IMPROVISADO

Morador da Praça dos Carreiros quer uma casa

Uma barraca de lona na Praça dos Carreiros é o lar que abriga Orvain de Oliveira, o Índio, há mais de um ano.

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23 de Janeiro de 2017, 15h34

Morador da Praça dos Carreiros quer uma casa
Morador da Praça dos Carreiros quer uma casa

O descendente da etnia Carajás, do Amazonas, tem 48 anos de idade e há 40 está 'no trecho', como ele conta, e conhece praticamente o Brasil inteiro. "Moro nas ruas mesmo, gosto dessa liberdade, mas já começo a sentir o peso da idade e as reações do tempo no corpo. Hoje eu tenho problemas de saúde e está na hora de ter uma casa pra morar".

O aposentado garante a sobrevivência fazendo artesanato e cuidando de lojas durante à noite. No quarteirão entre e as Avenidas Amazonas e Marechal Rondon, na Dom Pedro, a responsabilidade de guardar as lojas é de Índio.

Índio não quer morar em instituições. Foto: Luan Dourado/GazetaMTO morador de rua não está sozinho nessa aventura no centro de Rondonópolis, a companheira Dalila, a cadelinha que está com ele desde que nasceu, é também a guardiã do barraco. "Nós somos dependentes um do outro. Dalila é minha amiga, minha guarda, minha companheira. É com ela que a saudades da minha família fica mais suave, tenho irmãos que não vejo há 35 anos", conta Índio.

Orvain fez outras amizades nas ruas e hoje conta com os mototaxistas que têm ponto na Praça dos Carreiros. "Eles são companheiros e me socorrem quando preciso. Tenho também 40 pombos que vivem aqui e são meus amigos". E para comprovar a amizade com os pombos, Índio chamou o bando que em poucos instantes pousou em frente ao barraco.

O morador de rua já está em Rondonópolis há mais de dois anos e gosta daqui, mas tem reclamações sobre a estrutura da cidade. "Nunca vi uma cidade sem banheiros em Praças. Aqui mesmo tem um banheiro químico que está fechado com cadeado, nem sei porque tem se ninguém consegue usar. Eu tomo banho e lavo minha roupa em uma torneira aqui da Praça, vou levando do jeito que dá".

Índio criou uma estrutura na Praça dos Carreiros, mas diz que na época de chuva é bem complicado. "Já fui parar no PA algumas vezes, tenho sérios problemas de saúde por morar nas ruas. Está na hora de ter uma casa, eu estou cansado. O pessoal da Assistência Social passou aqui, mas a proposta é me internar nessas casas de pessoas doentes. Não sou doente, sou um trabalhador e não quero viver em uma casa de doentes. Gostaria de ter minha casa", conta Índio.

Secretária diz que o caso é sério. Foto: Luan Dourado/ GazetaMTA secretária de Promoção e Assistência Social Márcia Ferreira de Pinho Rotilli, disse que a situação desse morador da Praça dos Carreiros precisa ser bem trabalhada. "Na verdade ele não tem cadastro na Secretaria de Habitação para ser beneficiado com uma casa. Outra questão é que encaminhamos equipes de atendimento para oferecer alternativas, como encaminhamento para o Albergue ou outras instituições. Mas não conseguimos um acordo".

O direito de ir e vir, direito de morar na rua, além da origem indígena, garantem ao morador em situação de rua a permanência na Praça, até que a Secretaria encontre outra solução para o caso, sem ferir leis. Enquanto isso, Índio vai convivendo com os pombos e a com a cadelinha Dalila no centro de Rondonópolis.