RONDONÓPOLIS

Médicos da Santa Casa anunciam demissão em massa, informa jornal local

Profissionais estão há cinco meses sem receber salários. Hospital filantrópico sofre com falta de repasses do Governo do Estado

por De Rondonópolis - Robson Morais

16 de Janeiro de 2019, 15h41

Médicos da Santa Casa anunciam demissão em massa, informa jornal local
Médicos da Santa Casa anunciam demissão em massa, informa jornal local

Com os serviços paralisados desde o dia 7 de dezembro, devido aos salários atrasados há meses, médicos que atuam na Santa Casa de Misericórdia de Rondonópolis anunciam para o próximo dia 2 de fevereiro um pedido de demissão em massa. A informação foi manchete da edição de hoje, 15, do jornal local A Tribuna. A reportagem é assinada por Patrícia Cacheffo.

Desde o início de dezembro, a maior parte dos serviços hospitalares deixou de ser prestada à população, restante apenas atendimentos de urgência e emergência. Na época, o site GazetaMT trouxe detalhes do caso. Veja abaixo.

Na reportagem do A Tribuna, consta como exemplo a informação de médicos da obstetrícia e ginecologia, cujo último salário fora depositado parcialmente em julho. Desde então, nada mais de pagamento. "Com a paralisação dos serviços, as gestantes já enfrentam muita dificuldade para receber atendimento, tendo que recorrer as unidades de saúde e a UPA 24 horas. Na Santa Casa, apenas casos graves são recebidos e, caso não aconteça um acordo com os médicos, a situação deve se agravar ainda mais para as gestantes da região" alerta a publicação.

O novo secretário de Estado de Saúde, Gilberto Figueiredo, em entrevista concedida para a imprensa da capital, admitiu que há atrasos do Estado para com a Santa Casa de Rondonópolis em torno dos R$ 4 milhões. Desde que assumiu a Secretaria, ele ainda não assinou nenhum pagamento porque não há recursos disponíveis.

O texto denuncia, ainda, dificuldades em obter respostas da Santa Casa, situação vivida por outros veículos de imprensa da cidade, inclusive o GazetaMT. "Questionamos qual o valor total do atraso, total de meses sem repasses e referente a quais serviços prestados; quais serviços SUS estão paralisados no momento e também se havia realmente o comunicado do pedido de desligamento dos médicos. Não obtivemos resposta para nenhuma dessas perguntas (...) Ontem (15) voltamos a questionar a diretoria do hospital sobre a situação, lembrando que a entidade recebe recursos SUS, ou seja, dinheiro público, e que por isso é necessário prestar esclarecimentos para a população, que paga impostos, mas novamente não obtivemos reposta" diz.

Reportagem publicada pelo GazetaMT em 20/12/18

Há doze dias, médicos da Santa Casa de Rondonópolis seguem atendendo apenas casos de urgência e emergência nas dependências do hospital filantrópico. Eles cobram o pagamento dos salários, atrasados, segundo afirmam, há cinco meses.

Os repasses são de competência do Governo Estadual. O montante da dívida, calcula-se, utrapassa a casa dos R$ 3 milhões.

Disse o Corpo Clínico

Em nota datada do dia 5, o Corpo Clinico confirmou o tempo de atraso no repasse  e comunicou à diretoria a decisão de suspender os serviços.  Sem a regularização dos débitos, não está descartada a paralisação nos demais atendimentos. Abaixo a nota:

"Conforme é de conhecimento da diretoria, na dada de ontem, dia 4 de dezembro de 2018, às 18h horas, o corpo clinico deste hospital reuniu-se em assembleia extraordinária no intuito de discutir e deliberar sobre o funcionamento de todos os serviços prestados aos clientes do SUS, tendo em vista a enorme dificuldade de manutenção de tais atendimentos e cobertura das escala de plantões considerando 5 meses sem receber os devidos pagamentos. Tal assembleia, após discutir o assunto com as diversas especialidades, evidenciou ser uma situação insustentável, e que já está impactando em algumas especialidades as quais não conseguem completar suas escalas de plantonistas para atendimento dos clientes SUS. infelizmente trais atrasos estão inviabilizando a manutenção destes serviços de atendimento ao SUS. Portanto os serviços eletivos serão suspensos permanecendo os atendimentos urgência/emergência e para as unidades que se encontram com pacientes -unidade de terapia intensiva. Estas terão os serviços suspensos gradativamente, sem que haja prejuízo para aos pacientes que encontram-se internados".  

Resposta

Em resposta, no dia 7, a diretoria da Santa Casa emitiu nota de esclarecimento e frisou: "é público e notório as dificuldades financeiras vivenciadas pela Santa Casa de Rondonópolis nos últimos meses, em razão dos recorrentes atrasos por parte do Estado".

Em novo documento, datado do dia 18, a diretoria informa: "Em relação as pendências financeiras, o valor de R$ 3.262.563,85, pendentes até a competência 10/2018, não houve avanços, entretanto está sendo gerado todo esforço inclusive com o apoio de políticos, Prefeitura de Rondonópolis e demais autoridades para encontrar uma solução emergencial a fim de minimizar os impactos a nossa população".

O documento segue: "Porém, o maior desafio é em relação a um pacto feito com o Governo do Estado em 2015 para sanar o déficit dos hospitais filantrópicos, que para a Santa Casa Rondonópolis esse valor atualizado até 07/2018 gera um valor negativo de aproximadamente 13,5 milhões de reais".

Outros atrasos

Ainda na mais recente nota, a diretoria da Santa Casa comunica outros atrasos: "Além deste valor, em 06/2017 o Governo do Estado reduziu o valor das diárias das UTIs, gerando um impacto negativo de 3,5 milhões de reais.

Outro fato relevante é o atraso nos repasses, sendo que os atendimentos de Média e Alta Complexidade - MAC, estão incompletos desde maio 2018.

Tudo isso somado explica o atraso no pagamento dos médicos e fornecedores. Temos conseguido manter o atendimento até então devido a créditos das instituições financeiras", finaliza.

R$23 milhões

Entre janeiro e junho de 2018, a Santa Casa de Rondonópolis recebeu um aporte financeiro de quase R$ 23 milhões (R$ 22.197.321,83). Os recursos destinados pelos governos Federal, Estadual e Municipal, tem custeado os diversos serviços prestados pelo hospital filantrópico. Na UTI, ainda fechada, os valores se aproximam dos R$ 5 milhões (4.479.900,78).

A pedido da reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde -SES e o Fundo Municipal de Saúde de Rondonópolis -responsável final pelo repasse ao hospital- detalharam os custos. Do Estado, o repasse mais recente, feito ao fundo, ocorreu em 31 de julho, somando R$ 853,6 mil.

Este montante faz parte de uma destinação conjunta feita pelo Estado, conforme consta em Portaria do Dia 26 de julho de 2018. Ao todo, R$ 7.055.839,76 foram repassados os hospitais de Mato Grosso a título de incentivo e complementação financeira para melhorias dos serviços aos usuários do SUS.

Nesta semana, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que repassou cerca de R$ 3 milhões para o Fundo Municipal de Saúde entre os meses de agosto e dezembro e que aguarda o repasse da Secretaria Estadual de Fazenda para fazer o pagamento dos serviços da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa, referente ao mês de setembro.