LAVA JATO

FHC pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht para ajuda em campanha de tucano no MT

Em 2010, Antero Paes de Barros perdeu as eleições que disputou no estado de Mato Grosso pelo PSDB

por GazetaMT

07 de Junho de 2018, 07h49

FHC pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht para ajuda em campanha de tucano no MT
FHC pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht para ajuda em campanha de tucano no MT

Uma troca de mensagens entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e Marcelo Odebrecht foi anexado a uma ação penal da Lava Jato que investiga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas mensagens, Fernando Henrique pede doações para a Odebrecht. A reportagem foi exibida ontem pelo Jornal Nacional.

A ação penal trata do suposto pagamento de propina da Odebrecht para Lula por meio da compra de um apartamento e de um terreno que abrigaria a sede do Instituto Lula. O ex-presidente Lula nega qualquer irregularidade.

O laudo foi solicitado pela defesa de Lula para encontrar o conteúdo de e-mails que estavam no computador de Marcelo Odebrecht. A defesa tinha apenas os cabeçalhos das mensagens.

Num dos e-mails, de 13 de setembro de 2010, Fernando Henrique, na época já na presidência de honra do PSDB e sem cargo público, escreve: "Caro Marcelo, recordando nossa conversa em jantar de outro dia, envio-lhe um SOS: o candidato ao Senado Antero Paes de Barros ainda está em segundo lugar, porém, a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo dados bancários". Fernando Henrique indica um número de conta de campanha para o depósito.

Logo depois, Marcelo Odebrecht responde a FHC:

 "Estou fora até amanhã. Mas até quarta dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois, aproveito e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos".

No dia seguinte, Marcelo volta a escrever para Fernando Henrique:

 "Já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentarem um balanço".

Uma semana depois, 21 de setembro de 2010, Fernando Henrique envia nova mensagem, com o título "o de sempre".

FHC escreve: "Estimados amigos, desculpem a insistência e nem mesmo sei se já entenderam o que já lhes pedi. Mas olhando o quadro geral há dois possíveis senadores que precisam de atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará".

Fernando Henrique prossegue: "Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso da verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito".

Marcelo Odebrecht responde ao ex-presidente, no dia seguinte:

 "Já contatamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apoiá-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar".

Nas trocas de mensagens, não há menções a valores de doações nem a confirmação efetiva de que as doações foram feitas pelo grupo Odebrecht.

Em 2010, Antero Paes de Barros perdeu as eleições que disputou no estado de Mato Grosso pelo PSDB. Já o tucano Flexa Ribeiro foi eleito no Pará. Nas prestações de contas dos dois à Justiça Eleitoral não constam referências a doações da Odebrecht.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não é investigado na Lava Jato. 

O que dizem os citados

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que pode ter feito o pedido para Marcelo Odebrecht, mas reforçou que eram legais. Fernando Henrique disse ainda que não se recorda se as doações foram feitas, mas que elas não se deram em troca de nenhuma decisão dele, já que na época não ocupava cargo no governo.

O senador Flexa Ribeiro e Antero Paes de Barros, atualmente sem partido, disseram que desconhecem a troca de e-mails e que as campanhas deles em 2010 não receberam qualquer contribuição da Odebrecht.

A direção do PSDB disse que desconhece os supostos pedidos e que defende rigor no cumprimento da legislação eleitoral.

A Odebrecht voltou a declarar que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, e implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes.

A defesa de Marcelo Odebrecht declarou que os e-mails são autoexplicativos e se referem a pedidos que sempre foram normais e comuns por parte de políticos.