OPERAÇÃO LAVA JATO

Busca e apreensão em Rondonópolis mira Juscelino Dourado, amigo íntimo de ex-ministro Palocci

por Robson Morais

26 de Setembro de 2016, 15h05

Busca e apreensão em Rondonópolis mira Juscelino Dourado, amigo íntimo de ex-ministro Palocci
Busca e apreensão em Rondonópolis mira Juscelino Dourado, amigo íntimo de ex-ministro Palocci

Na 35ª fase da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), foram presos o ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma e da Fazenda no governo Lula, Antônio Palocci (PT), Branislav Kontic e Juscelino Antônio Dourado. Este último, reconhecido proprietário de uma fazenda avaliada, no ano de 2012, em R$ 26mi localizada a 27 km de Rondonópolis.

Na época que adquiriu a fazenda, Dourado era diretor executivo do Instituto Estre de Responsabilidade Socioambiental. Com Palocci mantinha -e ainda mantém- uma forte relação de amizade e chegou a trabalhar com ele durante mais de 10 anos. O ex-ministro foi afastado após denúncias de envolvimento em corrupção.

Juscelino era ex-secretário da Casa Civil nos tempos de Palocci. Chegou a ser chefe de gabinete do ex-ministro em Ribeirão Preto (SP), na época prefeito da cidade paulista. Acabou envolvido em escândalos e virou depoente na CPI dos Bingos.

A Fazenda

Sobre a compra da propriedade, a reportagem do GazetaMT  repercutiu o caso. A negociação, na época, ganhou visibilidade nacional justamente pela relação entre Juscelino e Palocci.

A Fazenda Dora Paulicéia pertencia à empresária Dora de Castro e está localizada no KM 15 da MT 130, rodovia que liga Rondonópolis a Poxoréo. A fazenda é fruto da divisão de uma das propriedades mais antigas e famosas de Rondonópolis - a AL Paulicéia, considerada referência na criação de nelore no Brasil. A outra propriedade criada após a divisão foi a Chic Paulicéia, de Francisco Olavo de Castro, o 'Chico da Paulicéia'.

Prisão

Palocci, Juscelino e Branislav chegaram ao aeroporto de Curitiba (PR) no avião da PF, após serem presos em São Paulo. Juscelino era ex-secretário da Casa Civil e Branislav atuou como assessor na campanha de Palocci em 2006.

Ainda na tarde desta segunda-feira (26), os investigados devem passar pelo exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba. O procedimento é padrão logo depois da prisão. Até a publicação desta reportagem, não havia horário definido para o exame.

As três prisões são temporárias e têm prazo de validade de cinco dias. Depois disso, podem ser prorrogadas pelo mesmo período ou convertidas em prisão preventiva, que é quando o preso fica detido por tempo indeterminado.

Nesta segunda, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decretou o bloqueio nas contas bancárias dos três. O valor do bloqueio é de R$ 128 milhões para cada uma das contas.

Suspeitas de propina

A 35ª fase da Operação Lava Jato apura a relação entre o Grupo Odebrechet e o ex-ministro Antonio Palocci. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), há evidências de que Palocci e Branislav receberam propina para atuar em favor da empreiteira, entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal.

Ainda conforme o MPF, o ex-ministro também participou de conversas sobre a compra de um terreno para a sede do Instituto Lula, que foi feita pela Odebrechet.

As suspeitas sobre Palocci surgiram na delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele disse que, em 2010, o doleiro Alberto Youssef lhe pediu R$ 2 milhões da cota de propinas do PP para a campanha presidencial da ex-presidente Dilma Rousseff. O pedido foi feito por encomenda de Palocci, conforme o MPF. Youssef está preso na PF em Curitiba e já foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.

O que diz o suspeito

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, disse que a Operação Lava Jato "parece um espetáculo". "O show tem que continuar. O circo tem que continuar", afirmou. Ele também estranhou o fato de o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ter anunciado no domingo (25) que haveria Lava Jato nesta semana.

"O fato de ele anunciar em um encontro do PSDB que haverá novas diligências não é estranho. Aécio [Neves] denunciado, Anastasia denunciado, Serra. Por que será [que anunciou no evento]?" Para Batochio, "as liberdades constitucionais foram sequestradas em Curitiba". "Ninguém faz nada. Um silêncio absoluto", disse.

"Não sabemos a acusação, pois ela é até o presente momento absolutamente secreta ao melhor estilo da ditadura militar. Você não sabe de nada, não sabe o que está sendo investigado, um belo dia batem à sua porta e o levam. De modo que nós estamos voltando ao velho tempo do autoritarismo, da arbitrariedade. Qual a necessidade de se prender uma pessoa que tem domicílio certo, que é médico, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as informações quando for intimado. É por causa do espetáculo?", questionou Batochio.

 

Com informações do G1