"TOLICE"

Classe empresarial questiona decisão de “lockdown” aos sábados e domingos anunciada em coletiva

Prefeito José Carlos do Pátio comunicou fechamento de estabelecimentos comerciais nos finais de semana; para empresários, medida não favorece no combate ao Covid-19

por Robson Morais - De Rondonópolis

03 de Junho de 2020, 13h39

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Parte da classe empresarial de Rondonópolis se manifestou contrária ao pronunciamento dado em coletiva de imprensa pelo prefeito José Carlos do Pátio na manhã desta quarta-feira (3). Representantes de setores como o do comércio argumentam que o novo fechamento dos estabelecimentos aos finais de semana não terá impacto prático no combate à pandemia do novo coronavírus no município. A determinação foi confirmada pelo prefeito.

Um novo decreto municipal deverá ser publicado amanhã (4). Segundo o adiantado pela coletiva de imprensa, todos os estabelecimentos comerciais de Rondonópolis e atendimentos ao público deverão suspender as atividades aos sábados e domingos, com exceção, apenas, de farmácias e unidades de saúde. Nem mesmo setores tidos como essenciais, como supermercados e postos de combustíveis, poderão funcionar.

A notícia gerou indignação por parte dos empresários. “O que vai acontecer é a aglomeração de pessoas nos estabelecimentos já na sexta-feira. Sabendo do fechamento no fim de semana, a correria poderá ser um problema, e em nada vai revolver o problema”, disse à reportagem um empresário. “Nós fechamos, perdemos renda, enquanto a população se prepara para fazer festas, burlar a segurança e se aglomerar em eventos e cachoeiras”, completou.

Outro empresário argumenta: “A decisão é uma tolice, fechar no final de semana só vai fazer aumentar as festas clandestinas. Infelizmente, as pessoas não ficam dentro de casa. Mudar o horário e manter o atendimento poderia ser mais eficaz”.

"Falta de representatividade"

Os empresários reclamem, ainda, de não terem sidos aceitos pela Prefeitura para nomear um representante do setor junto ao Comitê de Gestão de Crises, formado, atualmente, por especialistas na Saúde, vereadores e demais indicados pelo Poder Executivo Municipal. “Tem muita gente querendo se aparecer, se aproveitando deste momento e dando este tipo de solução para um problema tão complicado”, afirma outro. “Infelizmente, tudo isso está acontecendo porque não há ninguém dos setores produtivos para orientar o Comitê. As festas vão acontecer porque simplesmente não tem fiscalização. Fechar o comércio não vai resolver o problema, até porque nós já não estamos vendendo, quanto mais aglomerando pessoas. Já não temos clientes, nem condições de ampliar o funcionamento durante a semana”, comenta outro empresário.

Culpabilização do comércio

Em maio, entidades empresariais encaminharam um Ofício (nº 084/2020) ao Poder Executivo Municipal de Rondonópolis -secretaria municipal de Saúde e Comitê de Gestão de Crises-. O documento visa evitar a culpabilização de lojistas e demais empresários por conta do aumento recente de casos da Covid-19. “Vale ressaltar que as empresas estão seguindo as normas de higiene e segurança e cobrando dos seus clientes que as sigam também, lembrando que diante do descumprimento destas a empresa será única prejudicada com multas ou até mesmo a suspensão de funcionamento. Tal situação vale para as recomendações nos decretos municipais e também perante a Lei Estadual 11.110 que estabelece o uso obrigatório de máscaras para todos que adentrarem nos comércios sob pena de pagamento de multa de R$ 80,00”, diz trecho do documento.

“As empresas, principalmente do comércio local, estão organizadas e trabalhando dentro das normas, sendo inclusive elogiadas pelos integrantes deste comitê em “lives” pela obediência aos decretos. Não seria justo, que o fechamento do comércio acontecesse neste momento de retomada consciente da atividade, sendo que nestes estabelecimentos, apesar da fiscalização, não houve multa nem sanção. Se houve, não chegou ao nosso conhecimento”, segue o Ofício.

Aglomeração

A solicitação feita pelas entidades quanto à intensificação das ações fiscalizatórias corrobora fatos já evidenciados pelo próprio Poder Público, além da imprensa. “Neste sentido, sugerimos mais rigor na cobrança no uso de máscara e distanciamento social aos transeuntes com fiscalizações de conscientização pela Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, assim como fiscais da Vigilância Sanitária, pois tal prerrogativa consta no Art. 14 do Decreto 9.480 de 16 de abril de 2020”, diz. “As pessoas estão frequentando bares que estão vendendo bebidas alcoólicas nos bairros, jogando futebol em campos privados, fazendo festas em residências, rodas de conversa em calçadas, festas em chácaras e mesmo pessoas e grupos passeando sem máscaras em vias públicas. Sem nenhum constrangimento ou abordagem desobedecemas prerrogativas da Organização Mundial de Saúde e os decretos para contenção da pandemia. É necessário que elas parem e com urgência e no nosso entendimento isso aconteceria com fiscalizações. O município poderia criar um disque-denúncia para que infratores sejam denunciados”.