto após sentença do juiz titular da 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Rondonópolis declarar extinto o processo, sem resolução do mérito, sob o fundamento de ilegitimidade ativa do órgão na ação.

A apelação do MPF defendeu a orientação jurisprudencial de tribunais para afirmar sua legitimidade na defesa de interesses individuais indisponíveis, como é o caso da saúde pública, além da responsabilidade solidária dos entes federados no sentido de assegurar o direito à vida. O desembargador acrescentou também entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) em discussão sobre a autonomia dos entes federativos na tomada de medidas para flexibilização do isolamento social, sobre a exigência de fundamentação em informações e dados científicos comprovados.

Além de tomar as providências necessárias para suspender as atividades não essenciais, o município de Rondonópolis deve, entre outras determinações, se abster de novas liberações, enquanto, por meio de seus órgãos de vigilância em saúde, não estabelecer protocolos específicos para cada uma das atividades econômicas.

Flexibilização em Rondonópolis - Quanto à situação de Rondonópolis, a  ação civil pública em questão, agora atendida, foi proposta em 22 de maio, sob um cenário de agravada crise sanitária em contraposição aos decretos municipais de flexibilização do isolamento social, entre outras medidas tomadas sem nenhum amparo técnico e ignorando recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.

O município, na data do ajuizamento ação, quando ainda não havia atingido o pico da doença no estado do Mato Grosso (previsto para setembro, segundo Nota Técnica da Universidade Federal de Mato Grosso), já demonstrava escalada de casos confirmados superior a 127%, além de coeficiente de incidência da doença 72% acima da média estadual.

Foi demonstrado também o risco de colapso do sistema de saúde do município, "bem como diversas carências, tais como falta de pessoal, leitos de UTI e internações, EPIs, respiradores, insumos, testes, monitoramento, ausência de UTI infantil, estudos do órgão de saúde, transparência das informações etc", conforme argumentou o procurador da República Rodrigo Pires de Almeida.

Apesar desse cenário, durante o período da pandemia, os gestores de Rondonópolis resolveram, em uma série de decretos, pela abertura de serviços não essenciais, que correspondem a grandes vetores de contaminação da covid-19. À exemplo, o Decreto 9.480, de 16 de abril de 2020, que estabeleceu distanciamento social seletivo, autorizando atividades como bares, lanchonetes, restaurantes, lojas de conveniência, feiras livres, academias, clubes, shopping centers, entre outros.

Boletim Epidemiológico - O boletim emitido pela Secretaria Municipal de Saúde de Rondonópolis, publicado em 6 de julho, informou 2.271 casos confirmados, 73 mortes e falta de leitos de UTI.