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Infectologista explica por que é tão difícil eliminar o Aedes aegypti

Foram registrados 1.393.062 casos prováveis da doença desde o início do ano

por Da redação com R7

15 de Novembro de 2019, 12h00

Infectologista explica por que é tão difícil eliminar o Aedes aegypti
Infectologista explica por que é tão difícil eliminar o Aedes aegypti

Foto: Reprodução

O que mudou desde que o primeiro caso de dengue foi notificado na capital paulista há 20 anos? A doença que parecia "sob controle" naquela época tem se revezado em anos de baixa e alta incidência. Segundo o último informe epidemiológico do Ministério da Saúde, de 8 de agosto, foram registrados 1.393.062 casos prováveis da doença desde o início do ano.



Mas por que mesmo após tantos anos não foi possível controlar a dengue? Para o médico infectologista do Hospital da PUC Campinas, André Giglio Bueno (CRM/SP:150082), o principal motivo para a manutenção da ocorrência da doença no Estado ao longo desses 20 anos é a nossa incapacidade de combater de forma efetiva o principal vetor, o mosquito Aedes aegypti. "Devido à excelente adaptação desta espécie ao ambiente urbano e com uma grande oferta de potenciais criadouros, naturais ou artificias, é muito improvável que o Brasil consiga novamente erradicar o mosquito de seu território, assim como ocorreu na década de 1950", explica.


A solução segundo o especialista é promover um esforço em conjunto para que os níveis de infestação pelo mosquito se mantenham baixos, o que dificultaria bastante a ocorrência de grandes epidemias. "Para isso são necessárias ações programáticas contínuas dos governos em todos os níveis, para monitorar esses indicadores, articular e promover as ações de combate ao vetor. Além, é claro, da conscientização dos indivíduos e da percepção do papel de cada um neste combate, cuidando do ambiente em que vive e eliminando potenciais criadouros", sugere.

Vírus versus vacina

O infectologista esclarece que outro fator fundamental é o próprio vírus. "Já que existem quatro tipos de vírus da dengue, isso dificulta o desenvolvimento de boas vacinas e também cria condições para que sempre existam quantidades consideráveis de suscetíveis à doença, uma vez que o tipo de vírus predominantemente circulante muda ao longo dos anos. A introdução de um novo sorotipo ou a reemergência de um sorotipo sem circulação recente em determinada cidade ou região tem o potencial de provocar grandes epidemias justamente pelo fato de encontrar um grande número de suscetíveis, ou seja, pessoas sem proteção específica contra aquele determinado sorotipo. Outra preocupação decorrente da circulação de um novo sorotipo é também um maior risco de ocorrência de casos graves. Se um indivíduo que já teve dengue no passado é infectado por um sorotipo diferente do anterior, este segundo episódio tem um maior potencial de evoluir para formas mais graves", esclarece.

Diagnóstico

Atualmente, existem dois testes laboratoriais para detectar a doença. "Um teste para detecção de antígeno, um 'fragmento do vírus', que é utilizado para diagnóstico nos primeiros dias da doença, enquanto ainda há viremia, ou seja, circulação do vírus pelo sangue. O outro teste realiza a detecção de anticorpos contra o vírus, de modo que a coleta da amostra de sangue para sua realização deve ser feita somente após o sexto dia de doença. O problema maior se dá nas epidemias, quando, devido ao número elevado de casos, não há capacidade laboratorial instalada para o processamento de tantas amostras, fato que obriga os departamentos de vigilância a finalizarem as notificações sem qualquer exame confirmatório, restando como opção a confirmação por 'critério clínico-epidemiológico', algo bastante desconfortável para o próprio paciente e principalmente para os colegas que estão na assistência, uma vez que em diversas localidades do país o raciocínio clínico de um paciente com suspeita de dengue envolve uma série de diagnósticos diferenciais (zika, chikungunya, leptospirose, malária, febre maculosa brasileira, entre outros) alguns com tratamentos e manejos específicos", observa André Giglio Bueno.