Entrevista
Padre Gunther fala sobre redução da maioridade penal e cobra ações do Governo
Pároco da Catedral de Rondonópolis critica 'besteiras' no Estatuto da Criança e do Adolescente e diz que menores devem ser responsabilizados
01 de Setembro de 2013, 04h00
Católicos de todo o país vão aproveitar esta primeira semana de setembro para fazer uma espécie de balanço das atividades sociais e também para aprofundar a discussão sobre temas envolvendo o Estado brasileiro. Em Rondonópolis o foco principal da discussão será a situação dos jovens e a proposta de redução da maioridade penal, que tem grande apoio no município.
Na última sexta-feira a reportagem do Gazeta MT conversou com o padre Gunther Lendbradl, que é pároco da Catedral Santa Cruz. Ele cobra mais responsabilidade de quem 'repete' a cantilena da mídia pró-redução da maioridade penal. Mas reconhece que há problemas sérios, que os adolescentes e jovens precisam trabalhar e devem ser responsabilizados por seus atos - inclusive os crimes.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao GazetaMT.
GazetaMT - Qual é a opinião do senhor sobre o aumento da participação de jovens e adolescentes nas estatísticas criminais? Como reverter isso?
Padre Gunther - Cada vez mais adolescentes e menores cometem crimes bárbaros. Isso é um fato. Aí vem a reação emocional: estes tem que ser punidos igual aos adultos. E vem também uma reação mais racional. Eu mesmo não estou de acordo com aqueles que defendem que as crianças e adolescentes não podem ser responsabilizados pelos seus atos. Acho uma besteira isso. Todos nós temos que ser responsabilizados por aquilo que a gente faz. Não concordo com a impunidade. Se ninguém é responsável pelo que faz isso é impunidade. Então eu defendo também que as crianças e os jovens devem ser responsabilizados por aquilo que praticam . Agora, eu creio que, por serem crianças, ao meu ver, precisamos entender as consequências.
Se você leva todos eles para a cadeia vai mudar alguma coisa? Não vai mudar nada. Eu defendo que os jovens precisam de um Estatuto especial. Precisam ser responsabilizados, punidos, mas eles tem que ter a oportunidade de ser reeducados. Você veja aqui o centro de recuperação de adolescentes, é uma porcaria. O problema está aí, o governo não faz o que a lei manda.
GazetaMT - Ao invés de melhorar, o sistema piora os menores que cometem infrações?
Padre Gunther - Sim, esse é o problema. Mandam eles lá para dentro e o que eles ainda não sabem aprendem um do outro lá.
GazetaMT - A saída seria incluir esses jovens, como a igreja está sugerindo na Semana Social aqui em Rondonópolis?
Padre Gunther - O Governo, o Estado tem que promover políticas públicas para incluir os jovens. O que o Governo faz para a juventude? Nada. A escola está de mal a pior. Aos sábados e domingos elas fecham, e quê possibilidade de ocupação os jovens têm? Eles precisariam encontrar um lazer positivo, como o futebol ou um esporte qualquer em que se sintam ocupados. Não há atividades esportivas, culturais, não há nada para os jovens. E, principalmente, precisaríamos providenciar trabalho para esses jovens. Mas eles não podem trabalhar, o Estatuto da Criança e do Adolescente não deixa eles trabalhar... Então, falta bom senso. Eu penso que a Semana Social quer que a sociedade comece a refletir sobre tudo isso. Que comece a formular a sua própria opinião e não simplesmente repita o que as televisões falam. Precisamos pensar melhor, analisar melhor o que é e o que não é. E daí encontrar um caminho mais acertado.
Gazeta MT - Esse é objetivo do fórum de palestras sobre a redução da Maioridade Penal e a inclusão dos jovens', previsto para acontecer durante a Semana Social?
Padre Gunther -A comunidade de Rondonópolis, a sociedade terá a oportunidade de refletir. Precisamos despertar uma consciência crítica. Que cada um não só diga se é preciso reduzir a maioridade penal, mas saiba explicar o porquê. Queremos discutir as justificativas, ponderá-las, analisando qual tem maior peso. É importante ter uma opinião própria, ser capaz de dar razão ao que pensa.
GazetaMT - O senhor considera que se envolver nessa discussão é uma necessidade cristã?
Padre Gunther - Nós como cristãos vivemos a serviço das pessoas e o Evangelho nos manda levar para dentro da sociedade os ensinamentos de Jesus. No evangelho de Mateus há a regra de ouro que diz que devemos tratar o outro como gostaríamos de ser tratados. Acho que o Evangelho, a nossa fé, nos leva para dentro da comunidade. À transformar essa sociedade de acordo com a vontade de Deus, segundo os ensinamentos de Jesus.
GazetaMT - Porque a Igreja parou de realizar o Grito dos Excluídos, que costumava ser realizado dentro da Semana Social, no dia da Independência?
Padre Gunther -Não vai ter mais porque achamos que é melhor fazer uma coisa diferente, variar. Estamos querendo alcançar mais pessoas. No Grito dos Excluídos todo mundo sabia e participava, mas não queremos só gritar. Queremos fazer algo mais positivo, propor soluções.
GazetaMT - Qual é a expectativa da Igreja Católica com esta semana social aqui em Rondonópolis?
Padre Gunther -Olha, nós esperamos muita coisa. Mas penso que o principal é que depois todos continuem falando entre si sobre o que escutaram e falaram durante esta semana. Que troquem experiências, conversem e, com o tempo, ajudem a reforçar nossas atividades. Que tenhamos mais gente nos ajudando nas atividades sociais já em andamento e, ao mesmo tempo, que descubram coisas novas que ainda não estamos fazendo. Que possamos sempre prestar um serviço social melhor.