ENTREVISTA

“Nunca fui um delegado virtual. Agora não posso ser um deputado virtual”, diz Claudinei

Deputado estadual analisa primeiros meses de mandato, diálogo com veteranos da AL e rumos do PSL em Brasília e no município

por De Rondonópolis - Robson Morais

28 de Maio de 2019, 08h36

“Nunca fui um delegado virtual. Agora não posso ser um deputado virtual”, diz Claudinei
“Nunca fui um delegado virtual. Agora não posso ser um deputado virtual”, diz Claudinei

Marinheiro de primeira viagem em meio aos veteranos, parlamentar independente. O até então delegado Claudinei Lopes figura como uma das renovações da Assembleia Legislativa. Dentro da Casa, bem como na presidência municipal do PSL Rondonópolis, completou quase cinco meses de mandato superando embates e ainda aprendendo a "vestir a roupa de político".

Falha sua, reconhece o deputado. O tom da delegacia, fechado para as relações pessoais exigidas de todo político que se preze, não o largou neste 2019. Talvez por isso, prefira se manter como terceira via dentro da AL, nem situacionista nem oposição. O foco é seguir trabalhando.

Em entrevista ao GazetaMT, Claudinei falou das dificuldades em conduzir o mandato, a "onda Bolsonaro" que elegeu muitos parlamentares Brasil afora e os rumos do PSL tanto em Brasília quanto local. Este último, marcado recentemente por uma confusão e tanto junto a vereadores eleitos em 2016 pela sigla.

Foto: Sirlei Alves / GazetaMT

Abaixo a entrevista:

GMT - Como está a agenda do agora deputado Claudinei?

Claudinei Lopes: Estou ficando "meio a meio", de terça-feira a quinta-feira em Cuiabá e de sexta a domingo aqui em Rondonópolis. Mas sempre rodando a  região toda, visitando os municípios da região. Minha votação fora daqui foi muito boa, tive votos em 137 cidades do Estado. Sai de Rondonópolis eleito e consegui quase 13 mil votos fora. Em Cuiabá e Várzea Grande foram quase 4 mil votos e se pensar que o principal do meu trabalho foi feito aqui na região o número é bom. Atuei por rede social e ainda assim tive votos.

GMT- Como tem sido o mandato?

Claudinei Lopes: Deputado de primeira viagem, tem muita gente nova. Já tinha veteranos de outros mandados, como vereador ou prefeito e agora entraram como deputados. Além dos que já eram deputados. Enfim, eu sou um dos que não tinham essa bagagem. Politicamente "cru" como eu foram poucos.

Procuro me manter numa linha de trabalho como me mantinha enquanto Delegado Regional. Eu viajava muito, visitava os municípios. Agora é igual. Visitar hospital, estruturas da cidades, obras... além, claro das questões de segurança. Além disso, tenho equipes de trabalho divididas pelos municípios e regiões, contratei pouco mais de 20 pessoas, dentro da AL e fora, equipes com experiencias nas áreas e com trabalhos sociais. Assim, vou recebendo as demandas e alinhando.

GMT- Esses novatos tem conseguido espaço dentro da AL? A turma nova em meio a "panela"?

Claudinei Lopes: Pelo menos comigo há um respeito, inclusive político. Não tenho problemas, meus colegas respeitam, alguns projetos eles apoiam. Pautas que necessitam de mais celeridade têm conseguido seu trâmite. É claro que alguns veteranos se destacam mais, são mais articulados, mas, alguns novatos também tem se destacado. Achei que teríamos mais dificuldades.

Enfrentamos dois embates, um pra eleger a mesa diretora -eu e mais dois não apoiamos o [Eduardo] Botelho, presidente eleito- e outro pra vaga do TCE, que ficou entre [Guilherme] Maluf e Max Russi. Isso acabou nos dividindo um pouco e no final eu acabei de indispondo. Isso foi ate um erro meu, falta de experiencia.

Eu estava no grupo que apoiaria o Max Russi, ele tinha alguns processos e a mídia explorou muito isso às vésperas da eleição. Na hora acabei não votando nele. Foi um questão de princípios.

GMT - Até que ponto a imagem e a carreira de delegado contribuem positivamente e negativamente no mandato na AL?

Claudinei Lopes: Fiz um trabalho na Delegacia Regional, oito anos de Derf e depois na Regional.. Neste tempo pude realizar também trabalhos sociais, com palestras e programas de recuperação de dependentes químicos. Isso me ajudou muito a ter uma visão mais ampla, política e social. Claro que o foco sempre foi segurança pública, mas não só. Claro, também, que que fica esta imagem.

O mais negativo pra mim é meu próprio relacionamento interpessoal. Passeis três meses me organizando e organizando o gabinete, acabei deixando de lado vários grupos e pessoas que me ajudaram a me eleger e já tenho recebido cobrança. As pessoas acham que me esqueci delas, isso também é uma falha minha. O caso é que minha rotina era diferente, ainda estou aprendendo. Como delegado era da delegacia pra casa, agora como político tem esta cobrança. Ainda continuo mais delegado do que político, vai demorar pra trocar esta roupa.

GMT - As pessoas cobram isso? Nestes tempos em que se fala tanto de "nova política", talvez isso seja algo a se mudar?

Claudinei Lopes: Talvez, mas eu preciso saber ser mais simpático às pessoas, menos fechado. Pela profissão eu acabei me tornando uma pessoa mais fechada. Mas muita gente me abriu muito espaço, empresas, casas nos bairros. Fiz palestra, falei para até 80 pessoas. Isto tem que ser retribuído com visitas, com dialogo. O povo, assim, se sente valorizado.

GMT - Muitos surfaram na onda Bolsonaro. Até quem não ia se eleger surfou na onda e conseguiu se eleger. Qual sua avaliação? Sua eleição se beneficiou disso também?

Claudinei Lopes: Não posso ser demagogo, é claro que este efeito Bolsonaro me ajudou. Esta força e comoção influenciaram, principalmente, nas redes sociais.

Eu já era conhecido pelo meu trabalho como delegado regional e isso me ajudou, desde o começo eu confiava que teria uma margem boa de votos, pela minha carreira. Se fosse tão somente pelo efeito Bolsonaro, outros candidatos teriam sido eleitos, eram nomes bons e alguns já com bagagem política. A gente teria eleito uns quatro deputados estaduais. Acho que meu trabalho de 17 anos aqui na região foi o que me consolidou. O efeito Bolsonaro serviu para ampliar.

GMT - Ainda falando do efeito Bolsonaro, pelo sim ou pelo não, quem o segue o tem como uma referência. O senhor esteve com a ministra Damares Alves e isso (este tipo de evento) tem impacto, por sermos uma cidade de interior com um político que possui esta ponte...

Claudinei Lopes: Ah sim, isto foi a apresentação de um projeto que chegou à Funai, chegou até a ministra. Naquela sexta-feira o próprio presidente Jair Bolsonaro havia retornado dos EUA e pode apreciar o projeto

GMT- Isso pro deputado Claudinei também tem reflexo político...

Claudinei Lopes: Certamente, temos nossa bancada federal, nossos parlamentares e aliados. Ter este contato direto é bom não os pra mim, mas para a região, para os nossos municípios. Tenho buscado fazer estas pontes para alinhar os ideais em prol do Estado

GMT - O senhor está na presidência local do PSL?

Claudinei Lopes: Sim, vamos divulgar em breve a data do evento formal para anunciar a nova diretoria

GMT - E o casos dos vereadores que se queixaram de expulsão? Vazou ate conversa de WhatsApp. O que houve?

Claudinei Lopes: Na verdade eles já eram do PSL, na ultima eleição forma eleitos pelo partido. Com a chegada de Bolsonaro, eles já não tinham mais o perfil, não estavam se encaixando com este modelo de direita. Eu não tinha motivo para expulsa-los. Eles que chegaram, e pediram pra sair do partido. Levei isso para o diretório estadual e estou aguardando a decisão.

O que deixei claro foi que como não me apoiaram para deputado, eu também nãos o apoiaria.

GMT - Mas teve vereador que se disse magoado, punido por não ter apoiado o candidato Claudinei e por isso, expulso. Uma forma de punição pela não cumprimento dessa formalidade...

Claudinei Lopes: Eles tiveram outros apoios em suas candidaturas, e ficaram com o compromisso de retribuir agora. Não questiono isso, mas deixei claro que eu não os apoiaria.

GMT - Isso está superado?

Claudinei Lopes: Sim, já até os encontrei e participamos de eventos juntos. O fato é que o PSL atual não tem mais o perfil deles.  Agora o diretório estadual está avaliando a possibilidade de saída.

GMT - Sobre o perfil do PSL, o efeito Bolsonaro tende a se manter ou o partido deve diminuir?

Claudinei Lopes: Um partido que não estava no mapa e hoje é o segundo maior. Acredito que essa força deva se manter, prova disso foram estas recentes manifestações em prol do governo. Passando as reformas no Congresso teremos mais uma vitória, não só para o PSL ou para o Bolsonaro, mas para o Brasil. Passando as reformas e melhorando nossa economia, o PSL, claro, também se fortalece.

GMT - Hoje há muito bate cabeça em Brasília, isso está atrapalhando...

Claudinei Lopes: Sim, mas isso é normal. Temos uma oposição que não pensa. Para ela quanto pior, melhor. O Bolsonaro não vai entrar nessa pilha, ele não precisa disso, não teve apoio de ninguém, a não ser povo.

GMT - O Governo e o direitismo do brasil estão seguindo como se esperava?

Claudinei Lopes: Há dificuldades, até no tratamento de parte da imprensa. Emissora que teve verba cortada hoje só fala de crise no governo. Mas nossa esperança é que ele [Jair Bolsonaro] consiga conduzir o Brasil. Tem equipes e ministros preparados. Bem assessorado, o governo anda.

Sabíamos da dificuldade, mas acreditamos que dará tudo certo. Pegamos um Brasil que já vinha quebra por corrupção, rombo na previdência... Estamos agora no caminho certo.

GMT - Vamos voltar a falar da AL. Quais os próximos passos?

Claudinei Lopes: Continuar trabalhando. Sempre falo que nunca fui delegado virtual e não sou deputado virtual, desses que só ficam no gabinete. Gosto de estar por perto, visitar municípios e atender as pessoas. Buscar bom diálogo com o governo estadual e nossa bancada federal, unir forças nos municípios e contar com a população.

 Se continuar trabalhando, não tem dificuldade. Só não pode ficar esperando.

GMT - Como tem sido a conversa com o Poder Executivo?

Claudinei Lopes: Não tenho me encontrado muito com o governador Mauro Mendes, ele tem ido muito a Brasília (o FEX, por exemplo, precisa ser resolvido), mas tenho sido bem atendido pela sua equipe. Tem dado pra trabalhar junto.

Sigo como um deputado independente na Casa e tem questões que precisam ser revolvidas e debatidas. Como servidor, sou cobrado por isso. Mesmo assim, no geral, o relacionamento é bom, a gestão quer resolver os problemas deste Estado que já foi herdado com dificuldade financeira.

Para mim o melhor por enquanto é me manter independente, mas o que for para o bem de mato grosso eu voto junto. Temos dificuldades, mas dá pra avançar.